E não saí das páginas…
Espalmada nelas converti-me em tempo narrativo, encolhida no espaço das histórias que ficam por contar.
Arredondei-me no volume das personagens e na gramática dos monólogos surdos.
Diálogos, sonhava-os, mas era se soubesse com que palavras se constrói a trama das histórias felizes.
Nos arabescos das aves podia estar o código por desvendar se não tivesse a certeza de que tudo é simbologia.
Heróis? Só nas histórias antigas, dentro dos livros de fadas; mas os episódios são sempre interrompidos pela focalização em outras realidades, as cruas, aquelas que não têm sequência narrativa, por mais que se queira aligeirar o desenlace.
E a acção tem um nome que é sempre o nome de outro nome; às vezes promessa sob um nome, sob a palavra que se pronuncia. Como se tudo tivesse um rosto visível e outro escondido. Pronuncia-se amor e é hábito que se diz. Diz-se o nome à espera que ele se converta na imagem de desejo.
E o que se deseja? Que o rosto visível das coisas seja a satisfação do desejo oculto.
Diz-se Primavera aguardando flores e pássaros na paisagem; e se as pétalas voam fica-se sem saber se eram as aves ou se era apenas o cheiro a rosas, sem as rosas. Figuração.
Um nome é sempre um nome de outro nome: se digo “eu” posso estar a anular a existência porque é do outro que falo; hábito de dizer e deixar escondido o que não ousa ser dito ou sequer pensado. Todo o pensamento ultrapassa a competência narrativa.
E no entanto há um desconforto no pensar, um subtítulo mal enunciado em cada coisa.