
Às vezes faltam-me as palavras; outras vezes, muitas vezes, ficam presas na garganta, à espera de voz que as pronuncie.
Sem voz é mais fácil porque elas saltam e soltam-se.
Por estes dias há uma palavra que me tem faltado – TEMPO – ou antes, não é a palavra mas o espaço para a pronunciar, sendo esse espaço uma coisa materializada na cadência dos ponteiros do relógio. É do tempo cronológico que falo. O outro, o que se mede em função de mim própria e dimensiona a minha realidade, costuma ser um fluxo continuamente instalado na memória a levar-me para trás; e depois traz-me de volta.
É essa a razão de me ter mantido entre a folhagem, relativamente escondida dos olhos alheios. Pelo menos aqui neste espaço, porque a realidade está virada de frente para mim e eu para ela. Seja então o dia um confronto.
E aqui estou articulando palavras escritas, ao som das teclas; dialogando com uma folha de papel virtual que amanhã se apresentará como real aos olhos de quem por aqui passa.
E vou, já de seguida, atrás dessa realidade que me faz fechar os olhos. Depois volto.
É claro que podia dizer apenas “até amanhã”, mas as palavras saltaram e eu não as travei.