Tuesday, February 06, 2007

Claro que SIM...

... porque não sou marionette...

... não suporto que partidos políticos gastem o meu tempo e a minha paiência na defesa de uma posição que vem de dentro da minha consciência de cidadã e de mulher. E isto refere-se aos SINS e aos NÃOS, obviamente, que em campanha todos se valem dos seus argumentos e quando não os têm pedem-nos emprestados a outras organizações ou pseudo-não-sei-quê... que apetece embrulhar em papel de jornal e mandar para o lixo.

Há muito dinheiro envolvido numa coisa que mais se assemelha a um fait-divers, enquanto outras coisas vão sendo feitas e lançadas em letra de lei, sem que ninguém se apoquente muito.

Ah pois é... a próxima década vai ser de muito desemprego, de muita depressão (não, não é económica, que há por aí muita gente servida de sertralina, fluoxetina e outras "inas" nos bolsos), de muitas famílias desentendidas (casa em que não há pão... ), de muitas limitações às nossas liberdades (talvez não se pense muito nisso... logo se vê... e a ver vamos...)
Nem me apetecia voltar a mencionar o assunto aqui neste espaço. Mas há circunstâncias em que não percebo as pessoas...
... bem sei que tenho de aceitar e respeitar, mas ao menos que me apresentassem argumentos significativos. Como este ou este. Vale a pena ler estas "histórias" e reflectir.

Sou mulher e já vivi o suficiente para saber que há argumentos que não convencem ninguém. E antes de ser mulher sou um ser humano pensante e sou também muito ciosa da minha liberdade individual.

EU VOTO SIM ao direito de decidir sem ser punida por isso.

21 comments:

Maria Arvore said...

É que tão simples como isso: o direito de decidir, de pensar, sem se ser punido por isso.

Bastet said...

Eu peço desculpa de me intrometer ainda por cima com uma posição retrógada e obscurantista mas não resisto:

Caro Pirata- Vermelho: o processo de aborto continuará a ser entendido como um crime após as dez semanas!

Caríssima Maria Árvore: o direito de pensar e de decidir - ou seja a liberdade - já está defendida na nossa constituição e no nosso Estado de Direito. Mas a nossa liberdade acaba sempre quando começa a de outro.

Nas histórias que li da Didas, não pude deixar de reparar que a senhora de 51 anos abortou aos cinco meses pelo que continuará a ser punida com prisão ainda que o SIM vença. Mas, ainda de acordo com a lei vigente, com essa idade, ocorre-me que ela poderia sempre abortar com fundamento em risco para a sua saúde física e/ou psicológica. No caso da menor de 16 anos (porque terá engravidado aos 15) trata-se claramente de um caso de atentado contra a auto-determinação sexual (já previsto e protegido pela nossa Lei) pelo que poderia sempre abortar.

Lamento, mas não é assim tão simples.

Elipse said...

pois. há a visão jurídica e a visão humana e nem sempre elas são coincidentes embora estejamos, naturalmente, sujeitos a normas e bem sei que doutra forma o mundo não poderia funcionar.
mas este assunto é um rio de largo curso a abrir para um mar ainda mais vasto...

Bastet said...

É suposto a visão jurídica espelhar a visão humana ou então eu como jurista deixarei de ser humana e/ou de ser mulher? Ou não será que o feto também é humano?
As condutas humanas são variadas, subjectivas, muitas mulheres haverá com histórias difíceis, melindrosas, pungentes, como também as haverá as que recorrem ao aborto sem qualquer problema, sem qualquer peso na consciência, sem nada.
Deixará é de ser necessária qualquer excepção, qualquer justificação para se poder abortar. Passará a ser princípio que o feto deixa de ter qualquer protecção jurídica, seja a mãe vítima de uma história ou condição difícil ou não. Passar-se-á a desprotejer totalmente o feto em favor de qualquer mãe.
De resto parece-me que não é despenalizando o aborto que se combate a miséria, as deficientes condições de saúde, os lamentáveis e paupérrimos preconceitos. O Estado liberta-se, isso sim, de mais algumas das suas obrigações: a de continuar a pugnar pela informação ao nível do planeamento familiar, de dar condições de assistência aos nascituros, de ter boas instituições de apoio e de acolhimento, de dar instrução, cultura, de proteger os mais fracos.
Uma coisa que me confunde é colocar-se tudo dentro do mesmo saco: os defensores do NÂO são todos uns atrasados e os do SIM são avançados, humanos e liberais.
Com as excepções já previstas na Lei actual, ficam de fora os casos em que de facto, por questões de conforto (e calma que aqui não há recriminação!), seja ele económico, de oportunidade, cultural, ou outro, a mulher não queira ter o filho. Mas com a despenalização pura e simples, abrangem-se tanto as mulheres das histórias tristes e confrangedoras como as que encaram o aborto com facilidade, com leviandade. Ficam protegidas TODAS as mulheres ficam definitivamente desprotegidos TODOS os fetos.
É de facto, como dizes Elipse, um mar vastíssimo e por isso tanto me aborrece que, quer de um lado quer do outro, se utilizem argumentos primários tipo impostos ou histórias das eternas desgraçadinhas!

Anonymous said...

Mas as eternas desgraçadinhas existem, por muito que doa.
O Estado passa a ter como obrigação lutar para acabar com o aborto clandestino, sem ter nenhuma desculpa se o não fizer.

Mas sempre achei que nestas coisas de referendos politicos e, ou morais, ninguém convence o outro, por isso acho esréreis estes debates.
No fundo andamos (contra mim falo) a atirar argumentos uns aos outros sabendo de antemão que nunca os consiguiremos convencer.
Os indecisos? talvez!

Bastet said...

É claro que as eternas desgraçadinhas existem e para isso defendo que na aplicação casuística da Lei não haja penalização às desgraçadinhas. São dois momentos diferentes o da previsão legal e a da sua aplicação.

A partir do momento em que seja despenalizado não faz sentido falar de clandestinidade. Fá-lo-ão nas magníficas maternidades públicas se ainda as houver!

De resto não pretendo convencer ninguém só não pretendo que me rotulem a mim.

Aqui ficam as minhas sinceras desculpas à minha amiga Elipse por usar o espaço do seu blog para expôr estas minhas ideias (desumanas ;))

Bastet said...

Ou seja, Caro Pirata-Vermelho a diferença é o momento do parto. Se já pariu é infanticídio se não pariu (ainda que já possa ter viabilidade como prematuro) é uma questão médica.
Defende assim que esta questão nem sequer devia ser posta a referendo, certo?

Elipse said...

é verdade... andamos mesmo a atirar argumentos uns contra os outros... e nisso temos o dever de nos respeitar. De facto, não é forçoso que nos convençamos mutuamente mas é exactamente para os indecisos (e outros que precisam de auxiliares de opinião, sabemos que existem)que funciona uma "campanha" que me aflige pelos contornos políticos que envolve. Custa muito ver partidos políticos ou organizações religiosas ou outras de outra natureza envolvidas numa questão que não pode ser politizada.
Quanto ao direito de opinião rendo-me. E voto SIM, claro.

Anonymous said...

Li e não comento mais!

Erecteu said...

Ai minha nossa o que para aqui vai!

Bastet,
Aprecio o teu respeito pela vida dos concebidos nascituros. Não será maior que o meu.

Votarei SIM a favor da despenalização de um crime consagrado em lei morta.

Votasse eu "NÃO" e a lei morta manter-se-ia tal como as interrupções da gravidez.

Se o NÃO ganhar, a letra da lei será reforçada pela razão de uma maioria de Portugueses, que hoje se diz, consensualmente, pela despenalização, o que absurdamente propiciaria a sua aplicação.

Erecteu vota, contra a penalização, SIM pelo direito às mulheres e os seus parceiros decidirem se têm condições económicas, psicológicas e afectivas de garantirem a dignidade de vida ao filho que terão OBRIGAÇÃO de prover, até ao dia em que, eu, Erecteu, pense que o estado, que penaliza, tem a capacidade de preencher, POR INTEIRO, aquilo que eu julgo que os meus e os teus filhos têm direito.

Erecteu, beija-te uma, duas vezes.

Bastet said...

Erecteu: Concordo em absoluto com esse argumento de uma lei morta que também no meu entender deve ser revista. Não concordo com a aplicação de nenhuma pena privativa da liberdade a quem recorra ao aborto. Respeito todas as pessoas que, conscientemente e devidamente informadas, votam SIM como recrimino todas as pessoas que votam NÃO pelas razões mais atrasadas que já ouvi. Concordo com a Elipse no seu repúdio aos contornos políticos e outros que este debate tomou. Defendo um Estado que consiga prover às condições que as crianças devem ter seja ou não junto dos seus pais naturais. Só penso que a questão que está posta a referendo implica também a manutenção de uma lei mal feita e que implicará a desresponsabilização quer por parte do Estado quer por parte dos pais em muitas situações.
Deixo-te também um beijo e mais uma vez agradeço o facto de me terem lido com toda a tolerância e civismo neste espaço que é da Elipse e não meu. Quem dera os debates a que se assistiram tivessem tido estes contornos.

Elipse said...

Este espaço é de quem quiser colaborar para que se faça uma civilizada troca de opiniões e para os saudáveis cumprimentos entre amigos. :))

jorge esteves said...

...sem tropeçar nas letras porque o dizer está certo na boca e no coração!
Abraço!

Claudia Sousa Dias said...

Estou solidária contigo Elipse.

Quanto à próxima década e respectivas depressões e limitações à nossa liberdade, nem me lembres.

só de pensar já fico doente...

Beijinho

CSD

Claudia Sousa Dias said...

Bastet, deixo aqui toda a minha admiração pela coragem e lucidez com que demonstras o teu ponto de vista.

Um beijo


CSD

peciscas said...

Nâo defendo o aborto.
Mas voto Sim, por achar que essa é a opção coerente para quem pretende que, cada vez mais, essa solução tenda para zero.
Isso só se consegue, tirando esses actos da clandestinidade.

wind said...

Li com muita atenção o que escreveste, os links que colocaste e claro que voto sim.
beijos

mfc said...

Tens uma frase perfeita que tudo condensa..." o direito de pensar livremente e sem punição!"

ivamarle said...

claro que SIM!!!!!!

Anonymous said...

Valeu a pena!

Mónica said...

(n vi os links)

concordo, tudo o mais q se diga é perda de tempo

nisso e como em tudo, haviamos de poder decidir em liberdade e em consciencia