Monday, February 26, 2007

2. casa






uma vez senti que ela respirava ao meu ritmo, que se entristeciam as paredes quando eu deixava deslizar as minhas costas e os braços caídos até ficar sentada nos mosaicos sem horizonte; uma vez os degraus inverteram-se e as telhas foram chão e o céu ficou à vista; uma vez senti devolver-se o grito quando o julgava abafado no canto mais distante das ruas que me levam todos os dias para me trazer de volta ao fim da tarde; uma vez fugi e levei comigo tesouros que depois devolvi ao lugar desenhado a quatro mãos, na esperança de renovar a esperança; uma vez fiquei aqui como se fosse para sempre no espaço crescente onde ressoa o eco de passos que partem;
lá fora há um jardim que floresce em cada Primavera e eu em cada Outono morro um pouco; e, no entanto, os olhos que passam detêm-se e contemplam a beleza.

6 comments:

Anonymous said...

Relembrar custa porque custa perder e sózinhos desfolhamos as flores primaveris decorando o outono desgatado da vida.
Mas....................................... toma lá um abração.

jorge esteves said...

As memórias, tal como a Vida, custam isso mesmo: é sempre preciso morrer um pouco... para renascer outra vez!
Abraços!

Erecteu said...

Quatro dias sem te sentir. Mais um e fazia uma birra.
"Voltaste" e bem!
The house of the rising sun! A menina dança?
Beijinhos

~pi said...

olhos dentro doutros olhos...sempre!

(de ausência e de ternura
os olhos da memória também já construída...)

beijo

Claudia Sousa Dias said...

:-)


CSD

ivamarle said...

por vezes o que falta para a paz de espírito, é distância...