Thursday, June 15, 2006

palavras elípticas

Também gosto de andar às voltas com o começo das coisas sendo que o fecho delas se me avizinha sempre perto, muito perto, sem que eu o possa ou queira adiar.
Começo todos os dias uma história mas nem sempre quero ou desejo dar-lhe a continuidade que podia levá-la ao final feliz. Continuidade lembra que é preciso voltar aos lugares do passado, mas é daí que chegam os ecos do desconforto.

E era preciso, sim. A omissão dos ecos gera coisas descontínuas mas a recusa em ouvi-los é visceral; o confronto com as palavras pronunciadas esmaga o bem estar e faz estremecer a estrutura vertebral da sequência.

Gostava – penso que gostava – de ter uma história para contar que fosse uma história verdadeira, tanto quanto a verdade pode ser alcançável (ou fiável?); mas para isso teria de a contar a várias vozes e o exercício é duro para duas mãos apenas. O labor das mãos não vence o ardil das vozes, não lhes desvela o assombro, não as aceita na desconstrução dos enredos. Sobra, pois, a circularidade elíptica oculta no esconderijo da dissimulação e na discrição dos gestos.

Estou cansada de começos; e de arredondar as linhas rectas ao sabor dos crepúsculos, aguardando as madrugadas para inverter o curso linear das construções.

10 comments:

wind said...

Completamente estupidificada com o que escreves e como o fazes.
Os teus enigmas elipticos são desconcertantes:)
Até para quem gosta de matemática, porque para aqui ela não interessa nada, o que interessa é o sentir e esse deixa-me completamente à toa quando te leio.
Falas de ti e quem sou eu para me meter?:)
beijos

mixtu said...

inverter o curso linera...
vale a pena
besitos

K. said...

Escreves de uma maneira tão bonita, essa geometria latente nas tuas palavras que giram num plano oblíquo em relação à realidade...

Anonymous said...

Não sei o que dizer-te. Fiquei completamente baralhada, porque é ou são enigmas do sentir de cada um. Para mim, cada dia é "o começo de uma história" cujo final é indecifrável, como indecifrável é o porquê do passado e tudo isto numa única base: "gostaria"!
Foi o que senti a ler-te!
Beijos sinceros

mfc said...

Um dizer sem dizer, um sentir com sentido, um futuro que se quer adivinhado sem resquícios do passado.

Politikus said...

Gostei da confusão sentida pela tua escrita...

jp(JoanaPestana) said...

e que tal, escrever a história sem andar às voltas? a verdadeira como quem não vai dar a ler, sem arrazoados conscientes que te fecham?
e depois...se te apetecer guardas, ou deixas aparentemente esquecida na mesa da entrada ;-)

ivamarle said...

dói mais escrever o que nos é verdadeiro, do que uma mera ficção por mais ângulos agudos que tenha; temos memórias a vaguear que têm vergonha de ser sequer pronunciadas, quanto mais, escritas; a realidade é sempre mais dura que a ficção...

Anonymous said...

é isso ivamarle e como tal a minhas palavras elípticas:):)

CICLOS

A vida feita de ciclos, é apertada
por laços que nunca se afastam
uns mais belos, outros nem nada
diferentes nos dias que passam!

Amarelos, azuis, vermelhos e rosas
não há dias nem cores iguais
se pudesse, seriam mais vistosas
num acreditar, tão fundamentais!

Mas o tempo teima em desbotar
as cores que sempre vislumbrei
mas não deixo de lutar e sonhar
por tudo aquilo que sempre amei!

Coisas simples d'uma vida complicada
d'um já longo novelo de mil e uma pontas
d'optimismo remendo a minha escada
deito fora o negativismo que apontas!

Sou feita de raízes d'embondeiro
na face mantenho a cor da pitanga
envolvo meus braços no coqueiro
e na boca o doce d'uma manga!

Unto as mãos com óleo de palma
remexo a terra sempre vermelha
o kissange ecoa na minha alma
acordes d'uma pequena centelha!

Abro as mãos... e quem diria?
que nelas não tenho nada
afinal que fizestes tu Maria?
...
A vida feita de ciclos, é apertada!

Fatyly
16/06/2006

Um resto de boa noite pois vou dormir! Inté e desculpem os meus rabiscos VERMELHOS. Beijos

Elipse said...

Obrigada pelas palavras sentidas, Fatyly. Essa de deitar fora os negativismos é uma lição a seguir.
Beijinhos