Também gosto de andar às voltas com o começo das coisas sendo que o fecho delas se me avizinha sempre perto, muito perto, sem que eu o possa ou queira adiar.
Começo todos os dias uma história mas nem sempre quero ou desejo dar-lhe a continuidade que podia levá-la ao final feliz. Continuidade lembra que é preciso voltar aos lugares do passado, mas é daí que chegam os ecos do desconforto.
E era preciso, sim. A omissão dos ecos gera coisas descontínuas mas a recusa em ouvi-los é visceral; o confronto com as palavras pronunciadas esmaga o bem estar e faz estremecer a estrutura vertebral da sequência.
Gostava – penso que gostava – de ter uma história para contar que fosse uma história verdadeira, tanto quanto a verdade pode ser alcançável (ou fiável?); mas para isso teria de a contar a várias vozes e o exercício é duro para duas mãos apenas. O labor das mãos não vence o ardil das vozes, não lhes desvela o assombro, não as aceita na desconstrução dos enredos. Sobra, pois, a circularidade elíptica oculta no esconderijo da dissimulação e na discrição dos gestos.
Estou cansada de começos; e de arredondar as linhas rectas ao sabor dos crepúsculos, aguardando as madrugadas para inverter o curso linear das construções.
Post -9
5 months ago
10 comments:
Completamente estupidificada com o que escreves e como o fazes.
Os teus enigmas elipticos são desconcertantes:)
Até para quem gosta de matemática, porque para aqui ela não interessa nada, o que interessa é o sentir e esse deixa-me completamente à toa quando te leio.
Falas de ti e quem sou eu para me meter?:)
beijos
inverter o curso linera...
vale a pena
besitos
Escreves de uma maneira tão bonita, essa geometria latente nas tuas palavras que giram num plano oblíquo em relação à realidade...
Não sei o que dizer-te. Fiquei completamente baralhada, porque é ou são enigmas do sentir de cada um. Para mim, cada dia é "o começo de uma história" cujo final é indecifrável, como indecifrável é o porquê do passado e tudo isto numa única base: "gostaria"!
Foi o que senti a ler-te!
Beijos sinceros
Um dizer sem dizer, um sentir com sentido, um futuro que se quer adivinhado sem resquícios do passado.
Gostei da confusão sentida pela tua escrita...
e que tal, escrever a história sem andar às voltas? a verdadeira como quem não vai dar a ler, sem arrazoados conscientes que te fecham?
e depois...se te apetecer guardas, ou deixas aparentemente esquecida na mesa da entrada ;-)
dói mais escrever o que nos é verdadeiro, do que uma mera ficção por mais ângulos agudos que tenha; temos memórias a vaguear que têm vergonha de ser sequer pronunciadas, quanto mais, escritas; a realidade é sempre mais dura que a ficção...
é isso ivamarle e como tal a minhas palavras elípticas:):)
CICLOS
A vida feita de ciclos, é apertada
por laços que nunca se afastam
uns mais belos, outros nem nada
diferentes nos dias que passam!
Amarelos, azuis, vermelhos e rosas
não há dias nem cores iguais
se pudesse, seriam mais vistosas
num acreditar, tão fundamentais!
Mas o tempo teima em desbotar
as cores que sempre vislumbrei
mas não deixo de lutar e sonhar
por tudo aquilo que sempre amei!
Coisas simples d'uma vida complicada
d'um já longo novelo de mil e uma pontas
d'optimismo remendo a minha escada
deito fora o negativismo que apontas!
Sou feita de raízes d'embondeiro
na face mantenho a cor da pitanga
envolvo meus braços no coqueiro
e na boca o doce d'uma manga!
Unto as mãos com óleo de palma
remexo a terra sempre vermelha
o kissange ecoa na minha alma
acordes d'uma pequena centelha!
Abro as mãos... e quem diria?
que nelas não tenho nada
afinal que fizestes tu Maria?
...
A vida feita de ciclos, é apertada!
Fatyly
16/06/2006
Um resto de boa noite pois vou dormir! Inté e desculpem os meus rabiscos VERMELHOS. Beijos
Obrigada pelas palavras sentidas, Fatyly. Essa de deitar fora os negativismos é uma lição a seguir.
Beijinhos
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