Monday, September 15, 2008

Ficcionar 8. (reflectido sobre as analogias)

Magritte



Como vês, a felicidade acaba pincelada a cor-de-rosa e enfastia quem lê. Evitaste as cenas dramáticas ou conseguiste convertê-las em alguma coisa assim-assim, mas não te esqueças que a literatura não vive de amores completos, de vidas preenchidas e de recompensas. Ficciona-se sobre os textos vividos mas também se inventam vidas; depois talha-se e retalha-se a estrutura dos pedaços para construir o todo e escreve-se.
Ainda bem que evitaste os diálogos; também a mim me aborrecem as páginas das falas inconsequentes das personagens, em conversas de encher. Não concebo o romance linear, que começa certinho e acaba sem nódoas. Toda a sequência implica encadeamentos e alternâncias e a presença do narrador não pode ser um limite; se estiver muito presente tende a adjectivar, quando não mesmo a ajuizar, destruindo as possibilidades do leitor.

Nesta história a protagonista estava limitada pelas margens, as do espaço mas também as do tempo e nenhuma ousadia atrasaria os ponteiros do relógio. Mas o contrário é também válido porque se as possibilidades do real são inúmeras as da ficção não se esgotam.
Podes não ter clarificado tudo, podes ter deixado ao leitor a possibilidade de construir cenários, mas isso não impede que o final tenha de ser o que inicialmente estava previsto. Porque quando se começa a escrever uma história, inevitavelmente já se sabe o seu final.
Doutra forma a literatura seria igual à vida.

8 comments:

Toze said...

Se a literatura fosse igual à vida seria uma verdadeira chatice. Ainda bem que assim não é.

É que na vida não há tempo para deixar a mente vaguear... enquanto nos livros tudo é permitido.

Um mundo sem livros (ou sem música) seria um mundo no qual eu não quereria viver.

© Piedade Araújo Sol (Pity) said...

e não é que eu concordo contigo!

fica um beijo

mfc said...

Pois eu não concordo!
... nunca sabemos o final da história.

addiragram said...

Sabe?!!!

Fatyly said...

A literatura quase sempre ficcionada não tem pedaços reais de uma vida? com finais mais ou menos surpreendentes e até a ficarmos a vaguear numa incerteza?
Acho que o "FIM" é mais complexo e que ninguém sabe!

Claudia Sousa Dias said...

troxeste-me à memória aqueles romances comprados na tabacaria que eu lia durante a adolescência onde só se aproveitavam as cenas eróticas, a heroína era quase sempre virgem e casava sempre com o príncipe...

No entanto, eu sempre me sentimuito mais atraída pela sereia de Andersen...

A tua escrita é o contraponto dos romances cor-de-rosa...mas isso já tusabes;-)


CSD

Mónica said...

ceci n'est pas une histoire d'amour

joaninha said...

Ficção e realidade, muitas vezes confundem-se e porque queremos. Quantas vezes estamos a ler um romance e a personagem x ou x' são aquela personagem que a nossa imaginação fez viver na sra. ou no sr. y, que conhecemos há imenso tempo... Também a ficção pode não trazer nada de cor-de-rosa, tal como a realidade... e aí, muito semelhantes! O mais interessante é deixar o leitor a pensar em algo que vai construindo, e, ao chegar ao fim da leitura, nada foi como idealizara... Sem dúvida que a literatura é uma porta aberta para a imaginação.
bjsssssssssssssssssss