Fotografia de Aguarelas de Turner
Vesti um agasalho quando os dias eram frios.
Não, não mo deram a vestir; era meu da raiz ao topo porque o fiz nascer de dentro da terra e nele me envolvi, preparando-me para ver passar as estações.
Agasalhada, ergui-me robusta, na vertical; depois lancei braços e disse ao céu que o azul era pouco. Lá onde chegavam ao fim as minhas folhas era como se um sorriso se soltasse de cada dedo; e cada dedo agarrasse o infinito.
Entretanto o chão floriu à minha volta e era ao verde que me rendia todas as manhãs, depois do canto das aves ter cessado na placidez de cada entardecer.
E assim foi passando o tempo; digo-o agora, à distância; antes não o disse ou não dei por ele, de tão aconchegada na justeza da roupa; agora tenho frio.
Que sucedeu à capa com que me cobri?
Que frio é este, tão súbito, tão devasso, tão intenso?
São farrapos, estes restos de roupa velha.
Mas é estranho que tudo esteja ainda verde e eu gelada.
Dizem que por baixo há pele nova e que eu serei outra vez senhora do meu corpo.
Tenho frio.
Não, não mo deram a vestir; era meu da raiz ao topo porque o fiz nascer de dentro da terra e nele me envolvi, preparando-me para ver passar as estações.
Agasalhada, ergui-me robusta, na vertical; depois lancei braços e disse ao céu que o azul era pouco. Lá onde chegavam ao fim as minhas folhas era como se um sorriso se soltasse de cada dedo; e cada dedo agarrasse o infinito.
Entretanto o chão floriu à minha volta e era ao verde que me rendia todas as manhãs, depois do canto das aves ter cessado na placidez de cada entardecer.
E assim foi passando o tempo; digo-o agora, à distância; antes não o disse ou não dei por ele, de tão aconchegada na justeza da roupa; agora tenho frio.
Que sucedeu à capa com que me cobri?
Que frio é este, tão súbito, tão devasso, tão intenso?
São farrapos, estes restos de roupa velha.
Mas é estranho que tudo esteja ainda verde e eu gelada.
Dizem que por baixo há pele nova e que eu serei outra vez senhora do meu corpo.
Tenho frio.
14 comments:
Olhe!, passado, se faz favor, mas bem, muito bem ;)
Os teus textos deixam-me de partes médias arrepanhadas, fico com a sensação de que dizem mais do que consigo reler.
É sempre assim Elipse ! Bonito quando não nos apercebemos o tempo a passar. Depois...
Lindas palavras !
Tenho a tua "Dor" na minha voz, para ti lá no Ministério :)
Um Beijo Abraçado
Belissimo este passar do tempo. Arrepiou-me o verde e menos o frio.
Dificilmente será outra vez senhora do seu corpo
Não temos que acertar o passo pelas estações...podemos ter o nosso próprio ciclo.
que palavras cintilantes...adorei a leveza, contrapondo ao que li lá atrás, gosto mais deste teu sentir, embora ame a escrita de igual maneira ;-)
Nada volta a ser como era mas também não deixa de ter a sua beleza.
"Tenho frio"
Um beijo escritora:)
Que te dizer?
Um beijo só, sem palavras.
Mesmo por baixo de uma pele engelhada e aparentemente destroçada, há uma vida que se mantém, teimosa...
Mais um txto belíssimo. Desta vez de uma beleza telúrica, no qual não se sabe se estamos a falar de uma árvore ou de uma mulher.
Delicioso, como todos os teus textos. Hoje há poesia em Famalicão. Vou imprimir alguns textos teus e recitá-los, se não te importares.
Um beijo, minha querida.
CSD
Parabens!
já te disse um dia para te deixares de roupas
e de entremeios rendados
nua não quer dizer estar despida
nua é ser
anda que te empresto o xaile.
Nua com um xaile...
Pode ser de seda, indiano?
Lamé dourado e semi-transparente?
Isso dava um conto erótico...
CSD
..a vida é o que sefaz com ela...Bjs
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