Tuesday, June 12, 2007

Retrospectivamente



Antecipei sempre os poentes nas colunas do horizonte
Quebrei todas as sílabas silenciando as agonias
E deixei arrastar as águas dos Invernos
Sobre mortalhas de vida presa ao compromisso.

Aliviei com silêncios o rancor dos elementos
Cortei com a navalha a ponta incendiada das asas
E escrevi textos e textos no lavrar do medo
Sobre jardins plantados em marés futuras.

Aceitei o gelo dos areais por temer a oscilação das dunas
Enquanto me deitava hirta dentro da escuridão
E plantei musgo anunciando a Primavera
Sobre as farpas agudas de todos os argumentos.

Recolho agora da neblina o cheiro a véus translúcidos
Feitos espelhos de memórias e gestos por dizer
E deixo arrastar as águas de todas as estações
Sobre o imenso charco das pedras calcinadas.

20 comments:

addiragram said...

Cada palavra é pesada, cada palavra é sentida e todas elas fazem um canto
maravilhosamente doloroso mas tremendo de esperança.

Há que dar a lume o que escreves!

mfc said...

Não escrevas sobre o passado e o que desejas.
Vive.... e escreve sobre essa vida!
Se sobre o passado escreves tão bem, sobre o empolgamento da vida vai ser sublime!

Maria Arvore said...

Começar de novo dá de volta todos os elementos que nos compõem e essa é a memória a fixar da retrospectiva. :)

Boop said...

Sabes que gosto de te ler!
É como se descobrisse um bocainho de ti em cada reflexão, em cada verso.
Não sei se o que leio é certo, nem posso dizer-te assim, sem mais, o que me ocorre.
Fazes pensar de ti... e fazes pensar de mim...

Fazes pensar!

CNS said...

Estas tuas palavras entram graciosas para depois ficaram, ecoando, dolorosas. Mas é tão belo este teu poema. Tão escorrido nas águas da melancolia. Lindo.

jorge esteves said...

Todas as palavras me parecem roucas, como se fossem escritas por um dedo adunco. Mas ressalta desta profundeza como que uma Fénix que traz promessas de Estio!
Será que percebes o quanto gostei deste poema?

Fatyly said...

Não sei o que dizer perante um passado visto à lupa, sentido......
......
.......
Gostei muito porque ao ler-te aprendo sempre!
Beijos

Toze said...

Gostei bastante, e mais não digo...

beijo

Anonymous said...

águas redentoras...estas.













beijo.








do piano.

Erecteu said...

As tuas palavras "incomodam" pela beleza associada ao sentido.
As tuas imagens castigam, não me deixam em paz.
Despertas o que quero exorcizar, ainda que não saiba o que é.
A contra gosto tenho de dizer que gosto, muito.

o alquimista said...

Nasceu a luz sobre as cidades, agita-se a ilha no encontro com o dia, acorda a emoção, a suave brisa, amanhece o sonho que a vontade guia. A lonjura é a distância da viagem, a idade não cobre os rochedos, passam ventos de encantamento descobrindo mil e um segredos...


Doce beijo

Nilson Barcelli said...

Dei uma vista de olhos ao teu blog e gostei do que vi.
Escreves bem, parabéns.
Este poema é um exemplo disso mesmo.
Beijinhos.

Nilson Barcelli said...

Obrigado pela tua visita.
Já me ia esquecendo...

Rosario Andrade said...

... por vezes há que perecer para que a alma renasça. Como as sementes. Belissimo.

Bjicos

Claudia Sousa Dias said...

Já sabes o quanto gosto do que escreves.Uma escrita dolorosa, com o sofrimente dilecerante de uma Florbela e a voz da rebelião calada, contida mas sempre presente, de Virgínia.

Um grito no silêncio,

CSd

peciscas said...

Antecipar os poentes é, talvez, uma das minhas maiores fraquezas, ...
Por isso mesmo, luto contra ela o mais que consigo.

Ana Paula Sena said...

Olá, Elipse! Passei aqui a partir do blog da Mo. Parabéns pelo poema tão interessante que por lá pude ler! :)
Ao visitar o seu blog, encontrei muitos outros poemas e textos bonitos e de qualidade.
Gostei!

Anonymous said...

Por agora apresento-me em silêncio.
lp

AC said...

Impressionante... muito bom!
Parabéns e um beijo

ivamarle said...

...estás com a alma pesada, amiga...

um beijo ;-)