Friday, April 27, 2007

Leituras


Gosto da maneira como ela diz “devíamos rir-nos da fragilidade da memória, ou pelo menos sorrirmos das artimanhas do seu esquecimento”.
Não li tudo ainda, mas a qualidade do registo é a mesma que me cativou desde o primeiro romance e o assunto é melindroso, como são melindrosos todos os assuntos de que é composta a vida.
Na parede de um gabinete, em Lisboa, projecta-se a sombra de Freud e quem lá entra já não pode viver fora dali. Porque ali há alguém que “ouve como um vivo e age como um morto”. Conforto no alongar dos relatos. Conforto no tecer das grades de uma prisão feita de cumplicidade profissional. Conforto no estar ali.
Isto é o que eu leio. Provavelmente outros lerão ali as soluções e ela, a autora, deixa que sejamos nós a ler. Até porque depois do tempo passar a leitura é ainda mais difícil – tema recorrente na escrita de Lídia Jorge – e o que se recorda “não vale a casca de um pêssego” ...
Porém, é do lado de fora que tudo se passa ; é no lado de fora que as pessoas estão; e é nesse lado que se passam as histórias concretas e se vivem as vidas concretas.
No gabinete as sombras prolongam fantasias ocultas pelo pudor e facilitam as invenções oníricas: do nada para o nada (digo eu.)

Quando acabar virei dizer se é assim ou se ela me vai trocar as voltas.
Leiam também.

8 comments:

xeremias said...

Ficamos à espera, Elipse, de saber o lugar onde a Lídia te leva. E também que nos mostres esse misterioso lado de fora onde as pessoas, as histórias e as vidas são concretas...

Kitty said...

Olá!
Visite, divulge e, se puder, ajude:
http://astresmeninasgemeas.blogspot.com/

Bom fim de semana

ivamarle said...

Nunca se sabe o que ela nos reserva; conta como foi ;-)

Fatyly said...

Aguardarei.

addiragram said...
This comment has been removed by the author.
addiragram said...

Do romance da Lídia ainda estou nos primeiros passos...Aguardo um tempo escorreito para a ele me dedicar...Da tua leitura dele e da tua leitura do que é o gabinete do psicanalista atrevo-me, para já, a discordar. As sombras de um gabinete nunca se devem desenvolver à revelia do lado de fóra mas pelo lado de fóra.
São determinadas sombras que obscurecem a vida e que a tornam ainda mais complexa e limitada. As prisões tecem-se, a maior parte das vezes, dentro de cada um de nós sem que sejamos capazes de as remover. Aí, o lugar do gabinete, é um lugar provisório para que "o drama em forma de gente" se ponha em cena e se consiga, finalmente, transformar...
Um beijinho para ti

Anonymous said...

Obrigado pela recomendação. Fico então à espera das considerações finais.

Boop said...

Já me falaram do livro... que entra pelo mundo da psicanálise.
Fiquei curiosa... mas há tantos livros que me têm deixado curiosa e o tempo... não chega para todos!