Thursday, January 18, 2007

a dor


(para a Vanessa e para a Catarina, que choram a morte do Bruno; e eu com elas...)

Ferra os ossos como um cão raivoso esta dor que se enterra no peito, nos olhos, na carne toda e arrepia a pele de cinzento e névoa. Névoa nos olhos e revolta nos dentes cerrados. Cinzento o dia, também; cinzenta a terra, gelada, pesada; cinzento o bater da pá contra a terra, a tapar a tapar…
Ferra os ossos como gume esta dor rubra, faca espetada no entendimento e a mãe sem sentidos de tanto a sentir na alma e nós ali sem forças nas pernas nem gestos nas mãos para dizer adeus; o mundo parado e lágrimas, lágrimas…
Ferra os ossos esta dor que apaga, uma a uma, todas as letras da palavra aceitar porque ontem ele tinha um sorriso nos olhos e agora fica ali sozinho, o dia a gelar a noite e a terra a cair cinzenta sobre os seus olhos fechados. E nós sem sabermos o caminho de regresso à vida.

18 comments:

~pi said...

elipse. choro um pouco contigo.

das perdas.

do luto que estala a ferver.

choro contigo. abraço. beijos

Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

afasta de mim esse cálice!

que nunca há consolo.

beijos

Fatyly said...

O meu silêncio porque não há nada que console por ser tão penoso "o caminho do regresso"!
Força!

wind said...

Respeitoso silêncio!

stela said...

não há palavras, que descrevam o sentimento de perda que temos pelos "nossos"... o que leio... dor imensa...
beijinhos

Anonymous said...

Bem posso admitir que o seu texto me emocionou...ao mesmo tempo que o ia lendo, imagens reais foram aparecendo mais uma vez na minha memória, acabando eu por derramar gotas de água (Chamadas essas de lágrimas) cheias de dor. È complicado e difícil sim, não o vou negar, custa bastante perdermos uma pessoa marcada de uma certa maneira na nossa vida. È difícil esquecer "aquele dia", estávamos todos à espera que ele acordasse, e que isto não passasse apenas de um pesadelo… ai esperámos…esperámos...até ao último momento, até ao momento em que tudo acabou! Que posso eu dizer, a vida não é e nunca será justa!

Bj

Anonymous said...

Obrigado por este testemunho que eu também compartilho e mellhor não seria capaz.
J.P

Anonymous said...

Diz o povo que pesar alheio não se sente senão meio; talvez por isso a melhor palavra seja um abraço de silêncio.
Afectuosamente

peciscas said...

É sempre terrível o sentimento de perda de alguém que fez parte da nossa vida.
E tudo o que os outros disserem, poderá ajudar, mas nunca poderá desfazer esse sentimento.

Anonymous said...

...mesmo em tão penoso cenário, ainda encontras palavras para gritar silenciosamente uma dor que se quer a toda a força, soltar...

~pi said...

...e ainda mais pétalas. agora de

rosas.

cor-de-rosa!!!

Maria Arvore said...

Beijo e abraço que só o tempo transforma a dor numa memória doce da vida.

addiragram said...

PALAVRAS como as tuas são um esteio para que se encontre o caminho de regresso.
O meu abraço a todos os que choram esta perda.

Elipse said...

O Bruno tinha 16 anos.
Não acordou de manhã. Foi embolia pulmonar.
A gente pensa, quando isto acontece, que podia ser o nosso filho. Pensamento egoísta, talvez... porque certamente que nenhum de nós consegue sentir a dor da mãe ou a do pai ou a dos irmãos.
Só a adivinhamos, de longe, na nossa dor.

mfc said...

Nunca entendemos a morte! É algo que nos é estranho... no entanto faz parte da vida!

Anonymous said...

Ah! Mas a morte de um filho nosso...
Afasta de mim esse cálice! como diz Chico Buarque e a Maria.
Um beijo grande Elipse.

Claudia Sousa Dias said...

Um beijo, com toda a minha solidariedade e afecto, Elipse querida.

CSD

Claudia Sousa Dias said...

Ah!

Esqueci-me de dizer...

Da dor, garavada nas palavras, nasceu um dos mais belos textos da tua vida...

Mas não traz consolo.


Beijo grande, mais uma vez

CSD