Cruzava-me com eles ou via-os do outro lado da rua em ritmo de passeio e refreava o passo porque me incomodava a minha pressa que não era pressa mas hábito de nem sequer conseguir reparar no rio também ele acostumado a entrar-me nos olhos perdendo o encanto das primeiras vezes se é que lembro as primeiras vezes porque a memória é feita de amontoados de imagens e cheiros e sons que se misturam numa confusão de tempos sobrepostos como meada sem fio e sem ordem e eu desordenada nos passos embora respeitasse os sinais de proibição em acostumado cumprimento da normalidade imposta e em respeito à norma evitando os desvios da rota ou do rumo que o tempo vai traçando ou eu por ele que a minha teimosia desvia normalmente os encantos trocando-os por outros igualmente fantásticos na origem mas íngremes no percurso que nem sempre escolho por me sentir partida em duas metades não complementares nem amigáveis que bifurcam o caminho como nas histórias em que é preciso fazer uma escolha ficando nós a adivinhar as duas leituras possíveis e invariavelmente optando pelo final feliz que seria o caminho que todos os outros pensavam levar ao cruzarem-se comigo no passeio ou no outro lado da rua embora a gente saiba que no final nos espera um porto sendo este um local de chegada mas também de partida pelo que nunca sabemos se devemos fazer como se chegássemos repousando e unindo as duas metades ou como se tivéssemos de partir inteiros. Parto?
Post -9
5 months ago
11 comments:
Parte!:)
beijos
Não partas deixa-te seguir inteira na limpidez das águas das tuas palavras.
Beijos
Como dizes, os lugares de partida são os lugares de chegada. É claro que para chegar a algum lado é necessário primeiro partir. E isso não é um episódio desfasado da vida: faz-se todos os dias, todas as horas. Romper e costurar de novo, é assim a luta do dia a dia.
Este tipo de vida que nos é imposto, faz-nos passar pelas coisas sem as apreciarmos, por isso "tens que voltar" para as poderes apreciar!
depressa, não andes na roda da hesitação.
Partir... é inevitável.
Porque o ritmo da vida é mesmo esse.
Vi que passaste pelos meus lados, mesmo uns minutos antes de eu publicar algo que gostava que lêsses e desses a tua opinião (que tanto aprecio). Fico à espera.
A vida é feita de constantes partidas e chegadas até se chegar ao cais de onde já não há partidas.
parte! se é isso que as asas te pedem...
fiquei sem fôlego a ler este texto; está magnífico!!
parte! se é isso que as asas te pedem...
fiquei sem fôlego a ler este texto; está magnífico!!
olha...passou-se!
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