Saturday, July 22, 2006

as arestas da dualidade



Cruzava-me com eles ou via-os do outro lado da rua em ritmo de passeio e refreava o passo porque me incomodava a minha pressa que não era pressa mas hábito de nem sequer conseguir reparar no rio também ele acostumado a entrar-me nos olhos perdendo o encanto das primeiras vezes se é que lembro as primeiras vezes porque a memória é feita de amontoados de imagens e cheiros e sons que se misturam numa confusão de tempos sobrepostos como meada sem fio e sem ordem e eu desordenada nos passos embora respeitasse os sinais de proibição em acostumado cumprimento da normalidade imposta e em respeito à norma evitando os desvios da rota ou do rumo que o tempo vai traçando ou eu por ele que a minha teimosia desvia normalmente os encantos trocando-os por outros igualmente fantásticos na origem mas íngremes no percurso que nem sempre escolho por me sentir partida em duas metades não complementares nem amigáveis que bifurcam o caminho como nas histórias em que é preciso fazer uma escolha ficando nós a adivinhar as duas leituras possíveis e invariavelmente optando pelo final feliz que seria o caminho que todos os outros pensavam levar ao cruzarem-se comigo no passeio ou no outro lado da rua embora a gente saiba que no final nos espera um porto sendo este um local de chegada mas também de partida pelo que nunca sabemos se devemos fazer como se chegássemos repousando e unindo as duas metades ou como se tivéssemos de partir inteiros. Parto?

11 comments:

wind said...

Parte!:)
beijos

Anonymous said...

Não partas deixa-te seguir inteira na limpidez das águas das tuas palavras.
Beijos

xeremias said...

Como dizes, os lugares de partida são os lugares de chegada. É claro que para chegar a algum lado é necessário primeiro partir. E isso não é um episódio desfasado da vida: faz-se todos os dias, todas as horas. Romper e costurar de novo, é assim a luta do dia a dia.

mfc said...

Este tipo de vida que nos é imposto, faz-nos passar pelas coisas sem as apreciarmos, por isso "tens que voltar" para as poderes apreciar!

jp(JoanaPestana) said...

depressa, não andes na roda da hesitação.

Anonymous said...

Partir... é inevitável.
Porque o ritmo da vida é mesmo esse.

Anonymous said...

Vi que passaste pelos meus lados, mesmo uns minutos antes de eu publicar algo que gostava que lêsses e desses a tua opinião (que tanto aprecio). Fico à espera.

peciscas said...

A vida é feita de constantes partidas e chegadas até se chegar ao cais de onde já não há partidas.

ivamarle said...

parte! se é isso que as asas te pedem...
fiquei sem fôlego a ler este texto; está magnífico!!

ivamarle said...

parte! se é isso que as asas te pedem...
fiquei sem fôlego a ler este texto; está magnífico!!

ivamarle said...

olha...passou-se!