Wednesday, April 19, 2006

"Sentir, sinta quem lê"

Toda a narrativa é um artifício e “sem a existência de um leitor os textos escritos não passam de marcas pretas em páginas brancas”. (1)

E o que faz quem escreve?
Deita mão às histórias alheias e torna-as suas, transforma-as, acrescenta-as e muda-lhes o final. Ou não.
Apropria-se do tempo e alisa-o; depois recorta-o e brinca com ele.

Por isso todo o texto exige um leitor, cujas reacções tomam a forma de sistema de palavras, depois agrupadas associativamente no seu espírito.
É a interpretação a afirmar-se sobre a criação.
Sendo assim, quem tem verdadeira importância neste jogo é quem está do lado de lá.


(1) Linda Hutcheon, Uma teoria da Paródia, Lisboa, Edições 70, 1989, p. 35

11 comments:

wind said...

E quem está deste lado, interpreta cada um à sua maneira conforme sente:) beijos

admin said...

O poeta é um fingidor...

Os poetas chegam sempre primeiro. Antecipam os pouco simpáticos teóricos da literatura. Mas como a sua linguagem é codificada tornam-se oráculos derramados no tempo, à espera que o tempo os entenda. Como uma carta que se deixa fechada para ser lida no futuro. É, portanto, o leitor que cria a mensagem. É, portanto, o leitor que cria a sua própria solidão. A elipse tem a arte de suprimir o tempo e pode colocar a narrativa numa época e num lugar em que já não está, saltando, de alegria ou tristeza, queimando etapas, escondendo para mostrar. A Elipse é, então, uma máscara a que não basta ser uma máscara. Por isso propõe-nos ser uma outra coisa que não o que vemos mas que também não é aquilo que pressentimos. Para onde olhamos quando olhamos para uma elipse?

Anonymous said...

Quem escreve cria uma obra mas será apenas valorizado/divulgado pelo leitor!
Quando leio um livro, ou o que escrevem por aqui, leio como se tivesse sido escrito para mim, recebo a mensagem, tento digerir e a partir daí...gosto ou não gosto...mas nunca tentando descobrir "a vida real" do seu autor.

Gostei desta reflexão e não sei se me fiz entender!

mfc said...

Mas nada faria se os ingredientes do talento não estivessem plasmados no texto!

K. said...

Neste caso creio que as portas abrem-se para os dois lados. Tem importância quem está do lado de lá, e do lado de cá também. Tu quando lês aquilo que escreves não és já a que está do lado de lá?

Os livros são sonhos disfarçados de papel e tinta.

rui-son said...

Porque será que sinto, e me faz todo o sentido, que o que vocês dizem é verdade, e no entanto sinto tanta dificuldade em expor o que escrevo...
Se calhar tenho também de arranjar uma máscara, a minha "elipse", para não me sentir tão exposto no que escrevo...

wind said...

Bom dia, tenho um desafio para ti no Webclub sobre Brecht e gostava que aceitasses, por favor:) Obrigada. Beijos

Elipse said...

OK Wind, dá-me dois dias. Tenho de "estudar" o caso.

Anonymous said...

Se não houvesse escritores não haveria leitores e o contrário também é válido.
João Norte.

intro.vertido.weblog.com

SoNosCredita said...

considero que a importância é repartida!

Anonymous said...

Gostei muito dete blog vou-te linkar.
Já agora, hoje é Dia da Terra: "É preciso que todos colaborem"
Feliz Dia da Terra! Das Palavras às Acções...