Monday, April 17, 2006

Pela dignidade da Língua Portuguesa


É um assunto muito sério.
Quem está ligado ao ensino tem plena consciência de estar a contribuir para a formação de cidadãos que não sabem apreciar a beleza de um texto pela falta de contacto com a literatura.
Se ao menos eles saíssem em condições de preencher um formulário ou redigir um requerimento, podia dizer-se que tinha tido efeito a reforma aplicada de há seis anos para cá. Porém, eles têm de contar palavras em pleno exame, porque lhes é pedido que redijam um texto argumentativo a metro, entre outras coisas.
De futuro parece que vão ter de usar também cruzinhas, porque as perguntas de escolha múltipla vão fazer parte dos exames de Português.
E o saber escrever, o saber usar a palavra ou apreciá-la no seu valor literário?
Precisamos apenas de cidadãos que saibam usar o teclado para redigir abreviaturas? Ou para escrever em blogues, ainda que com erros ortográficos?
Há uma petição aqui, originária de uma professora de português que se tem recusado a cumprir os novos programas. Com um pouco de paciência e alguma vontade lê-se e toma-se posição. A bem do uso da língua portuguesa.

13 comments:

Mónica said...

lá tá ela...

o novo acordo ortográfico não deu tanta polémica será que foi aprovado?

Mónica said...

http://www.jakinzito.blogspot.com/

Anonymous said...

Estou de acordo e eu só sei...que já nada sei!

wind said...

Já assinei há um tempo. sou o 2334. beijos

Anonymous said...

Bem, vou alongar esta "dignidade" que a meu ver, tudo que foi dito, passa por uma primária BEM FEITA:
Tenho duas filhas com diferença de 6 anos e ambas entraram na 1ª.classe e 1º. ano com 6 anos.
A mais velha (1980) apanhou o programa de????: conhecer as letras, escrever sequencialmente num caderno de duas linhas, sonoridade, memorização, associação, resmas de cópias e ditados, etc...e já sabia ler quando passou para a 2ª. classe. Nos ditados, por cada erro, tinha como trabalho de casa, repetir a palavra ou frase umas vinte ou 30 vezes conforme a gravidade...e foi indo nessa base até à 4ª classe, sempre com a obrigatoriedade de lerem livros e livros!
E sempre funcional com as outras disciplinas. Da 1ª à 4ª classe com a mesma professora e só passava quem estivesse APTO!
A mais nova (1987)apanhou o programa de???? associação/memorização/palavra/fotosem qualquer sequência,procura a letra tal e tal, passar pela já impressa e fazer uma igual ao lado, não se faziam cópias, ditados nem vê-los, etc, de tal forma que vou exemplificar: desenho:alface,por baixo al-fa-ce. Lá vinha a cantiga: a e l=al; f e a= fa; c e e=ce e dizia...couve! Outro é um copo com leite, por baixo "lei-te" e dizia sempre "copo"! Os desenhos de facto não ajudavam em nada, a alface parecia uma couve e em termos de visualização...era mesmo apenas e tão só...um copo!Enfim!
Não sabia ler e era um desastre autêntico quando passou para o 2º ano:):)
Nas férias grandes, peguei nos manuais da mais velha e quando vinha do trabalho, no meio de tachos e panelas, ensinei-a.
Nas outras disciplinadas era pior a emenda que o soneto e só no 4º ano, com a 4ª professora, espantadíssima com a precariedade de conhecimentos, puxou-a com toda a garra e dedicação. Preparados ou não, passavam sempre, porque, para o aluno era deveras "traumatizante" o facto de não passar de ano.
Fui eu, como encarregada de educação, que a chumbei no 4º ano, mas para tal e obedecendo a formalismos, tive que assinar um requerimento ao Ministério. Só lhe fez bem, porque ficou com a tal professora, a quem tiro o meu chapéu! Leitura de Livros? que me recorde em quatro anos foram exigidos apenas 3.
Tudo isto no mesmo colégio! Não foram para o ensino oficial como eu tanto desejava, por ser a kms de distância e não terem para onde ir, num dos períodos do dia. Não havia ATL e em casa seria impensável!
A mais nova ainda hoje diz com muita graça, que a culpa foi minha porque fiz a irmã com todos os neurónios dos estudos e que a ela dei-lhe apenas um!
A mais velha seguiu e é o que é no campo das ciências!
Amais nova não completou o 12º ano por completa desmotivação por parte de alguns professores, sobretudo o de matemática, português e quimica! Culpa dela? Culpa deles? De ambos, embora julgue que: despejar matéria, faltar dias e dias,ser substituído, estar um trimestre sem professor...e no fim do ano quererem resultados...é obra.
Já faz parte de um passado e cada uma à sua maneira...são o meu orgulho!
Passaram-se 8 anos...e sei o que se vai passando pelo que oiço e leio.
elipse...desculpa a extensão mas deveria haver muitos mais professores como a da petição: Está mal, não surte efeito...então há que lutar para que algo mude!
Beijos da "buéeeeeee-xata" ahahahah

ivamarle said...

concordo plenamente!!cada vez menos se aprende a escrever correctamente, por vezes de tantas vezes ler os erros dos outros, tenho dúvidas acerca da minha escrita...

rui-son said...

Eu acho que me encaixo algures entre os dois exemplos dados pela Fatyly. Não tive um ensino muito bom, mas pelo que me parece, sempre foi melhor que o da filha mais nova.
A minha situação é semelhante, entre mim e a minha irmã, 4 anos mais velha. Também ela teve uma formação muito melhor que a minha, e com muitos mais frutos. E também no mesmo establecimento.
Ainda agora os conhecimentos de português dela são melhores que os meus, e eu continuo a cometer erros sucessivos de ortografia.

Também não criei o hábito de ler na escola, acabei a ganha-lo anos mais tarde por gosto próprio pela literatura. Gosto este, muitas vezes divergente das leituras obrigatórias das escola. Com muitas excepções claro, como a "Aparição", Fernando Pessoa, entre outros, isto já no secundário.

De qualquer maneira, sinto muitas vezes, os meus limites dentro do português, independentemente do meu esforço para combater isso. Situação em que a minha irmã me ultrapassa, apesar de ela ter a vantagem de ter seguido humanidades. Mas tenho consciencia que não vem essencialmente daí.

Quanto ao ensino actual, é um ensino de memorização. E não acho que se pode criticar os alunos de escreverem com abreviaturas e isso, quando muitas vezes somos obrigados a passar duas horas a escrever cada palavra que o professor desbobina, pois temos de saber aquilo tudo de cor. O perceber é secundário.

Junto-me por isso à indignação.

Elipse said...

Servem estes espaços para as pessoas se irem conhecendo, do lado de cá e do lado de lá (embora eu tenha de continuar a afirmar que a Elipse é uma personagem criada por mim); assim sendo, Fatyly, tudo o que posso dizer é que nada se consegue sem esforço, como tu muito bem sabes; a questão é que hoje o esforço anda arredado de tudo e todos nós (incluindo pais e professores) vamos contribuindo para isso.
Quanto às abreviaturas, Rui, nesse contexto, são essenciais; o pior é quando já não se sabe da existência verbo estar, substituido, nas mais diversas situações por "tou", tava","tive", etc, E isto é só um exemplo.
depois há a vocação de uns mais pelas palavras e de outros mais pelos números ou pelos riscos ( o meu filho traça riscos dos quais saem coisas fantásticas). Contudo, acho que cada um de nós tem capacidades para tudo um pouco. O segredo está em desenvolvê-las, como tu próprio comprovas com o que dizes, Rui.
Obrigada a todos pelas palavras.

Concordo com tudo, -pirata-

admin said...

Não deixem de ouvir este 'post' radiofónico que parece vir a propósito...
http://tsf.sapo.pt/online/radio/index.asp?id_artigo=TSF169932&pagina=Interior

rui-son said...

Tens razão Elipse, eu é que não acabei o raciocínio. O que eu queria dizer, no que diz respeito às abreviaturas, é que uma pessoa habitua-se tanto a abreviaturas, por um lado com aulas, mas acima de tudo com internet, sms,... Que depois quando tem necessidade de escrever correctamente já não "sabe", ou pelo menos não se lembra.
Mas o problema não são só abreviaturas, escreve-se mesmo mal o português, e em parte porque se fala também mal o português. E uma coisa leva à outra, numa espécie de circulo. E não digo isto só a respeito dos outros, sei perfeitamente que me incluo nesse grupo.

O que para mim é pior é ver esse tipo de coisas acontecerem em meios como os media. De certeza se lembram de há uns anos toda a gente dizer "pograma" em vez de programa, mesmo pivots. E mais recentemente, a vaga do "à seria". Exponenciado pelo slogan da Olá, "Diverte-te à seria", e que se expandiu a todos os meios, e mais uma vez, até aos pivots de telejornais.

peciscas said...

Como professor e como português, já lá fui deixar a minha assinatura!

SoNosCredita said...

é assustador!

Anabela said...

Sou professora de 1º ciclo, e a mim faz-me espécie como algumas colegas minhas se formaram com distintas médias e leccionam os filhos deste país...
Colegas essas que pouca ou nenhuma cultura possuem, e que portanto pouco ou nada mesmo acumularam para oferecer aos seus alunos...

Abracei a vida de docente, após a evidência de que o curso de jornalismo não me abriria porta alguma... Mas fi-lo. À data de hoje, no país que temos, possuir 2 cursos superiores não é nenhum feito extraordinário... mas prepara-nos melhor para a profissão que abracemos.

Estou a fazer um estudo científico, de momento, sobre "como ensinar a História de Portugal no 1º ciclo". É um trabalho pioneiro, pois não existe nenhum realizado até hoje...
E perguntam-me vocês: "então, como é que os professores do 1º ciclo "dão" História"?

Pois é... vão dando, porque uma didáctica (disciplina que supostamente ensina a leccionar áreas de saber) da História de Portugal para o 1º ciclo, não existe. Quem gosta de História, vai-se desenrascando, embora não conheça uma técnica ou um método especializado.

Mas, e aqueles professores do 1º ciclo que não gostam de história, mas têm de dá-la? Seguem o manual, esteja este certo ou errado? Para esses professores tanto faz, também eles não sabem o que é certo ou errado...

Mas, isto sou eu a falar de História no 1º ciclo. E se fosse outra disciplina, outro ciclo de ensino...?