Sunday, April 23, 2006

lengalenga


Mal dos poetas perdidos no palavrear libertador próximo da dor espumosa; mal dos que amam sem que o tempo os deixe permanecer aconchegados no querer eterno; mal de todos os seres pensantes do universo desgastados pela sucessão das marés que se impõe ao cansaço dos olhos; mal dos que procuram a razão das coisas sem conseguir ir além da definição de invernias repletas da mais criativa escuridão; mal dos cérebros que concebem a genialidade de uma lucidez estrangeira, cruzada a preto e branco; mal da gentileza da mão prodígio feita de traições e fugas, deliberadas ambas pelo costume de avançar até ao fundo das coisas; mal dos propósitos estratégicos para afastar a irmandade com aquilo que é o mundo e é o eu de cada um disperso através da direcção do olhar; mal da logística que desceu em nós por força do nascimento, obrigada desde então a albergar a alma num corpo que lhe é estranho; mal das caligrafias sublimes que evitam o borrão no papel; mal dos pórticos decorados sobre cantos misteriosos; mal das máscaras; mal dos ouvidos semi-cerrados; mal dos espelhos; mal do mal

10 comments:

K. said...

Gostei particularmente do mal da logística.

antónio paiva said...

......mal de nós se tivermos receio do mal, há ainda os males que vem por por bem, muito está mal apenas porque não nos convém.....

Boa semana

Anonymous said...

(...) mal dos que procuram a razão das coisas sem conseguir ir além da definição de invernias repletas da mais criativa escuridão(...)

mal...ficarei eu se desistires da escrita!

Francamente, mais um tiro certeiro!

Obrigado por este momento de leitura! Beijos sinceros

Rosario Andrade said...

Bom dia Elipse!
Nao podia deixar de te visitar, mesmo aqui. Nem que seja para ler os males, os que sim e os que nao...
bjico grande

wind said...

Mal por teres escrito tanto mal que é mesmo verdadeiro mal. Todo esse mal existe e escreveste o mal bem:) beijos

Elipse said...

mais uma vez... e sempre... como será que as palavras são lidas por cada um?!

Elipse said...

O meu "mal" é alaranjado... não é negro!
Ou antes, o "mal" usado como significante.

mfc said...

Pois este arrazoado de males, embora incompleto, já me pôs a pensar que se alguém criou isto, não fez lá grande obra!

Mónica said...

mal da catarse

jp(JoanaPestana) said...

para se reconhecer o bem, tem qe haver o mal.
afinal o que é o bem e o que é o mal?
;-)**