Saturday, March 11, 2006

Mãos abertas dentro de gavetas fechadas

E no percurso das mãos para a mente vão sobrando ideias.

Não sei se é exactamente assim, se são as mãos que comandam. Depende dos dias, da pressa, da situação, do outro… ou de mim.
Há dias em que as mãos me levam; noutros eu seguro-as dentro dos bolsos, presas à textura do forro. Morro por dentro das palavras que estão ali e que eu não sou capaz de soltar, de verbalizar.
Há outros dias em que deixo as mãos abertas dentro de gavetas fechadas.
Mas mesmo abertas, escorregadias, longas nos seus gestos nem sempre soltos, nem sempre desimpedidos, elas não deixam sair todas as palavras que a mente guarda em cantos inacessíveis.
Que filtro as sustém? Que cortina se interpõe à vontade de soprar para fora a sujidade?

Que ideias sobraram?
Era disso que queria falar…

10 comments:

Anonymous said...

Porque há coisas dentro de nós que nem as próprias mãos conseguem transmitir, onde por vezes o silêncio de "uma gaveta fechada" é terrivelmente demolidor.
Gostei muito desta tua reflexão!
Muito se poderia falar...mas...bom fim de semana!
Beijos

antónio paiva said...

.....precisamente porque a mente as retem, as mãos depemdem da mente, por muito belas que o sejam e são, o que as mãos transmitem são os reflexos da mente.....
Beijinho

Maria Manuel said...

Num outro local, escrevi uma vez, para acompanhar um álbum de fotos de mãos:

«São incríveis as mãos, quando pensamos em tudo o que fazem, de que nos servem, do que são capazes! O álbum de hoje ilustra algumas das funções. Acrescente-se a limpeza, a oração, a carícia, a pancadinha nas costas, o gesto de levar a comida à boca, o abrir caminho, o fechar a porta, o alívio do músculo dorido, o virar a página do livro…

...depois das coisas úteis, algumas ainda conseguem ser sedutoras e, se bem observadas, dizem-nos mais sobre as pessoas do que muitas apresentações… (vejam-se os anéis, calos, unhas, pele, firmeza no aperto de mão, colocação, tremuras, gesticulação...)

Mónica said...

há dias em que descubro areias migalhas linhas dentro dos bolsos
prefiro os dias em que verbalizo

Elipse said...

a extensão que deste ao significado das mãos, m. é muito bela.
e... é dificil dar as mãos, pirata!
ou antes, as mãos dão-se, mas não se entregam.
chuva, como se descobre a beleza da mente se a gente se camufla sempre noutras personagens?
Fatyly, às vezes... abençoadas as gavetas fechadas.
e sei que tu és de verbalizar, cantiga. Eu, nem sempre.

addiragram said...

a mente, esse espaço infinito que permanentemente gera...
Há as palavras que se travam-para assim se travar a dor; há as palavras que não se criam- porque o pensamento se não formou; há as palavras que resvalam pelas mãos que as desenham, porque a necessidade existe; há ainda todas as palavras que esperam por nascer...

mfc said...

E quantas vezes elas dizem, por nós, mais do que quereríamos ter dito?!

SoNosCredita said...

nem eu conseguiria exprimi-lo tão bem!

Graca Neves - mgbon said...

são infatigáveis na sua missão.incontroláveis enquanto verdade de nós que escondemos...dentro de gavetas fechadas.

Anonymous said...

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