
Justina costumava sentar-se de pernas afastadas debaixo da chita da saia a dar espaço para o trabalho da empreita e ali ficava entrançando as tiras, cosidas umas nas outras, até que o redondo ia ganhando forma. À roda das casas corriam os moços pequenos zurzindo latas, caras sujas e pés descalços, os paninhos das camisas a saírem dos suspensórios com que seguravam o cotim gasto das calças transformadas pelas mãos destras das mães, que vinham para a rua ao fim das tardes – era a hora da lazeira, diziam –, sentadas nas cadeiras de vime, com a ceirinha das linhas e das agulhas, onde havia sempre um ovo de madeira para remendar as meias. Destacavam-se os caboucos do casario, de encontro aos cerros que fechavam a vila, vendo-se no chão as fendas da terra seca que levantava o pó branco à mistura com o canto das cigarras.
Os cães vinham ladrando ao caminho enquanto ela se afogueava e limpava o suor com as pontas do lenço.
Imagino ainda as falas:
- Ó ti Juliana! Chegue-me daí um cucharrinho de água, que já venho caminhando há tanto tempo!
A mãe da comadre levantava-se da cadeirinha de vime largando a empreita e lançava a corda à cisterna, ouvindo-se o eco do balde batendo na água fresca. Justina levava a cortiça à boca e refrescava depois as mãos e as maçãs do rosto.
- Vou à Igreja, ti Juliana.
(continua)
3 comments:
...e continua a linda saga do povo alentejano!
cucharrinho será um cibinho? :-)
é uma coisa de cortiça que serve para beber a água directamente do poço. é côncavo e tem uma pegazinha...
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