
Sei que ela ia à Igreja porque o cheiro das velas e dos incensos era como que a prova final, se lhe provocava o vómito. Tinha, então, a certeza de estar novamente grávida.
Devia ser assim a caminhada para a vila, em direcção ao lugar que consagrava essa certeza:
Quando as alpercatas iam chinelando sobre a areia mais escura abrandava o passo mas se as carrasqueiras rareavam, o sol castigava e tinha de andar mais depressa. Debaixo do chapéu de palha ainda tinha a protecção do lenço, atado em duas pontas coloridas debaixo do queixo, misturando-se o cheiro fresco das estevas com o da transpiração, as meias colando-se às pernas magras. Afrouxava o aperto das ligas, fazendo-as deslizar para os joelhos. Seguia apressada, as mãos a darem o impulso da marcha, de trás para a frente, da frente para trás. Sentia a pieira no peito e o respirar era ofegante mas já avistava as primeiras casas da vila.Começavam a ver-se os chiqueiros dos porcos, à espera da faca que separasse o toucinho para a salgadeira, que o mais dos tempos a fome roía as entranhas, quando a nudez do frio emaranhava pelos corpos... (continua)
8 comments:
no outro dia abateram a minha figueira. fiquei tão triste que, quando aqui cheguei, não fui capaz de passar da primeira frase... digam-me, é bonito o resto do texto?
Leio que a minha figueira te inspirou...
Tens mail menina pequena.
Beijo
Um retrato do Alentejo sofredor, trabalhador e maternal.
Bela viagem, espero pela continuação....
Bom dia!
No quintal la de casa também havia uma figueira. Tinha um ramo que parecia um banquinho com um outro quase perpendicular para amparar as costas. Gostava de me sentar la para ler e reflectir...
Espero ansiosa a continuacao!
Abracicos!
Só tenho a dizer, que adoro os teus textos!
bjs
TEXTO RICO sobre um Alentejo pobre mas cheio de vida. e depois é delicioso: os sintomas da gravidez, o pormenor das ligas,...
à escuta.
PS: e a desgarrada, desculpa, mas a preguiça ou a desinspiração foi maior.
Fazes falta!
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