Tuesday, October 11, 2005

Rumo ao Mar com as Aves pousadas nos braços

Vinha do Outono
e já não ousava lembrar
como era verde a paisagem;
vinha do sítio onde os ângulos das pedras
assanhavam os ventos
calando-se o assobiar dos madrigais
desfeitos no reflexo dos espelhos partidos;
onde os telhados adormeciam ao domingo
sob o desconforto da chuva miudinha;


Guardava alguns silêncios em lugares invioláveis,

e as palavras se acolhiam-se neles
quando os ouvidos lhes estranhavam a melodia;

lugares de labirintos com memória
e portas abertas para a estação das asas;


Devolvi esse lugar ao tempo
cruzado nas linhas
de um livro mal começado
e deixei aberta uma janela de palavras novas;
Foi no cais que me sentei
abrindo os olhos e deixando as mãos dobradas
sobre a curva dos joelhos.

Passou a noite; o sol demorou
a regressar a casa; nada trazia o nome
da pressa, a não ser os gestos da primeira vez
quando as mãos não sabiam
ainda ser serenas.

Não vieste como um barco. Eras o cais
Não abrias caminho por entre a espuma
Eras a espuma. Não chegaste,
Estiveste sempre entre as colunas
como um horizonte próximo
que acolhe o vaivém dos barcos
cansados da oscilação das ondas.


Contudo, tenho os olhos redondos
de tanto olhar os litorais,
lugares onde já não me detenho;
nem sequer nos Outonos
de telhados adormecidos…

Rumo ao mar.
Deixo que as aves pousem nos meus braços
carregados de penas e salpicados de espuma;
cruzo navios de pedra
as sereias mostram-me,
na transparência, as cicatrizes
que eu recuso; não quero permanecer
no lugar onde as ondas se desfazem.

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