Monday, April 12, 2010

O poema da dor

foto de Elipse



Trazes contigo toda a nostalgia e toda a dor e o meu entendimento ainda vive na penumbra.
Trazes a cruz dos dias e das noites e a mancha amarga da tristeza que os deuses não ouvem; o rastejo da flor esmagada e o pomar prematuramente seco, o dilúvio de uma chuva que secou na foz e a nuvem transfigurada do silêncio agredido.
Trazes contigo o medo e sobre ti o cardo maduro, as palavras da resignação e o porquê dos sentidos sempre acesos.
Transportas um penhasco roubado às marés vivas e uma espiral de pesadelos rubros, a lápide da força e a prudência dos segredos.
Migram em ti as asas e as penas, a folhagem primaveril e o pilar quebrado, a robustez da arquitrave e a triangulação por apagar.
Que serei eu face à variação devoradora do teu sentir? Que farei no terreno da fronteira com a dor?
Não sei se deveria ter entrado mas já me vi em aparição na encosta onde os cardos te ferem.
Serei caminho ou luz ou tão apenas mão encostada à tua.


18 comments:

addiragram said...

Como dizer que a tua harpa toca em uníssono com o teu coração?

Um beijo!

Claudia Sousa Dias said...

beijo grande.

csd

mfc said...

O silêncio agredido e a prudência dos segredos devem-se submeter à vontade de viver.

Mónica said...

arrasador, n vale ser assim :P

Fatyly said...

Inquietações que gritam e geridas no silêncio paisagistico do nosso eu, guiadas ou sentidas num baloiçar visionário mais colorido e sempre ou quase sempre se acalmam numa "mão encostada à tua".

Um beijo sem dor e com um grande sorriso:)

© Piedade Araújo Sol (Pity) said...

uma foto a condizer com um texto excelente.

forte e muito bem escrito!

um beij

Nilson Barcelli said...

Antes de mais, parabéns pela excelente foto que fizeste. Não é a arte de fotografar que está em causa, mas o teu saber olhar...
A prosa é mesmo um poema. Tal como na fotografia, o teu saber olhar poético também se faz sentir nas tuas palavras.
Querida amiga, um beijo.

ivamarle said...

beeeeemm...tenho de digerir bem estas palavras antes de tecer qualquer comentário...para já fica um beijo!!

hfm said...

Gostei muito do que aqui encontrei.

Espanta Sono said...

Soberbo!!!
Fiquei deliciada :)
Beijinho

Mónica said...

(e parabéns pelas fotografias, já reparei q s tuas!)

Rosario Andrade said...

Carregada de vapores sensiveis. Mesmo nos intersticios...
Beijicos

CNS said...

Muito bonito. Muito. ( Queria dizer alguma coisa mais original. Mas desta vez, só isto,mesmo :)) )

njs

Nilson Barcelli said...

Reli e ainda gostei mais.
Querida amiga, bom resto de semana.
Beijo.

CamilaSB said...

Gostei muito do seu poema pleno de sentimentos, de emoções, profundo e tocante. destaco o verso « Migram em ti as aves e as penas...» de uma sensibilidade extraordinária!

CamilaSB said...

Gostei muito do seu poema, pleno de sentimentos de afectos...gostei sobretudo do verso « Migram em ti as aves e as penas...» muito triste, mas também muito nobre. A dor só quem a acompanha, ou sente...
e uma mão que se dá, é sinónimo de conforto de alívio, de amor.

ivamarle said...

talvez para já, uma mão encostada e carinhosa, terá de ser suficiente...não vale a pena deitarmo-nos na angústia quando o peso do corpo desanima; saberemos sempre que as mãos dadas não chegam para sacudir o peso do impossível...

costa simoes said...

Conheces-me ? Não.
Não poderias teres-me conhecido.
Mas , sim.
Mais,.
Ser causa da tua Obra.
Só pelo prefácio, Só pelo titulo, só pela capa,
Só.....,
Quem sou.
Caminhante como tu em mesmas águas.
E., nos cruzamos, e nos reencontramos e oxalá retornaremos.
Onde ?
Algures pelo etéreo.
De onde te aclamava.
Encoberto a espiar-te
no teu olhar esbarrar e fugir.
Não te Li, Mas poderia ser o motivo.
Fui assim, sou assim, não serei assim.
Pelo que adivinho que o teu livro encerra.
Até onde....