Sunday, September 07, 2008

Ficcionar 3. (procurando o sentido)


Vamos então ao relato. Ou antes, vamos esclarecer primeiro essa questão do sentido. Senti que te incomoda não saber como explicar os acontecimentos; não saber que nome dar ao impulso que desencadeou a acção. Devo dizer-te que não precisas de encontrar as razões para as coisas; nem sempre a relação causa-efeito própria dos laboratórios pode passar para os actos humanos, ou pode?
O fascínio é uma variante que não se testa nas reacções químicas e no entanto pode levar o alpinista ao desafio menos racional. Sim, o fascínio. Que pode não fazer sentido, do ponto de vista universal. Aí está o particular inerente ao ser humano.
Não procures os sentidos e relata. Começa por descrever o abraço à chegada. Não da maneira que te contei porque na realidade ela tinha de ser contida, já que estava a pisar outro mundo; podes descrever o abraço como se descrevem os grandes abraços das histórias que depois passam a filmes. Toda a verdadeira história merece ser vista por quem não sabe ler. Conta como ele sorriu quando a viu encaminhar-se para a multidão e como lhe abriu os braços acolhedores. Pedi-te que te alongasses nas cenas de amor, lembras-te?
Depois terás de voltar atrás, ao momento em que ela decidiu que iria. Mas deixa isso para depois, que antes tens de fazer o caminho que a levou ao hotel. Instala-a primeiro, antes de esmiuçares a questão das decisões.



3 comments:

CNS said...

Mas no instante decisão encontra-se todo o tempo do caminho.
Fabuloso este teu guião. :)

Claudia Sousa Dias said...

sintetizado numa fracção de segundo como um míssil que se dispara em direcção ao alvo...


CSD

Fatyly said...

Há momentos sem sentido mas bem sentidos sem haver necessidade de procurar exaustivamente o sentido.
Gostei **