Friday, August 15, 2008

A janela e a porta


A diferença é visível aos olhos: a janela permite contemplar e a porta permite ir.
Com a janela como fundo atravessa-se a solidão da escrita. Pelas vidraças passam as paisagens que as páginas descrevem e a vida é povoada de ambientes a tinta preta. O sol, pelo lado de fora, dá cor às letras mas aquece pouco.
Caminha-se pelo corredor, pelo lado de dentro da janela; para lá e para cá, ao encontro de mais solidão. No jardim as flores estão também aprisionadas e o vento que as agita prende-se ao lado de dentro dos muros.

A porta abre a vida e abre a esperança. Atravessá-la é deixar a escrita nas páginas e partir. A criatividade cansa; as narrativas levam o corpo à exaustão fingida e quando se relê a história já não se sabe por que razão se preencheu o vazio.
Para lá da porta a simultaneidade do tempo ajusta-se às horas e, sem espelhos que multipliquem as histórias, vive-se a parte cheia de cada momento. Lê-se o nascer do sol, mastiga-se a poeira e absorve-se a loucura das árvores quando o vento as agita nas copas e o dia se prolonga até ser noite.

4 comments:

Fatyly said...

Uma conjugação de emoções aprisionadas e libertas que cada um gere de forma diferente. Um texto fabuloso!

Um resto de bom dia e hoje vou voar pela janela:)!

Anonymous said...

"A criatividade cansa; as narrativas levam o corpo à exaustão fingida e quando se relê a história já não se sabe por que razão se preencheu o vazio." nem mais nem menos :D

peciscas said...

Pela porta se parte em direcção à vida.
Por ela se regressa para a solidão da escrita, que da vida há-de dar testemunho.

Claudia Sousa Dias said...

bela crónica sim senhor.


A abrir o apetite para mais.

Apetece perguntar: quand o próximo ciber concurso do Escritor famoso?


CSd