Ao fim de tantos anos o vento ainda uiva na varanda
Enquanto eu bordo as palavras num linho desbotado.
Não é que me apeteça ser esta ilusão de repouso na noite
Posso sempre fechar a porta ou esconder o corpo
Entre o linho e as palavras
Não é que me surpreenda a súbita chegada das sombras;
A memória das coisas é sempre o dia claro
Mesmo que seja noite.
Porém morro ainda no instante verbal
Sendo a morte apenas a palavra acorrentada.
O resto é o uivar do vento por dentro da solidão.
15 comments:
E é nesse uivo que tantas vezes se bordam palavras. Escondidas na sombra. Descobertas na luz. Muito, muito belo!
Não sei se foi do vento... mas senti um arrepio a subir-me pelas costas ao ler-te...
uma beijufa!
Sim, esse arrepio...
Palavras bordadas a ponto fino.
Belissimo!
Beijicos
A memória das coisas é sempre o dia claro
Mesmo que seja noite.
Como estas palavras têm cada vez mais significado, na fase da vida a que cheguei...
e com o passar do tempo vamos colecionando borados.
bordados que se fazem pela vida fora,
Nunca terminados...
Qual elipse que se desenrola no tempo
Texto melancolicamente belo...mas também aprisionante.
"É o progresso!"... diria Jacinto ao Manuel Fernandes!
Bordados como este não se apagam facilmente com o tempo.
Sim, este teu poema é soberbo.
Beijinhos.
Tenho por hábito retirar frases e depois reflectir, colocando-as em vários contextos...
"O resto é o uivar do vento por dentro da solidão"
"A memória das coisas é sempre o dia claro. Mesmo que seja noite."
Guardei-te
A escrita em nome da liberdade.
É assim que eu te vejo, Elipse.
Beijo grande
CSD
e então? não há mais palavras em linha?
uma descrição sem mágoas apenas realista, gostei :D
pois eu adoro tempestades e uivos e se calhar tb da solidão
fábula e restantes visitantes: eu não abandonei o blog nem deixarei de escrever.
Porém, algumas mudanças no meu ritmo, levaram a menos tempo (ou disposição) para escrever aqui.
Dentro em breve estarei de volta.
Obrigada pelas visitas.
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