Monday, March 24, 2008

Bordando sombras

Ao fim de tantos anos o vento ainda uiva na varanda
Enquanto eu bordo as palavras num linho desbotado.

Não é que me apeteça ser esta ilusão de repouso na noite
Posso sempre fechar a porta ou esconder o corpo
Entre o linho e as palavras

Não é que me surpreenda a súbita chegada das sombras;
A memória das coisas é sempre o dia claro
Mesmo que seja noite.

Porém morro ainda no instante verbal
Sendo a morte apenas a palavra acorrentada.

O resto é o uivar do vento por dentro da solidão.





15 comments:

CNS said...

E é nesse uivo que tantas vezes se bordam palavras. Escondidas na sombra. Descobertas na luz. Muito, muito belo!

J25 said...

Não sei se foi do vento... mas senti um arrepio a subir-me pelas costas ao ler-te...

uma beijufa!

K. said...

Sim, esse arrepio...

Rosario Andrade said...

Palavras bordadas a ponto fino.
Belissimo!

Beijicos

peciscas said...

A memória das coisas é sempre o dia claro
Mesmo que seja noite.


Como estas palavras têm cada vez mais significado, na fase da vida a que cheguei...

Fatyly said...

e com o passar do tempo vamos colecionando borados.

Mab said...

bordados que se fazem pela vida fora,
Nunca terminados...
Qual elipse que se desenrola no tempo

addiragram said...

Texto melancolicamente belo...mas também aprisionante.

mfc said...

"É o progresso!"... diria Jacinto ao Manuel Fernandes!

Nilson Barcelli said...

Bordados como este não se apagam facilmente com o tempo.
Sim, este teu poema é soberbo.

Beijinhos.

Toze said...

Tenho por hábito retirar frases e depois reflectir, colocando-as em vários contextos...

"O resto é o uivar do vento por dentro da solidão"

"A memória das coisas é sempre o dia claro. Mesmo que seja noite."

Guardei-te

Claudia Sousa Dias said...

A escrita em nome da liberdade.


É assim que eu te vejo, Elipse.


Beijo grande



CSD

Fábula said...

e então? não há mais palavras em linha?

Mónica said...

uma descrição sem mágoas apenas realista, gostei :D

pois eu adoro tempestades e uivos e se calhar tb da solidão

Elipse said...

fábula e restantes visitantes: eu não abandonei o blog nem deixarei de escrever.
Porém, algumas mudanças no meu ritmo, levaram a menos tempo (ou disposição) para escrever aqui.
Dentro em breve estarei de volta.
Obrigada pelas visitas.