Wednesday, December 05, 2007

Discriminação e Tolerância

M'sida Campus, em Malta

Serão sempre as estruturas de poder que geram a discriminação ou essa é uma coisa inata no ser humano, cuja tendência é dividir, separar e classificar?
Será que a tolerância desaparecia se o poder fosse mais justamente distribuído? Ou esse é um sentir tão profundamente integrado na natureza humana que logo assumiria outras formas?
Há sempre uma diferença entre as pessoas, uma diferença da qual ninguém pode demarcar-se: o que é bom para mim não é necessariamente bom para o outro. É aí que reside e diferença e é por isso que se discrimina ou se tolera.
Talvez se possa dizer que ao longo a História a tolerância existiu sempre que o controlo por parte do poder não era possível; desse ponto de vista tolerar é assumir o domínio e consequente minimização do outro. Será, pois, a tolerância uma recusa?
Contudo, em questões de natureza religiosa não se pode falar em tolerância uma vez que estão em causa práticas ligadas a valores. Ganha a exclusividade e por isso prevaleceu a lógica da conversão. Ou a sua imposição.
Tolerância absoluta seria um problema para os Estados. Tolerar tudo seria prescindir das regras e das normas que nos regulam os comportamentos. Ou não?
E nós, o que é que toleramos quando somos tolerantes?

Não era preciso ter sido em Malta, mas calhou ser lá o lugar da reflexão. Gente da História e de outras áreas das ciências humanas juntaram-se para cumprir mais um encontro em honra da deusa Clio.

7 comments:

SoNosCredita said...

discriminação... provavelmente, existirá sempre.

cabe-nos conseguir que, pelo menos, seja uma minoria a fazê-lo!

addiragram said...

Interessantíssimo este teu post. Isto dá pano para mangas...Começarei por dizer que me parece que a reflexão em torno da tolerância terá de ser sempre multidisciplinar. Do ponto de vista psíquico na base da intolerância está um processo de clivagem, processo de origem mto precoce, em que se divide o mundo em bom e mau. Bom, somos nós, mau é o desconhecido, o diferente. Para dar mais consistência a este funcionamento todos os nossos aspectos mais desagradáveis e mais insuportáveis são projectados nesse
mau.Assim, continuamos "santos" e não nos deprimimos com as nossas misérias. A transformação para a capacidade de ser tolerante só acontece quando se tolera a dor que resulta de se admitir como fomos injustos em relação a este ou aquele. Daí decorre a descoberta das diferentes facetas de cada um e a assunção de que em nós reside também uma parte intolerante. Assim a tolerância parece ser um devir e não uma questão conseguida uma vez por todas. Todas as diferenças servem de suporte aos argumentos dos intolerantes.Deveria criar-se um Observatório dos nossos micro- comportamentos intolerantes e partir daí investigar-se as diferentes intolerâncias sociais. Bom podíamos continuar a pensar sobre isto.....Beijinhos

Claudia Sousa Dias said...

Boa pergunta Elipse.

Com pensamos no caso da professora no Sudão (intolerável), na célebre frase "Tu, calla-te!!" dirigida a um ditador (um acto de intolerância irritada que soube muito bem ouvir) e dos milhões de crianças que são submetidas à excisão do clítoris em nome da submissão da mulher em sociedades patriarcais, invocando para isso preceitos religiosos...

A lista de situações é interminável...

CSD

Fatyly said...

A resposta às tuas perguntas/inquietações variam quer em género, número, local, etc. etc. e há quem nunca tenha vivido fora do intolerável daí ser um assunto muito discutível. Dessas reuniões saí sempre algo positivo. Gostei desta tua abordagem e de quem já comentou.

mfc said...

Entendo que, para não sermos hipócritas, que toleramos (de uma forma geral) aquilo que não tem a dimensão necessária para nos incomodar!

Mónica said...

toleramos o que não nos incomoda, toleramos até onde o nosso "equilibrio biologico" n é tocado

cynha said...

Discriminação?
pra que se no final paramos todos na mesma meta?!?! =\