Tuesday, July 24, 2007

Brindemos à escola do futuro

(clicar na imagem)


Ainda não sei muito bem como é que vou trabalhar na sala de aula no próximo ano lectivo mas parece-me que vai haver uma grande revolução nos meus métodos de ensino e nos dos meus colegas professores.
Consta-me que vou ter um portátil na minha mesa.
Pagarei por ele 150 euros e depois, durante 36 ou 12 meses, terei um encargozito que vai depender do contrato de fidelização à TMN que eu “quiser” fazer. Nada de especial. Mas será o meu portátil, porque se o pago ele é meu.
Meu?
Mas o que farão 28 alunos dentro da sala enquanto eu faço as minhas pesquisas e selecciono imagens e explico como é que eles colocam os trabalhos feitos na plataforma interactiva?!
Bem, alguns deles – se estiverem matriculados no 10º ano e tiverem um rendimento familiar que ainda não percebi se tem de ser alto ou baixo – poderão ter também o seu portátil mas aí as coisas complicam-se, exactamente como quando se quer fazer um exercício ou trabalhar um texto e só quatro, em vinte e oito, é que trouxeram o livro o ou caderno de exercícios.
Quanto aos outros, será que farão uma invasão à minha mesa, com o respectivo alarido a acompanhar o trabalho? E que farei com o manual? Para que fim terão os pais deles gasto centenas de euros em manuais? E que farei quando passar pelas mesas deles e verificar que a maioria está “agarrada” ao “Messenger” ou à página do Hi5?
Ok, eu sei que todas as transições são assim, mas caramba, já ando em transições há tantos anos e os resultados a que tenho assistido não são lá de grande sucesso!
Bem sei que a formação na área das Tecnologias da Informação e Comunicação é a coisa mais importante do mundo e arredores neste momento; reconheço-lhes as vantagens.
Porém, o que falta para tudo isto fazer sentido é qualquer coisa que não sei explicar muito bem, mas deve ter a ver com um estrutura que não vejo, uma organização que não descortino, uma maneira de fazer as coisas sem que as empresas envolvidas corressem antes de tudo para o lucro pessoal, marimbando-se para os resultados que os meninos vierem a ter – quanto mais acríticos forem os futuros cidadãos melhor, desde que dominem as TIC – e para aquilo que os pedagogos agora chamam pomposamente as competências da aprendizagem, expressão que eu escrevi demasiadas vezes no ano lectivo que terminou, em documentos e formulários que enchem os dossiês nas prateleiras da minha escola.

Certamente terei mais umas grelhas para preencher com os dados relativos ao domínio das técnicas de pesquisa na net, à capacidade de seleccionar informação, à velocidade com que tecla, ao domínio do uso do corrector ortográfico… tudo isso e mais ainda, se houver tempo, umas coisitas relativas à formação de Portugal ou à bipolarização do mundo nos anos 50 ou mesmo à formação da União Europeia, já que é nisso que estamos metidos embora sem grande capacidade para fazermos face a todas as coisas da moda.


10 comments:

Fatyly said...

Não brindo porque não estou dentro do assunto:(

CNS said...

Há uma frase sobre mudanças que me parece que se aplica á situação actual do país:
"Temos que mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma" Il gattopardo.

bjs

addiragram said...

Todos conhecemos também a outra frase:
"com papas e bolos enganam-se os tolos"!
Para quem conhece o estado das escolas e do ensino acha crível
que a evolução dos nossos alunos se faça por essa via?
Cheirou-me a um novo-riquismo irrealista e demagógico. Mas temos de dar o benefício da dúvida...

peciscas said...

Conforme já alguém disse, o choque tecnológico pode ser muito bonito (e não duvido de que é preciso dotar as escolas de instrumentos nesta área) mas, enquanto não se investir na valorização dos trabalhadores da escola, na sua credibilização social, na sua formação, nada de essencial mudará.

Anonymous said...

E nada mudará enquanto houver esta classe de professores que...se não têm queriam ter, se tem são tudo um problema.

Mudar mentalidades, sim, mas primeiro a dos professores que são preguiçosos, indolentes, que querem é ter muito tempo para tudo menos para trabalhar...e depois os alunos é que não prestam porque a familia não lhes dá educação, ou não os motiva...

Que bom trabalhar apenas umas horitas por dia e depois ir para a fnac, cinema, shopings, exposições...pois que professor que se preza tem de papar tudo o que por aí vai havendo para depois não ficar menos intelectual que o colega...sempre com a desculpa que precisam desse tempo para preparar as aulas...

Acabou-se a mama, ah pois, já era tempo, e se não têm vocação para aturar alunos, ensinar gente...vão fazer outra coisa, que trabalho há, pois há.

Anonymous said...

Eu vejo pelas minhas aulas, na universidade, em que as pessoas passam a maior parte do tempo com portateis ligados, porque naqueles casos o trabalho tem mesmo de ser feito no computador. Mas isso não invalida, que muito do tempo seja passado em hi5 e outras distracções, e que (como é "óbvio") o messenger está sempre ligado.

Mas o que vejo é que actualmente o batulho de uma mensagem nova no messenger (que se reconhece logo) tem o mesmo tratamento que o som de um telemovel. É ignorado. Mesmo que o som da mensagem seja mais alto que o do professor a falar, este nem pestaneja.

Acho que é esse p rumo que a coisas estão a tomar. Os alunos são cada vez mais independentes, e como tal se não fazem nada nas aulas problema deles. Não sei... não faço juizos.

Mónica said...

elipse! tu não te preocupes pq é tudo a fingir, figurantes e tal :P

José Manuel Dias said...

...o que nos motiva são os desafios...Bjs

Claudia Sousa Dias said...

Minha querida, junta-te ao clube dos professores/formadores Desesperados por causa de Alunos Preguiçosos que querem ficar Inteligentes e Cultas apenas com meia dúzia de Cliques de um Ratinho Eectrónico!

Beijinhos

Claudia Sousa Dias said...

Mas olhe caro anónimo, que enquanto houver profs que gastem o seu tempo livre na FNAC a comprar e a ler livros, a visiitar exposições e a ver bom cinema ou teatro, menos mal!

Pelo menos têm algo de inteligente para dizer durante as aulas, sem ser aquilo que vem na estrutura curricular.

Pior são aqueles que passam a vida a fazer compras destinadas somente à ostentação e que não sabem falar de outra coisa que de marcas de roupas, óculos ou carteiras!

É curiodso, mas no último seminário sobre leitura e literacia em que participei, vi de facto, muitas etiquetas em roupas e acessórios. Mas não vi um único professor com um livro na mão.

Isso é que é sintomático da sociedade em que vivemos.

CSD