Tuesday, March 20, 2007

Os Impérios 2.

D. Manuel I

Tudo começa com a instalação dos países ibéricos nas ilhas atlânticas, no século XIV.
A partir daí a Europa achou que tudo lhe era possível. Progressivamente a extensão do sistema global faz com que os europeus acreditem que não há fronteiras para o comércio, primeiro, e para a instalação política, depois.
Primeiro são as ilhas desabitadas; depois as terras dos outros que vêem sair de barcos com asas os deuses brancos, ameaça que os antepassados previram e anunciaram. As armas favoreceram o domínio e a partir daí assistimos à marginalização, à escravatura e depois à extinção das pequenas culturas indígenas. Desde as florestas às espécies animais, passando inevitavelmente pelos homens, o domínio europeu impôs-se destruindo mais do que construindo. Ou se alguma coisa construíram foi sempre em prol dos seus interesses “civilizacionais”.
No Oriente, porém, a imposição era menos fácil. Quando muito havia a possibilidade de domínio dos circuitos comerciais, com a chegada da pimenta à Europa, via rota do Cabo, a preços mais baixos e o consequente desvio dos centros económicos das republicas italianas para Lisboa.
Mas isto foi só o começo.
Muitos Impérios se constituíram depois disso como se o modelo romano herdado pudesse ser retomado e continuado.
D. Manuel intitulava-se Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia.
Dos Algarves, sim, que eram as terras do ocidente andaluz (al garb al andaluz); d'aquém e d'além mar também, porque Ceuta e as outras praças marroquinas podiam ser o começo do alargamento da terra e da fé (é difícil de estabelecer uma ordem entre elas); senhor do comércio e navegação era desejo de um rei “venturoso” que mandou para o Índico as embarcações que iriam estabelecer o nosso domínio sobre as rotas muçulmanas. Engano de quem governava com os olhos no Tejo, mas ainda assim sem ter saído a barra. Megalomania condizente com a pequenez amaldiçoada…

7 comments:

Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

Ah, e a barbárie comandada por Vasco da Gama de que pouco se fala...

peciscas said...

Era bom que muita gente que anda por aí lesse e compreendesse textos como este.

Elipse said...

a barbárie comandada por Vasco da Gama não foi nada comparada à barbárie comandada e cometida por Afonso de Albuquerque... o carniceiro.
... e o curioso é que o vice-rei, no início (ele e o D. Francisco de Almeida), governavam sediados no interior de um barco. Quando se fala num Império Marítimo é essa a imagem que me vem à ideia.

Anonymous said...

Magnífico post.

Ainda se continua a defender as conquistas e a enaltecer a bondade de portugueses.

Fatyly said...

Quando estudei a nossa história fiquei, ficámos com uma ideia de que fomos os super sumo da batata. Falavam de actos cheios de bravura e coerência, ocultando as formas dantescas usadas para muitos efeitos, bem conveniente para o regime vigente!
Mudaram-se os tempos e fui relendo e ouvindo a versão real de muitos factos através de José Hermano Saraiva e de muitos que fui lendo.
Certo ou errado fechou-se um ciclo com a perca de tudo que fora conquistado/roubado!

Vivemos numa democracia ...mas numa versão mais moderna...a história repete-se.

Não sei se fiz uma leitura correcta, mas é a minha!

Elipse said...

sim, fatyly, o ciclo dos colonialismos fechou-se e Portugal tardou...
a Europa é agora um continente envelhecido, embora julgue ainda que é o primeiro...
e mesmo nisto de "Fazer História" continuo a ver-nos a olhar insistentemente para o nosso umbigo, havendo outros cujo olhar alcança mais longe. Porém, em tudo estão presentes interesses económicos e, parecendo que não... interesses ainda ligados à grandeza política.

mfc said...

É bom rememorar e ver os antigos conceitos bem integrados e compreensíveis.
É difícil ser-se claro.