Tuesday, March 20, 2007

A dimensão ecológica do Imperialismo

Polinésia


Visões novas da História velha.
É fascinante a maneira como outros olhos vêem as mesmas coisas. Não que nunca as tivéssemos pensado, não é isso! É o desenho feito com outras cores, às vezes as mesmas que costumamos usar, mas noutros esboços.
Há uma dimensão ecológica no colonialismo. A instalação dos europeus no mundo não europeu acarretou muitas e variadas catástrofes – erosão dos solos, tempestades de pó, desaparecimento de espécies animais e vegetais, introdução de outras, importação de modelos paisagísticos…
Eram paraísos as ilhas (e ainda o são, pelo menos nos mitos) e todos os lugares situados abaixo dos trópicos. Lugares semelhantes a um qualquer Éden onde se encontrava o sossego mas também a possibilidade de pôr em prática a exploração capitalista, fosse de um cultivo rentável, fosse da rentabilização da actividade turística, se quisermos aproximar-nos das ambições actuais.
A expansão imperialista vai provocar profundas alterações nos sistemas ecológicos: a introdução do cavalo nas Américas, dos coelhos na Austrália ou até das simples batatas na Europa mudou a ecologia do planeta. É claro que não foi a primeira vez que tais mudanças alteraram a ecologia à escala planetária; o desenvolvimento da agricultura e a domesticação dos animais, no Neolítico, devem ter feito “estragos” maiores; porém, o ritmo de aceleração e a escala a que as mudanças ocorreram nestes últimos séculos não tem comparação possível.
Jardins decorativos cheios de plantas exóticas alimentavam o imaginário barroco e depois o romantismo, por isso a procura de novas espécies intensificou-se nos séculos XVIII e XIX: Cook e Bougainville viajam nessa busca e o espaço sub-tropical é devastado, como o são as vidas dos seus habitantes.
A História cultural da Natureza é tão significante como a História ecológica da cultura.
História ambiental? Pode ser que sim, que esteja a surgir uma nova área de estudos. Pelo menos trata-se de um campo de estudos interdisciplinares que envolve as relações entre cultura, tecnologia e natureza.



9 comments:

Anonymous said...

A propósito de ecológicas ocupações de lugares que ninguem conhece, do outro lado do mundo
- já ouviste falar no Atol de Kwajalein, na Ilhas Marshall?


v/
http://www.angelfire.com/hi2/kwa/

http://www.williamson-labs.com/kwaja.htm

http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=8

Anonymous said...

Sinceramente não sei o que pensar e dizer, porque fiquei numa espiral de sentimentos contraditórios. Estudos? e mais estudos...e ficamos pelos estudos! Mudar? toca a mudar e ficamos apenas no mudar!
A natureza enraivecida repõe tudo como dantes!
Julgo eu de que...

Elipse said...

mas é preciso que haja quem faça isso, fatyly... para que não se perca a memória!
bem sei que a História não é assunto que te apaixone, mas aqui não se trata de estudos de prospecção; é apenas registo de passados... e dos seus estragos, neste caso.
soluções? ... são decisões políticas e económicas, todas!

pirata... obrigada pelas recomendações.

addiragram said...

Tens um desafio no "Aguarelas"!Queres aproveitá-lo?

Elipse said...

claro que vou aproveitar. Mas falta-me ainda um dia para celebrar primavera... por questões de gestão do tempo.
Um beijo.

mfc said...

Lembro-me de ter lido algures que a "constipação", a par da barbárie evangelizadora, foi a responsável por um número incontável de mortes.

Anonymous said...

Olha Elipse tens razão, mas sabes que se tivesses sido minha professora e não o maquivélico que tive, talvez não houvesse esse nó, que se vai desfazendo à medida que vou aprendendo contigo e com outros que leio. Assim vou revendo e sinceramente gosto da forma como expões os assuntos.O meu sincero obrigado!
Beijos

wind said...

Desculpa não comentar estes 2 últimos posts, mas não gosto de história, nem leio:((((
beijos

peciscas said...

Aqui deixo mais um exemplo a confirmar o que dizes.
Quando estive em Timor, dei conta de que o sândalo que o Camões cantou nos Lusíadas tinha quase desaparecido. Havia, segundo constava, apenas uma meia dúzia de árvores, se tanto.
Os japoneses, quando ocuparam a ilha, dizimaram, em grande parte, a espécie, que era muito valorizada.
Os portugueses, acabaram essa obra.Por vezes com aldrabices do género de chegarem a uma casa timor cuja cobertura assentava em vigas de sândalo e, prometendo-lhes um telhado novo "e mais moderno", lá levavam a preciosa madeira.