Saturday, March 03, 2007

Globalização

imagem daqui

O corpo é o lugar onde antropólogos e historiadores registaram maior influência do estabelecimento de modelos “globais”, podendo dizer-se que o crescimento das manufacturas na Europa Ocidental, a partir do século XIX, é o imperativo económico que comanda esta uniformização
A mudança nos hábitos do corpo leva a que rapidamente tenhamos os funcionários japoneses do regime Meiji (1894) vestidos à maneira Ocidental, para que a integração nos imperialismos seja perfeita. Porém, o uso do fato passou a trazer também a uniformização dos procedimentos burocráticos e uma marca interna de confiança e respeitabilidade associada ao modelo.
É nesta altura que o uso do relógio se estende a toda a Europa e respectivas colónias possibilitando uma standartização do tempo. Até as cidades indianas começam a ter grandes torres com relógios que regulamentavam o tempo e o ritmo do trabalho e dos negócios.
São ligações multilaterais as que se estabelecem desde que a Europa inicia o seu processo expansionista, no século XVI e isto a que hoje chamamos globalização não é de agora.
Desportos como o football, o rugby e o cricket são levados da Europa para o resto do mundo e da Ásia vêm para o mundo ocidental o pólo e o hockey; os padrões de cozinha, a etiqueta e a diplomacia política partem da França; do mundo Germânico são os conceitos de ordem bem como o conhecimento científico e humanístico.
Depois os jornais fazem o resto: de cerca de 3168 jornais em 1828 passa-se a cerca de 31026 em 1900. E também o telégrafo, que liga em 1863 a Europa à Ásia e em 1866 ao outro lado do Atlântico.
Tomika Te Mutu, o chefe Maori da tribo Ngaiterangi, da Nova Zelândia, deixa-se retratar vestido de fato e gravata, o que contrasta significativamente com as tatuagens que lhe cobrem todo o rosto e as penas que ostenta na farta cabeleira.

De que se fala, então, quando se fala de globalização?


Estou a ler Christopher Bayly, The birth of the Modern World, London, Blackwell, 2004


11 comments:

Espaços abertos.. said...

Globalização um mundo onde absorve tudo, e aumenta o mundo dos opostos.

Bom fim de semana

Beijinhos Zita

mfc said...

Há contudo um aperfeiçoamento, e uma certa sofisticação, dos modelos anteriores. Nessa medida o progresso é mensurável sector a sector e, no capítulo técnico, não haja dúvida que houve avanços.

Já no capítulo das relações humanas, evoluimos do regime da escravatura para o do salário mínimo.... no curtíssimo espaço de uns bons milhares de anos!!!
Este avanço notável... é obra!!!

DairHilail said...

apssei, foi o vento qure me trouxe é o vento que me leva, mas toquei e amei este cantinho.
fica bem!

Claudia Sousa Dias said...

Subscrevo o último parágrafo do mfc. é o que me tenho fartado e dizer nos últimos anos!


CSD

ivamarle said...

será que se pretende que seja uma perda de identidades?

Maria Arvore said...

O chefe Maori vestiu fato e gravata para a fotografia mas manteve as tatuagens e as penas na cabeça.
E a globalização deste século XXI pretende uniformizar os comportamentos sociais, económicos e políticos. De tal forma que quem quer conseguir um emprego, para ficar bem na fotografia tem de deixar os piercings em casa.

Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

mas tudo acontece com maior rapidez. as comunicações colocam-nos do outro lado do mundo na hora.

subsistem os centros "que ditam" e as periferias que "seguem". ser contra a globalização é apenas querer dar mais poder aos últimos circulos dessas circunferências.

un dress said...

Do corpo concreto, cada vez mais pequeno... e do corpo abstracto enquanto adaptador.... ponte ou meio de "estar" em comum sem propriamente "ser" em comum... e

Do corpo adaptativo condição de existência comum confrontado com a criação de novos códigos de sobrevivência...roupagens... e

depois o outro corpo: o do trabalho...igualmente forçado, num ápice, a adaptar-se às novas escravaturas ( processos de produção, afunilamento das condições de vida e dos sonhos )... e

A morte lenta do ser em prol da economização desenfreada (circulação e acumulação de capital...vector essencial ( o único!) deste obsceno modus vivendi...

Daí, provavel, a importância cada vez maior da afirmação das culturas e das identidades locais, única forma de fazer face à voracidade deste mundo de gelo... e

...e beijo :)

wind said...

Excelente post histórico-social.
Globalização agora para mim é igual a aculturação visto antropologicamente.
beijos

Fatyly said...

Bem ou mal evoluímos bastante e pena é que cada vez mais se percam laços afectivos entre os seres humanos.
Para onde vamos? não sei, só sei que se fala tanto e pratica-se tão pouco.
Interessante!

Beijos

addiragram said...

Preocupo-me com os fenómenos psicológicos que conduzem o Homem a uma massificação da escolha.A preponderância de modelos e a sua transposição, às vezes cega, para outras culturas,não será também resultado de uma, quase íntrinseca, falha narcísica?