O corpo é o lugar onde antropólogos e historiadores registaram maior influência do estabelecimento de modelos “globais”, podendo dizer-se que o crescimento das manufacturas na Europa Ocidental, a partir do século XIX, é o imperativo económico que comanda esta uniformização
A mudança nos hábitos do corpo leva a que rapidamente tenhamos os funcionários japoneses do regime Meiji (1894) vestidos à maneira Ocidental, para que a integração nos imperialismos seja perfeita. Porém, o uso do fato passou a trazer também a uniformização dos procedimentos burocráticos e uma marca interna de confiança e respeitabilidade associada ao modelo.
É nesta altura que o uso do relógio se estende a toda a Europa e respectivas colónias possibilitando uma standartização do tempo. Até as cidades indianas começam a ter grandes torres com relógios que regulamentavam o tempo e o ritmo do trabalho e dos negócios.
São ligações multilaterais as que se estabelecem desde que a Europa inicia o seu processo expansionista, no século XVI e isto a que hoje chamamos globalização não é de agora.
Desportos como o football, o rugby e o cricket são levados da Europa para o resto do mundo e da Ásia vêm para o mundo ocidental o pólo e o hockey; os padrões de cozinha, a etiqueta e a diplomacia política partem da França; do mundo Germânico são os conceitos de ordem bem como o conhecimento científico e humanístico.
Depois os jornais fazem o resto: de cerca de 3168 jornais em 1828 passa-se a cerca de 31026 em 1900. E também o telégrafo, que liga em 1863 a Europa à Ásia e em 1866 ao outro lado do Atlântico.
Tomika Te Mutu, o chefe Maori da tribo Ngaiterangi, da Nova Zelândia, deixa-se retratar vestido de fato e gravata, o que contrasta significativamente com as tatuagens que lhe cobrem todo o rosto e as penas que ostenta na farta cabeleira.
De que se fala, então, quando se fala de globalização?
Estou a ler Christopher Bayly, The birth of the Modern World, London, Blackwell, 2004
11 comments:
Globalização um mundo onde absorve tudo, e aumenta o mundo dos opostos.
Bom fim de semana
Beijinhos Zita
Há contudo um aperfeiçoamento, e uma certa sofisticação, dos modelos anteriores. Nessa medida o progresso é mensurável sector a sector e, no capítulo técnico, não haja dúvida que houve avanços.
Já no capítulo das relações humanas, evoluimos do regime da escravatura para o do salário mínimo.... no curtíssimo espaço de uns bons milhares de anos!!!
Este avanço notável... é obra!!!
apssei, foi o vento qure me trouxe é o vento que me leva, mas toquei e amei este cantinho.
fica bem!
Subscrevo o último parágrafo do mfc. é o que me tenho fartado e dizer nos últimos anos!
CSD
será que se pretende que seja uma perda de identidades?
O chefe Maori vestiu fato e gravata para a fotografia mas manteve as tatuagens e as penas na cabeça.
E a globalização deste século XXI pretende uniformizar os comportamentos sociais, económicos e políticos. De tal forma que quem quer conseguir um emprego, para ficar bem na fotografia tem de deixar os piercings em casa.
mas tudo acontece com maior rapidez. as comunicações colocam-nos do outro lado do mundo na hora.
subsistem os centros "que ditam" e as periferias que "seguem". ser contra a globalização é apenas querer dar mais poder aos últimos circulos dessas circunferências.
Do corpo concreto, cada vez mais pequeno... e do corpo abstracto enquanto adaptador.... ponte ou meio de "estar" em comum sem propriamente "ser" em comum... e
Do corpo adaptativo condição de existência comum confrontado com a criação de novos códigos de sobrevivência...roupagens... e
depois o outro corpo: o do trabalho...igualmente forçado, num ápice, a adaptar-se às novas escravaturas ( processos de produção, afunilamento das condições de vida e dos sonhos )... e
A morte lenta do ser em prol da economização desenfreada (circulação e acumulação de capital...vector essencial ( o único!) deste obsceno modus vivendi...
Daí, provavel, a importância cada vez maior da afirmação das culturas e das identidades locais, única forma de fazer face à voracidade deste mundo de gelo... e
...e beijo :)
Excelente post histórico-social.
Globalização agora para mim é igual a aculturação visto antropologicamente.
beijos
Bem ou mal evoluímos bastante e pena é que cada vez mais se percam laços afectivos entre os seres humanos.
Para onde vamos? não sei, só sei que se fala tanto e pratica-se tão pouco.
Interessante!
Beijos
Preocupo-me com os fenómenos psicológicos que conduzem o Homem a uma massificação da escolha.A preponderância de modelos e a sua transposição, às vezes cega, para outras culturas,não será também resultado de uma, quase íntrinseca, falha narcísica?
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