Sunday, January 14, 2007

a síntese

Há assuntos que, só por si, são controversos, especialmente se envolvem emoção na sua análise e isso acontece inevitavelmente quando somos parte do problema.
A cada um o lugar de opinião; a cada um o direito de exprimir razões e emoções.
Muitos passaram por aqui e deixaram sins e nãos. É fundamental que se abram espaços à opinião livremente expressa.
Contudo uma das pessoas que por aqui passou, deixou esta síntese que me satisfez pela maneira conhecedora e objectiva como equacionou as várias faces do mesmo problema.
Eu não reduziria a questão apenas ao nosso país, pois sei que toda a Europa Ocidental vive o mesmo drama. Contudo, ao lermos este esquema de causas, conseguimos entrelaçar um conjunto de coisas nas quais cada um de nós já pensou mas nunca escreveu desta maneira.

Disse a addiragram que "a jovem democracia também trouxe:

1- a confusão de papéis;

2- a implementação de modelos preversos - como o do ensino integrado;

3-a confusão entre autoritarismo e autoridade;

4-uma política de negação dos problemas sociais e suas gravosas consequências;
5- uma desresponsabilização progressiva dos vários intrevenientes (é sempre o Outro o culpado);
6- uma falência da função paternal (entenda-se aqui o fundamental que é a introdução de regras e limites) e um ênfase dado ao lado maternal (compreender, tolerar, não frustrar...);
7- a mentira da "mascarada" dos números e dos objectivos...

Só saneando este lado mentiroso da mente que está presente nos políticos, nos pedagogos, nos pais, nos professores e nos alunos retomaremos alguma lucidez para enfrenter esta montanha de escolhos."




13 comments:

Fatyly said...

Esta resposta foi memorável e veio ao encontro do que por vezes digo: mudar a mentalidade de um povo demora anos senão décadas.
Saídos de uma ditadura de quarenta tal anos em que tudo era proibido entrámos numa democracia de olhos esbugalhados...indo do 8 ao 80.
Evoluímos em muita coisa, somos livres mas reféns dos erros implementados ou efectuados e com eles veremos a saída.
Os jovens e falo dos 18/30 anos, já começaram a dar sinais de que se fartaram do SIM a tudo o que fizeram e hoje muito deles já exigem aos mais novos a saberem ouvir e aceitar um NÃO!

Eu não disse nada! Força mulher!

Beijos

~pi said...

A minha experiência relativamente às escolas situa-se na Componente de Apoio à Família nos Jardins de Infância.
A este nível, o factor predominante que observo ( em cerca de 70 jardins que coordenei dentro deste âmbito na área do grande Porto, é, sem dúvida, a total crise referente a ser mãe e ser pai. Sê-lo, deixou de ser um projecto integrado e passou a ser um aparte, um acaso, uma menos-valia, por vezes, um empecilhamento em vidas, que, já antes dos filhos, eram bem difíceis. Observável a olho nu...

Penso que não há que tecer qualquer juízo de valor em relação a isso, todos nos sentimos impotentes pra lidar com tanta desconexão e carência.( Por isso também, eu mesma, decidi mudar de ramo-ainda estou em processo...).

Do que li atrás e do que também sei, as dificuldades nos outros níveis de ensino são exponencialmente crescentes... e pergunto-me se não "deveríamos", entre outras mil abordagens possíveis, começar por apoiar os pais na sua própria gestão emocional e social. O que senti, em muitos casos (e não falo da esfalfada e oca designação das chamadas famílias disfuncionais- que ninguém sabe o que é e onde todos cabemos...)é que as pessoas estavam tão profundamente magoadas e abandonadas que apenas poderiam cortar as asas da alma e do corpo às suas crianças. Porque sim...

Para quem trabalha estas questões, os recursos são tão escassos que por vezes é uma verdadeira agonia... Falo de meios humanos, sobretudo. Técnicos não-professores pouco entram nas escolas portuguesas... Nunca hei-de conseguir entender como pode um país estar tão perdido a olhar pra dentro de si mesmo. Mesmo com a ditadura...

E será que as prioridades dos conteúdos do que se ensina não deviam ser repensadas? pergunto-me...quem pode ensinar o quê a gente deserta?

Fazer um bocadinho cada dia do mais urgente, do mais inadiável em casos pontuais, será suficiente? Bem, foi só o que consegui fazer. No meu caso. Aprendi bastante, aliás, mas duvido que chegue.
Duvido que chegue eu ter aprendido bastante...

Foi só uma pequena partilha...

Beijos, Elipse

Elipse said...

Acho que também mereces um post, luci.
sem desprimor algum pelas outras contribuições, mas esta também interpreta, com algum distanciamento, o lamaçal emocional em que estamos metidos.
Sim, mudar é difícil, especialmente se não há saída à vista, ou não se sabe qual a porta!
obrigada.

mixtu said...

miguita... estava eu para escrever mas a Luci... escreveu e como escreveu... como dizes é post...

é caso para dizer e se a blog fosse (sempre) isto...

um besito, :)

mixtu said...

sorrisos... masculino, en castellano: sonrisas (feminino)...

deixando sorrisos... mas porque raio é que há-de ser masculino e do outro lado feminino...

passando...sem deixar registo :)
besitos

Anonymous said...

A ditadura, especialmente em Portugal, foi um desastre tão grande porque Salazar tinha uma mente curtíssima.
Salazar nãi deixou o país crescer, não deixou que pequenos empresários aumentassem os seus negócios para não fazerem cocorrência aos já maiores, não lhes dando alvarás para poderem crescer. Isto é objectivamente verdade.
Pode parecer pouco, mas isto é fechar as mentes é formatar o pensamento.
Houve pelo menos duas gerações a ensinar aos filhos que se não podia pensar de outra maneira.
Não havia acesso a estudos. No 25 de Abril existiam 30% de analfabetos. Diplomados uma pequeníssima parte.
30 anos é muito pouco para formar o pensamento.

Isto foi para tentar dar uma achega a uma parte do comentário da Luci.

Anonymous said...

Embora correndo o risco de ser mal interpretado (a escrita nunca foi o meu forte) não resisto a uns comentários, até porque é uma área que me tem interessado cada vez mais, apesar de me ser profissionalmente (mas não como pai) completamente alheia.
Primeiro, e como a própria Elipse disse "...toda a Europa Ocidental vive o mesmo drama." Deixemos por isso um pouco de fora a ditadura e a democracia. Contribuiram, sem dúvida, e grandes progressos foram feitos desde há trinta anos, mas não ajuda muito continuarmos a culpabilizá-las.
Segundo, aproveitando a imagem do "post" anterior, diria que todo o labirinto daquele tipo tem saída fácil, se nele entrarmos sabendo o que estamos a fazer. Se estamos perdidos lá dentro, muito dificilmente nos reencontramos. Passando para o ensino, o que sinto é que a entrada já está "viciada". Os segundos, terceiros ciclos já estão perdidos num labirinto terrível. Correcções serão sempre paleativos, frustrações, raramente gratificantes. Será no primeiro ciclo que acredito encontraremos as causas primeiras de muitos problemas, deveria ser por aí que se deveria começar a "revolucionar". Porque os meninos do quarto ano são muito mais capazes do que o que habitualmente se assume. Porque é nessas idades que grande parte do que somos é construído. Sem menosprezar a gigantesca tarefa que continuarão a ter os educadores dos nossos adolescentes, e correndo o risco de ser considerado um herege (é a minha costela anarquista a falar), diria que sobretudo há que olhar para o início, para o primeiro ciclo ou até mesmo o pré escolar. O resto, é dar o nosso melhor, mas conscientes que é uma batalha apenas com vitórias pontuais.
Alterar mentalidades demora gerações. Por deformação profissional, pensar a cem ou cento e cinquenta anos não me custa. Mas em educação parece-me que tem de ser também esse o horizonte de planeamento (a Marta já o referiu). O que não parece ser o posicionamento dos actuais decisores/políticos.
E porque não desencadear um processo para inclusão de disciplinas de cidadania desde o primeiro ciclo? Não apenas boas maneiras, tipo ajudar a velhinha a atravessar a rua ou deitar o papel para reciclagem. Não! Intervenção, luta, realizações concretas! Muito trabalho, mas a isso estão habituados alguns professores, educadres, pais.
Será uma saída? Talvez. Pelo menos é o nosso contributo concreto. Como se avança para algo assim?

Anonymous said...

é este tipo de lucidez que nos faz falta. Cada dia e perante os exemplos que conheço, me sinto menos confiante no género humano para levar a bom porto, uma vivência pacífica e tolerante, onde impere o respeito e a noção da pequenez de cada um, frente a este vasto universo...

Elipse said...

muito lúcidos todos estes comentários
(com os sorrisos e as sonrisas mixturadas pelo meio...).

"Penso que não há que tecer qualquer juízo de valor em relação a isso, todos nos sentimos impotentes pra lidar com tanta desconexão e carência"... mas sem querer ajuizamos, especialmente se nos dói a ferida, diariamente, diariamente, diariamente, enquanto nos damos e damos e damos...

"Mas em educação parece-me que tem de ser também esse o horizonte de planeamento, pensar a cem ou cento e cinquenta anos"... claro, educar é plantar uma árvore. Lembro-me sempre com muito afecto e orgulho da minha professora primária, a quem já tive oportunidade de agradecer parte do que hoje sou.
E tenho também idade para ter já recebido agradecimentos de muitos dos meus alunos. Sabe bem. Mas a visão estrutural, cais das colunas, é uma coisa que os nossos poíticos não têm; eles pensam a curto prazo para não perderem votos; e depois há mudanças sucessivas de orientação, no ensino, na saúde, na conservação do ambiente... ao sabor desses votos, ao sabor das querelas pessoais que todos conhecemos porque as pessoas nunca entendem as críticas como reparos às atitudes, acham sempre tudo de natureza pessoal. Falta esse alargamento das vistas.

Enquanto isso tarda... vamo-nos condenando uns aos outros, sendo nós apenas parte dos problemas, mas também por isso, tendo a nosso cargo parte das responsabilidades.

Anonymous said...

Apesar de não ser esta a minha área profissional, só paralelamente através de explicações, (um sonho de miúdos, comparando com os teus elipse), estou a gostar muito de ler os vossos comentários.

Pelo simples facto de em outros sítios estar a ouvir constantemente tanta "merda", desculpem mas é a palavra certa, sobre educação e saídas falaciosas do problema.

Gostei muito de:

"E porque não desencadear um processo para inclusão de disciplinas de cidadania desde o primeiro ciclo? Não apenas boas maneiras, tipo ajudar a velhinha a atravessar a rua ou deitar o papel para reciclagem. Não! Intervenção, luta, realizações concretas!"

Mas infelizmente conheço muitos pais que se ouvissem o professor falar em "Intervenção, luta, realizações concretas!" assustavam-se e faziam queixa a quem pudessem.

Mas há-que avançar. E pelo que percebo este e outros blogues são um local excelente para se trocar opiniões sinceras, honestas e construtivas sobre assuntos que normalmente são abordados nos meios de comunicação "normais" de forma superficial, desviada, lateral ou até mesmo demagógica.

Força. Continuem!
Beijaço!

Elipse said...

também gosto muito de te visitar manuel; vamos descobrindo lugares que valem a pena; é engraçado que as pessoas se liguem por interesses comuns!
este blog não se destinava a polémicas destas, mas uma vez que cá chegaram.... fala-se do que nos incomoda.mas voltarei à poesia dentro de dias, já lhe sinto a falta.

addiragram said...

Fiquei contente, sobretudo, pelo efeito que a publicação do meu comentário provocou - a produção de outros tantos comentários cheios de riquíssimas contribuições,nascidas da experiência concrecta de cada um...De facto,todas estas modificações sociais e culturais não decorrem da democracia, ocorrem nesse terreno...Como dizes, este não é um drama nacional, é um drama,no mínimo, Ocidental...Os tempos antigos nunca me deixaram saudades,mas a interpretação que foi feita das novas oportunidades,procurou encaixar realidades complexas em teorias que se foram aplicando de uma forma simplista e algo "fundamentalista".Li com atenção as diferentes contribuições e concordo as diferentes achegas que foram sendo dadas.De facto, há sofrimento nos pais que já o não conseguem ser,que estão mergulhados em sistemas caóticos em que o pensar é um verdadeiro luxo, quanto mais "sentir" o que os filhos sentem...
Pensar que os problemas sociais se resolvem com "operações de cosmética",que as dificuldades de aprendizagem se resolvem fazendo a passagem de alunos, ou reduzindo, reduzindo,reduzindo o grau de exigência, é continuar a não" pegar o touro pelos cornos".Quando as crianças chegam à escola primária e não conseguem imaginar uma história, não conseguem fazer um desenho, tendo acedido , de forma muito frustre, à função simbólica, resta-lhes a comunicação pelo Agir, como forma derradeira e desesperada de comunicar um sofrimento.O sofrimento de não se terem sentidos acolhidos pelos seus pais, eles próprios a braços com histórias difíceis e por eles próprios mal conhecidas...
Comprender e ajudar não é "dar palmadinhas nas costas".Há muito trabalho a fazer a todos os níveis e, quando mais cedo se começar, mais hipóteses haverá de contrariarmos o destino...
Um verdaeiro debate de ideias lançaste tu com o teu post.

mixtu said...

Enquanto isso tarda... vamo-nos condenando uns aos outros, sendo nós apenas parte dos problemas, mas também por isso, tendo a nosso cargo parte das responsabilidades.

tirei de um teu mixturado comment