Tuesday, January 30, 2007

entre as paredes pintadas a branco sujo

Van Gogh

Repito-me, repito-me…
Nasço todos os dias no mesmo lugar e giro em círculo. Nasço depois do sono, depois do sonho, depois das horas sonhadas para o repouso de tanta repetição. Nasço antes do desejo, todos os dias no mesmo lugar; e repito o movimento andando à pressa, que de pressa é feito o verso e o reverso deste andar à volta de mim mesma antes do desejo ou com ele a passo lento, a par comigo.
Repito-me passando por entre estas paredes pintadas a branco sujo depois do tempo passar sobre o dia do começo, dia de sonho e depois o sono a esconder a pouquidão do espaço, que de pouco é feito o estar aqui parada.
Repito-me sempre nas palavras; apenas as coloco de outra maneira para que o efeito não pareça repetir-se; mas o que nasce depois do sono e antes do sonho é um lugar escuro. Memória brava, encolhida à pressa e repetida nos degraus que subo e desço.
E se tropeço?

15 comments:

ivamarle said...

desde que não te magoes, por vezes até é bom tropeçar e cair mesmo...

wind said...

Espectacular prosa circular:)
beijos

Fatyly said...

Gostei desta meditação,realmente...
Beijocas

Claudia Sousa Dias said...

Sei, tenho a certeza absoluta que se acontecer terás a força, o ânimo e a presença de espírito para te levantares novamente...

Beijo grande


CSD

peciscas said...

Em ti, as palavras nunca sabem a repetição.

~pi said...

se tropeças cais. e ficas no chão a chorar talvez a gritar.

...e depois fartas-te assoas-te (se tiveres sorte alguém que vai a passar te arranja um lenço...)
e***

sorris.
um dia seguramente
a cena voltará a ser a mesma.

(sorte das sortes: estás viva!!!)

abraço

Maria Arvore said...

Se não tropeçarmos nas teses e nas antíteses como é que fazemos a síntese das repetições? ;)

xeremias said...

No tropeçar é que está o ganho.

Anonymous said...

Se tropeçares o provável é caíres e depois levantas-te, porque há esta coisa infernal chamada instinto de sobrevivência que não nos deixa ficar no chão por muito que nos apeteça.
Até que um dia quando tropeçares te agarres ao corrimão e não te deixes cair, porque dá mais trabalho recomeçar do chão do que a meio caminho.

Anonymous said...

sempre eloquentes as tuas palavras

mixtu said...

consegui comentar... yaya

se tropeças... pois, se caires desejo-te que te levantes sózinha...

círculos... sonhos.. sono... um repetir... uma busca...

besitos

Erecteu said...

Todos tropeçamos e depois levantamo-nos; se não o fizermos ningeém dará por isso.
Força, um beijinho

jorge esteves said...

Prosa redonda, arredondada, boleada, curva de tão ourada!...
Tropeço, sobressalto, inquietação seja, pois então!...
Chega de desassossegar! É bem preciso acordar!
Sorrisos.

ps.s.- sobre o perguntado autor: naturalmente que é este que aqui 'arredondou'; trata-se de um simples, entre outros, afectos à minha terra natal.

Vanessa Gil said...

Se tropeçar... tente ao menos agarrar-se ao corrimão! Mas se não conseguir, e se por acaso cair... aposto que terá todas as forças possivéis para se levantar. Depois só tem de seguir em frente com um Sorriso (pelo menos) =D

Mas já agora quem é que não tropeça um dia?

Gostei do texto!

Bj

addiragram said...

Repetimos porque buscamos, e só uma repetição que não se conhece se torna, ela mesma, num giro em círculo. Um abraço amigo