Pego no livro de ponto, na mala, no casaco e subo a escada. Passo pelos intervalos, desviando-me. Faço que não ouço nem vejo, ou às vezes já nem ouço e já não vejo... mas a linguagem é "de caserna", já não é novidade.
Eles entram. Tourada. Se eu não impuser autoridade ninguém se cala, mesmo depois de sentados – recados, mensagens no telemóvel, 'phones' nos ouvidos, mochila nas costas, cadeira que cai, ó stora olhe o Diogo!, stora posso ir ao cacifo buscar o livro?, stora não tive tempo de beber água, posso?, é pah, levaste nos cornos ontem, o Porto não sei quê, olhe lá o Paulo stora, PARVO!, PARVA ÉS TU!, aqui não se diz parvo, a stora ‘tá à espera, CALEM-SE, estúpidos. Daniel, quando eu precisar de assessor peço e pago, ok? Ordem e vamos começar, cadernos, canetas, livros e vontade de trabalhar, Ruben, tira os phones dos ouvidos, que mal é que tem, estão desligados, quero silêncio pelo menos durante os próximos cinco minutos…quantos livros há na sala – só? Paciência, um livro em cada mesa, mesmo assim há 5 mesas sem livro; mas viste o frango que o gajo deixou entrar, viste?, Cala-te … (entre dentes), stora não admito que digam coisas da minha mãe aqui (levanta-se)… eu não lhe disse nada ele é que é estúpido!... Consigo que escrevam o sumário que acabei por escrever eu própria no quadro (ou teria de repetir pelo menos 10 vezes) e a aula arranca. Começo a falar nos regimes autoritários dos anos 30, Ivan, presta atenção, se não queres ouvir não distraias o teu colega!, falo com a voz toda, uso o quadro, as mãos, os olhos, as fotocópias, os cartazes que trago ampliados, Marina, é na página 78, não mandei já abrir o livro?, peço que interpretem um imagem, Ana cala-te , mas eu não 'tava a falar, estavas sim, e presta atenção!, mas era só eu, não! os outros falam e eu é que pago porque sou preta?É sempre comigo é que se mete!… ah, é preta...e eu sou amarelo, e eu sou encarnado, e eu sou águia, e eu leão, cala-te lá com isso, fogo!, ignoro-os e continuo a falar da militarização dos regimes, peço-lhes apenas que interpretem as imagens, há material bastante e interessante para se chegar onde quero, Ana, é para te calares, não me ouviste? (continua a reesmungar), Já viram como a imagem mostra os militares em perfeita ordem, ANA!!!!!, outra vez eu! Fónix!... mas stora há um que está fora da fila! Ai... eheheh está fora da pila´?, é pah, é mesmo estúpido, isto é só para me provocar, stora, e ri-se, ela, piscando-lhe o olho. Insisto na autoridade que caracterizava os regimes dos anos 30, na repressão; vou direita ao holocausto, ou pelo menos era essa a intenção, queria falar de tolerância e respeito, de valores... gostava que percebessem como era a vida dos pais deles ou dos tios mais velhos, ou dos avós, a minha avó já é velha, a minha tem 80 anos, a minha tem 100, eheheh, 100 anos, parece que é tótó; não me diga que isto era assim, os cotas mandavam naquilo tudo? POIS MANDAVAM, não mandavam nada, quem manda aqui sou eu, Heil Hitler, Salazar também era amigo dele? CALA-TE PARVO, Cala-te tu, oh!, eu tenho dúvidas tenho de perguntar. Dou meia volta, conto até 10 em silêncio, explico qualquer coisa, quero continuar a falar, elevo o tom de voz acima das deles, stora posso ir lá fora? quanto tempo falta p'ra tocar?! Se ela vai eu também quero... stora é verdade que amanhã falta? Não falta nada!, falta sim, eu ouvi dizer... Engulo o desespero, faço das tripas coração, não suporto os risos das três que se juntam lá atrás, pouco me importa se é de mim que riem, mas duvido, devem estar a contar as novidades, ontem uma dizia para a outra que nem os ossinhos escaparam, comi-o todo; faço que não oiço, faço que não vejo, procuro entusiasmar-me e dar a aula para alguns que estão interessados. não, não podes ir lá fora, então quer que faça aqui? Ignoro. Continuo. Vejo interesse na atenção e custa-me a maneira como alguns, em silêncio, aturam o mesmo que eu, mas estamos em minoria. Joana muda de lugar, traz para aqui as tuas coisas, EU!!, Porquê?, Porque EU QUERO! Olha, g’and’abuso!!, Joana sai, se faz favor. Ainda por cima, uma pessoa não 'ta a fazer nada, os outros é que falam e eu é que saio... mas vai ver, vou fazer queixa ao Conselho! Preencho um impresso, tenho de chamar a empregada e mandá-la acompanhar a aluna à sala da "gestão de conflitos", mas preciso de escrever a razão da expulsão e mandar tarefa a cumprir. (circula por lá um inquérito de um grupo de trabalho para saber que tipo de actividades os professores desenvolvem nestas salas de gestão de conflitos, onde se pensa pôr a funcionar uma bateria de actividades de carácter lúdico-pedagógico). Enquanto faço isso já a turma se esqueceu, já se dispersou. Retomo o fio à meada, estou a falar da maneira como os regimes faziam a sua propaganda. Voltaram a engrenar, minimamente. Entra uma empregada com uma ordem de serviço para ser lida que menciona uns alunos a quem foram aplicadas penas. Corajosamente e depois de muitas suspensões e outros tantos paninhos quentes, aquele Bruno do sétimo ano acabou por ser transferido para outra escola: primeiro instruiu-se o processo, ouviram-se os pais, os professores, a aluno, etc, etc, perguntou-se à DREL se era possível, se a ministra não nos mandava prender a todos com aquela decisão, agora é preciso saber se alguma escola o aceita, não se vai deixar o "menino" em casa porque está dentro da escolaridade obrigatória e os pais não iriam aguentar! Talvez agora já se consiga dar aula naquela turma.
A leitura da ordem de serviço desestabiliza… era o que faltava, g’andabuso! Havia de ser comigo, partia a escola toda, foda-se! Ricardo sai, agora tua vez, eu também sei dizer asneiras, Ricardo, mas aqui na sala não as digo, ok? Repito os procedimentos…
Não tenho cara para continuar a sorrir, gostava de ser simpática ou carinhosa ou sei lá o quê, para com alguns deles, os que me olham, à espera. Mas não tenho palavras para continuar.
Uma vez uma médica, a quem me queixei da frustração que às vezes me causa vontade de chorar quando chego ao portão da escola e me apetece voltar para casa, falava-me das histórias da indisciplina nos hospitais e dos doentes abusadores e dizia: “nunca mais quis aquele senhor no meu gabinete!”.
Eu tenho de estar ali todos os dias, eles têm de entrar, têm de ter aulas, têm de ser bem tratados… têm de ter planos de recuperação se têm mais de duas negativas, ok, eu escrevo isso tudo nas dezenas de impressos que aparecem por mês.
Apetece-me fazer como fazem os pais deles “não me chateies, faz lá o que quiseres e deixa-me em paz”.
Continuo a aula. Ainda procuro falar da Mocidade Portuguesa e de como era impossível a uma geração que aprende na escola a divinizar o chefe, ter outra atitude que não fosse a do respeito. Gostava de os levar ao estabelecimento do contraponto: o antes e o agora, o extremo da autoridade e o extremo da falta dela. Noutros anos era possível, eles gostavam de ouvir as histórias, traziam testemunhos das famílias…
De repente: stora, a Irina peidou-se! E zás, o Jorge levanta-se e muda para o outro canto da sala. A Irina tem 16 anos, o Jorge também. ahahahah, a Irina peidou-se… eheheheheeheh…. e a Irina joga a cabeça para trás a rir-se muito alto. Cheira muito mal quando me dirijo para a porta. Fico ali encostada, sem palavras. A Carla goza: ai peidou-se, eheheheh, peidou-se ... riem todos… saio, volto a entrar, digo que não tenho palavras e que os quero ver desaparecer todos da minha frente. Pego nas coisas, fecho a porta e desço a escada. Bebo um copo de água, não converso, não conto, não digo nada; apenas escrevo uma folha para o Director de Turma, mais uma… dou uns passos por ali, já não suporto a conversa das mulheres, somos quase todas mulheres que falam muito alto. E depois passam os dez minutos do intervalo e pego no livro de ponto para voltar a subir a escada e entrar noutra turma. Cumpro o dia. Estou debaixo de telha, tenho emprego, recebo o 13º mês, ganho mais do que o ordenado mínimo...
Amanhã tenho de voltar lá.
Não vim aqui choramingar para receber mimo. Não quero que venham dizer que tenho razão ou que não tenho. Não digam nada, leiam apenas e não escrevam nada!
Fiquem a saber que isto não é uma lamúria, um desabafo, um grito de socorro, não, isto é apenas um chegar à noite e pensar assim: amanhã tenho de voltar lá. Aquela (esta) é a minha realidade.
Bem sei que poderia ter de estar a trabalhar ao relento de fato-macaco ou a lavar escadas ou a perseguir ladrões, arriscada a levar um tiro ou a assistir aos que entram na urgência deitados, sem lhes poder valer. Bem sei que trabalho é trabalho e que o ganha-pão na maior parte das vezes não é aquilo que se quer, que se gosta ou com que se sonha.
Garanto-vos que no meu caso funcionou o gosto e a devoção, depois da vocação, há 24 anos.
Faltam ainda quantos?
Eles entram. Tourada. Se eu não impuser autoridade ninguém se cala, mesmo depois de sentados – recados, mensagens no telemóvel, 'phones' nos ouvidos, mochila nas costas, cadeira que cai, ó stora olhe o Diogo!, stora posso ir ao cacifo buscar o livro?, stora não tive tempo de beber água, posso?, é pah, levaste nos cornos ontem, o Porto não sei quê, olhe lá o Paulo stora, PARVO!, PARVA ÉS TU!, aqui não se diz parvo, a stora ‘tá à espera, CALEM-SE, estúpidos. Daniel, quando eu precisar de assessor peço e pago, ok? Ordem e vamos começar, cadernos, canetas, livros e vontade de trabalhar, Ruben, tira os phones dos ouvidos, que mal é que tem, estão desligados, quero silêncio pelo menos durante os próximos cinco minutos…quantos livros há na sala – só? Paciência, um livro em cada mesa, mesmo assim há 5 mesas sem livro; mas viste o frango que o gajo deixou entrar, viste?, Cala-te … (entre dentes), stora não admito que digam coisas da minha mãe aqui (levanta-se)… eu não lhe disse nada ele é que é estúpido!... Consigo que escrevam o sumário que acabei por escrever eu própria no quadro (ou teria de repetir pelo menos 10 vezes) e a aula arranca. Começo a falar nos regimes autoritários dos anos 30, Ivan, presta atenção, se não queres ouvir não distraias o teu colega!, falo com a voz toda, uso o quadro, as mãos, os olhos, as fotocópias, os cartazes que trago ampliados, Marina, é na página 78, não mandei já abrir o livro?, peço que interpretem um imagem, Ana cala-te , mas eu não 'tava a falar, estavas sim, e presta atenção!, mas era só eu, não! os outros falam e eu é que pago porque sou preta?É sempre comigo é que se mete!… ah, é preta...e eu sou amarelo, e eu sou encarnado, e eu sou águia, e eu leão, cala-te lá com isso, fogo!, ignoro-os e continuo a falar da militarização dos regimes, peço-lhes apenas que interpretem as imagens, há material bastante e interessante para se chegar onde quero, Ana, é para te calares, não me ouviste? (continua a reesmungar), Já viram como a imagem mostra os militares em perfeita ordem, ANA!!!!!, outra vez eu! Fónix!... mas stora há um que está fora da fila! Ai... eheheh está fora da pila´?, é pah, é mesmo estúpido, isto é só para me provocar, stora, e ri-se, ela, piscando-lhe o olho. Insisto na autoridade que caracterizava os regimes dos anos 30, na repressão; vou direita ao holocausto, ou pelo menos era essa a intenção, queria falar de tolerância e respeito, de valores... gostava que percebessem como era a vida dos pais deles ou dos tios mais velhos, ou dos avós, a minha avó já é velha, a minha tem 80 anos, a minha tem 100, eheheh, 100 anos, parece que é tótó; não me diga que isto era assim, os cotas mandavam naquilo tudo? POIS MANDAVAM, não mandavam nada, quem manda aqui sou eu, Heil Hitler, Salazar também era amigo dele? CALA-TE PARVO, Cala-te tu, oh!, eu tenho dúvidas tenho de perguntar. Dou meia volta, conto até 10 em silêncio, explico qualquer coisa, quero continuar a falar, elevo o tom de voz acima das deles, stora posso ir lá fora? quanto tempo falta p'ra tocar?! Se ela vai eu também quero... stora é verdade que amanhã falta? Não falta nada!, falta sim, eu ouvi dizer... Engulo o desespero, faço das tripas coração, não suporto os risos das três que se juntam lá atrás, pouco me importa se é de mim que riem, mas duvido, devem estar a contar as novidades, ontem uma dizia para a outra que nem os ossinhos escaparam, comi-o todo; faço que não oiço, faço que não vejo, procuro entusiasmar-me e dar a aula para alguns que estão interessados. não, não podes ir lá fora, então quer que faça aqui? Ignoro. Continuo. Vejo interesse na atenção e custa-me a maneira como alguns, em silêncio, aturam o mesmo que eu, mas estamos em minoria. Joana muda de lugar, traz para aqui as tuas coisas, EU!!, Porquê?, Porque EU QUERO! Olha, g’and’abuso!!, Joana sai, se faz favor. Ainda por cima, uma pessoa não 'ta a fazer nada, os outros é que falam e eu é que saio... mas vai ver, vou fazer queixa ao Conselho! Preencho um impresso, tenho de chamar a empregada e mandá-la acompanhar a aluna à sala da "gestão de conflitos", mas preciso de escrever a razão da expulsão e mandar tarefa a cumprir. (circula por lá um inquérito de um grupo de trabalho para saber que tipo de actividades os professores desenvolvem nestas salas de gestão de conflitos, onde se pensa pôr a funcionar uma bateria de actividades de carácter lúdico-pedagógico). Enquanto faço isso já a turma se esqueceu, já se dispersou. Retomo o fio à meada, estou a falar da maneira como os regimes faziam a sua propaganda. Voltaram a engrenar, minimamente. Entra uma empregada com uma ordem de serviço para ser lida que menciona uns alunos a quem foram aplicadas penas. Corajosamente e depois de muitas suspensões e outros tantos paninhos quentes, aquele Bruno do sétimo ano acabou por ser transferido para outra escola: primeiro instruiu-se o processo, ouviram-se os pais, os professores, a aluno, etc, etc, perguntou-se à DREL se era possível, se a ministra não nos mandava prender a todos com aquela decisão, agora é preciso saber se alguma escola o aceita, não se vai deixar o "menino" em casa porque está dentro da escolaridade obrigatória e os pais não iriam aguentar! Talvez agora já se consiga dar aula naquela turma.
A leitura da ordem de serviço desestabiliza… era o que faltava, g’andabuso! Havia de ser comigo, partia a escola toda, foda-se! Ricardo sai, agora tua vez, eu também sei dizer asneiras, Ricardo, mas aqui na sala não as digo, ok? Repito os procedimentos…
Não tenho cara para continuar a sorrir, gostava de ser simpática ou carinhosa ou sei lá o quê, para com alguns deles, os que me olham, à espera. Mas não tenho palavras para continuar.
Uma vez uma médica, a quem me queixei da frustração que às vezes me causa vontade de chorar quando chego ao portão da escola e me apetece voltar para casa, falava-me das histórias da indisciplina nos hospitais e dos doentes abusadores e dizia: “nunca mais quis aquele senhor no meu gabinete!”.
Eu tenho de estar ali todos os dias, eles têm de entrar, têm de ter aulas, têm de ser bem tratados… têm de ter planos de recuperação se têm mais de duas negativas, ok, eu escrevo isso tudo nas dezenas de impressos que aparecem por mês.
Apetece-me fazer como fazem os pais deles “não me chateies, faz lá o que quiseres e deixa-me em paz”.
Continuo a aula. Ainda procuro falar da Mocidade Portuguesa e de como era impossível a uma geração que aprende na escola a divinizar o chefe, ter outra atitude que não fosse a do respeito. Gostava de os levar ao estabelecimento do contraponto: o antes e o agora, o extremo da autoridade e o extremo da falta dela. Noutros anos era possível, eles gostavam de ouvir as histórias, traziam testemunhos das famílias…
De repente: stora, a Irina peidou-se! E zás, o Jorge levanta-se e muda para o outro canto da sala. A Irina tem 16 anos, o Jorge também. ahahahah, a Irina peidou-se… eheheheheeheh…. e a Irina joga a cabeça para trás a rir-se muito alto. Cheira muito mal quando me dirijo para a porta. Fico ali encostada, sem palavras. A Carla goza: ai peidou-se, eheheheh, peidou-se ... riem todos… saio, volto a entrar, digo que não tenho palavras e que os quero ver desaparecer todos da minha frente. Pego nas coisas, fecho a porta e desço a escada. Bebo um copo de água, não converso, não conto, não digo nada; apenas escrevo uma folha para o Director de Turma, mais uma… dou uns passos por ali, já não suporto a conversa das mulheres, somos quase todas mulheres que falam muito alto. E depois passam os dez minutos do intervalo e pego no livro de ponto para voltar a subir a escada e entrar noutra turma. Cumpro o dia. Estou debaixo de telha, tenho emprego, recebo o 13º mês, ganho mais do que o ordenado mínimo...
Amanhã tenho de voltar lá.
Não vim aqui choramingar para receber mimo. Não quero que venham dizer que tenho razão ou que não tenho. Não digam nada, leiam apenas e não escrevam nada!
Fiquem a saber que isto não é uma lamúria, um desabafo, um grito de socorro, não, isto é apenas um chegar à noite e pensar assim: amanhã tenho de voltar lá. Aquela (esta) é a minha realidade.
Bem sei que poderia ter de estar a trabalhar ao relento de fato-macaco ou a lavar escadas ou a perseguir ladrões, arriscada a levar um tiro ou a assistir aos que entram na urgência deitados, sem lhes poder valer. Bem sei que trabalho é trabalho e que o ganha-pão na maior parte das vezes não é aquilo que se quer, que se gosta ou com que se sonha.
Garanto-vos que no meu caso funcionou o gosto e a devoção, depois da vocação, há 24 anos.
Faltam ainda quantos?
29 comments:
já li...e não digo nada!
Um beijo
Posso?
É só um beijinho
Não resisto: por isso peço desculpa!
Duas coisas. Primeira: um abraço. Segunda:'Lá vamos, cantando e rindo, levados, levados sim' (primeira estrofe do hino da Mocidade Portuguesa)
Afectuosamente
desculpa mas eu digo. nós Pais temos culpa muitas vezes pois para não nos chateramos em casa impomos pouca disciplina. O problema também começa logo na primária em que não se pode dar umas réguadas nos meninos porque é traumatizante e porque não se pode castigar porque... Eu levei centenas de réguadas na primária e garanto que nunca me senti traumatizado por isso e tenho a certeza que só me fizeram bem , mesmo que na altura me tenha sentido revoltado e injustiçado. Mas dou-te um conselho que já dei na escola do meu filho do meio (tem hiperactividade e défice de atençãopor isso as queixas são muitas) em vez de o porem na rua das aulas mandem-no fazer trabalho civico, varrer o chão , lavar as casas de banho ajudar na cantina o que quizerem tenho a certeza que rapidamente vai acalmar.
Infelizmente anda tuo no deixa andar e só no dia em que aconteça algo de trágico é que vão abrir os olhos paa o grave problema que temos.
Correndo o risco enfurecer a mais que desobedecida professora, gostaria de lembrar que por vezes o absurdo chega a pontos que a única defesa é o riso:
"o extremo da autoridade e o extremo da falta dela. Noutros anos era possível, eles gostavam de ouvir as histórias, traziam testemunhos das famílias…
De repente: stora, a Irina peidou-se! "
E aqui sentado no sossego só o riso me ocorre perante semelhante realidade. Mas não é por isso que não respeito o esforço hercúleo que um professor tem de fazer nos dias que correm...
Espero que não fique muito chateada, mas sempre tive grandes dificuldades em ficar calado até nas aulas... Mas também não precisei de "centenas de réguadas na primária" para não faltar ao respeito aos colegas e aos professores, bastaram uma ou duas bem colocadas para eu perceber "certas e determinadas" coisas...
Beijinho.
eh pá...isto requer uma leitura atenta; tem de ser mais logo, para já deixo-te um novo endereço:
http://deixarviver.blogspot.com/
beijinhos
...
..........................
................
................
concordo em absoluto jeronimu.
..................................
e hoje foi, mais do que nunca, um dia de reflexão, enquanto a cabeleireira me acentuava as madeixas louras...aquilo levou horas, caramba... e notas de euro!!!
mudei de visual. vou mudar de estratégia. vou mudar de vida. Não, não posso ainda mudar de emprego, ninguém quer professoras de História para nada, ainda se fosse de Matemática tinha a vida garantida com o dobro do ordenado em explicações dadas em casa aos magotes, que os exames estão aí a chegar e os pais pagam couro e cabelo para os filhos entrarem na Universidade. Eu também paguei.
Estava a contar ao meu filho a cena da aula e ele riu-se. Mas riu-se com pena, disse ele. Não era pena de mim, os filhos estão-se nas tintas para o que os pais sentem, centrados que estão nas suas vidas. Ainda bem para ele, neste caso, que não o quero centrado na minha, ele tem mais em que pensar!!!
Riu-se porque a seguir teve de me contar o que os colegas dele, nas aulas do 2º ano da Universidade, simulam o som de peidos e riem-se que nem doidos, contou ele. E os profs, perguntei eu? Os profs, 'tão-se as tintas, dão a aula e seguem viagem!
Ok
Amanhã escreverei o que me anda cá a pairar na tola! mas é trigo limpo! Oh, se é!!
É que pouco há a dizer. É absolutamente doentio "trabalhar" nesse sítio a quem teimam em chamar escola!!
Correcção:
... a que teimam chamar escola!
a mudança...é o melhor que pode acontecer. se formos capazes.
eu sinto que tu és capaz...
abraço
Não posso estar de acordo com o Asdrubal no que toca às reguadas.
Nem pensar que batessem num filho meu.
Serviço cívico isso sim.
Elipse, andas cansada, se já conseguiste vais conseguir outra vez.
Querida Elipse, tens toda a minha solidariedade!
Esse foi exactamente o filme que eu vivi no último ano e a única a ser punida fui eu porque não conseguia resolver o prblema sozinha dentro da sala de aula sem recorrer à coordenação.
Vão-me desculpar mas eu concordo com o Asdrúbal.
Filho meu que tenha semelhante comportamento numa sala de aulas leva a maior sova da vida dele.
Além de fazer todo o trabalho doméstico em casa.
Não há hipótese. A educação começa em casa. E concordo que em certas situações limite uma bofetada bem assente ou a uma boa palmatória fazem o efeito desejado.
CSD
a conversa ao jantar, na terça feira, foi sobre a disciplina. e dizia-me a Inês que o professor da primária lhe deu uma palmada. e que fui eu que dei autorização. e não ficou traumatizada por isso, disse que a mereceu. e que passou a portar-se melhor (duvido, não conhecesse eu a rapariga). e os 3 estavam de acordo que uma palmadita não faz mal a ninguém.
admiro profundamente os professores que ensinam por vocação.
beijinhos, amiga
Uma coisa é a disciplina e a educação que se dá em casa.
Outra é deixar que um professor/a bata.
Mas vamos voltar a 1950?
Se o professor/a se queixar eu castigo, mas ai do professor/a que batesse num filho meu.
E se bate porque lhe correu mail o dia?
Sei que a Elipse tem toda a razão.
Mas desata à chapada? Serve de alguma coisa?
O que é que estão a defender?
Sou muito sensível a este assunto porque fui muito batida em criança num colégio e como não sou como o Asdrubal sempre me revoltei, sempre achei uma injustiça e sempre a odiei a professora que me bateu.
Desculpem. Não sou capaz de discutir isto sem chorar de raiva.
Não defendam nunca o bater na escola.
Eu comecei a ensinar por vocação, agora sinto um tal desgaste que me pergunto muitas vezes, onde andará a minha vocação?
Não estou numa escola pública, estou numa escola profissional há 6 anos, mas passa-se exactamente o mesmo tipo de situação. Se me queixo, muitos amigos (não professores) dizem-me: "Tens sorte, não estás colocada, mas tens essa escola, embora recebas mal, à hora, e estejas há 6 anos a recibos verdes, sem seres aumentada."
Sim, de facto tenho sorte por estar empregada, mas se comparar a minha profissão, por exemplo, com as que os meus amigos têm, a sorte decai consideravelmente.
Já estive profundamente apaixonada e motivada pelo que fazia, neste momento sinto precisamente isso: "amanhã tenho de estar lá outra vez".
É curioso ler este testemunho depois do dia que tive, que acabou com um aluno meu, já há 3 anos, que sempre apreciei pela atitude e comportamento, ter sido profundamente agressivo comigo (ao ponto de, no final da aula, um colega se desculpar por ele, já que este nem sequer o fez, saíu simplesmente no final da aula, sem uma palavra).
Cheguei a casa e sentia-me profundamente triste e, ironicamente, entro no blog do Lauro António e chego até aqui.
Sei que não era suposto falar ou comentar o texto, mas faço-o por desabafo, por me sentir triste e desiludida com a profissão, por saber que estudei e nunca serei colocada, que continuarei até o quererem, ou eu o suportar, numa escola onde recebo o que trabalho, não tenho subsídios, não recebo o mês de Agosto, o meu primeiro vencimento do ano lectivo é pago em outubro, referente ao mês de Setembro (onde trabalho apenas 15 dias) e que, cada vez menos a sociedade valoriza e respeita esta profissão.
Todos os dias acordo e penso: como será hoje?
Já fui ameaçada, já tive pancada entre alunos, já fui subornada (aliás, tentaram que o fosse)e todos os dias me sinto mãe, psicóloga e professora. Mas às vezes as forças faltam e venho para casa, como hoje, e já não rio.
Um abraço
Já agora, no dia 25 de Setembro, fiz um post no meu blog que falava da nossa profissão. Deixo-te o link.
http://luaobscura.blogspot.com/2006_09_01_archive.html
Um abraço *
Tanto, tanto para dizer ...
Tanto, tanto que nos falta fazer ...
E amanhã ?
eu não digo nada, não. Só em pensamento...
Seria interessante se os políticos parassem para reflectir sobre o ensino. Não o fazem basicamente porque "povo inculto" é povo dócil. Depois, a divisão por inúmeros sindicatos também não ajuda muito a fortalecer a posição do professor.
Há que repensarmos todos o que vai mal no reino da educação.
Eu olho aqui de fora, recordo os 4 anos completos e mais o que deixei ainda correr, em acumulação, de aulas dadas aos que, de entre os teus, desaguaram nas minhas aulas do primeiro ano. E penso que tive um dia de cão e, perto do teu, foi tão melhor; e perto dos que tinha então foi tão melhor... Se tivesse ficado, ganhava hoje provavelmente o dobro, estaria ainda à espera que um qualquer catedrático caísse da cadeira, tinha - além de uma sala de gente sem vontade e sem saber - o susto de Bolonha ao virar da esquina e nenhuma rede de segurança no dia seguinte. Ganho pior, trabalho numa área subvalorizada, tenho de me haver com muita gente sem chá, sem cultura e sem respeito... Mas o meu contrato de trabalho não tem termo, o meu ordenado (mesmo que a crescer abaixo da inflação) nunca foi congelado, sou promovida regularmente em função do mérito e, até para os meus pares que pouco mérito demonstram, as promoções nunca deixam de acontecer por antiguidade. Mas, o melhor de tudo, há dias (tantos!) em que o trabalho é um desafio agradável, em lugar de tentar manter apenas a sanidade mental. Se tivesse ficado, hoje era como esses professores do teu filho, que despejam qualquer coisa e se põem a andar. E parece que a mim sempre chegou a selecção de entre esses teus todos. O refugo deve continuar para ai a peidar-se em qualquer lado e talvez um dia (ou se calhar nem isso) deite as mãos à cabeça e se arrependa de não te ter respeitado e prestado atenção ao tanto que – de uma forma tão evidentemente difícil e agonizante – tentas ainda, em todos os amanhãs, transmitir-lhes.
Beijo, menina.
Puxa...
Depois disto tudo, quem não comenta sou eu...
Ainda eu e os meus colegas nos queixamos... Arre...
E depois de ver o blogge de um tal Luis G. Rodrigues só te digo...
Elipse, força... Que isto não está fácil, nem vai ficar...
Elipse, um beijo e força...
Paulo
Toda a gente é livre de dar opiniões e palpites, mas é "grave" que um tal Luís diga o que diga Paulo, porque aposto que a pessoa em questão não sabe do que fala.
Eu já aprendi: pilotos, médicos, juízes, enfermeiros, polícias, e todos os étecéteras... ... eu nunca irei "meter-me" onde não sou chamada!
Até há algum tempo ainda replicava. Agora sou capaz de dar um sorriso complacente a quem me diz, por exempo, em pleno mês de Julho "então, já de férias?"
Era a minha cabeleireira e tinha uma filha a fazer exames de 12º. Se calhar pensava que eram emigrantes ucranianos que andavan envolvidos nos trabalhos de vigiar, fazer o anonimato, empacotar, corrigir, desempacotar, desanonimar, publicar as pautas, aceitar os pedidos de recurso, rever as provas, etc etc.
Não estou a falar de trabalho, ou a queixar-me de trabalho, pois não posso comparar o meu com o dos outros nem o dos outros com o meu...
Eu nem sequer me queixei de trabalho, no texto que escrevi.
O trabalho assusta alguém? Algum profissional tem medo de uma inspecção?, de uma auditoria aos seus papéis? Algum profissional tem medo de ser avaliado?
Os professores também não têm!
Também não estou a falar de sindicatos, porque isso levar-nos-ia às várias greves e outras manifestações a que assistimos todos os dias. Não quero falar de sindicatos, a quem reconheço uma validade em fim de prazo.
Estou a falar de dignidade!
Posso e devo ter a minha opinião sobre tudo o que se passa à minha volta mas não admito que a imprensa escrita, os telejornais e respectivos comentadores e afins moldem o meu pensamento.
Daqui para a frente só falarei daquilo que conheço.
Em resposta ao teu comentário no Divas:
Não estás nada ultrapassada, existe mesmo um problema, e grave. Mais grave ainda porque não existem soluções à vista. O que descreves no teu texto é insano!
Apetece dizer "Só à paulada!" mas não é por aí. Os regulamentos têm que ser alterados. A indisciplina tem que ser penalizada. Não se pode privilegiar as taxas de frequência e sucesso escolar, descurando princípios básicos de cidadania (o respeito pelos outros passa pela aceitação de regras básicas de comportamento na escola)
Fica com um abraço enorme
Percebo perfeitamente! Ando no 10ºano e já estive em turmas bastante "faladoras" e mal-comportadas. Os professores têm de impor disciplina. Do género fazer um teste-surpresa. Como os alunos não estão com atenção, têm más notas. E como não podem ter más notas, nas outras aulas ficam logo com mais atenção. Isto é apenas uma sugestão. Não sei qual o ano de escolaridade dessa turma de que falou. Neste ano, apesar de a turma ainda falar muito e ter uma ou duas participações, notei uma grande diferença de maturidade. Mas mantenho a opinião que as raparigas são quase sempre mais maturas que os rapazes. E tenho um rapaz de 19 anos na turma... eu tenho apenas 15.
Beijinhos e força para continuar
gostaria de dizer-te que só faltam, os que te fizerem falta, mas creio que a realidade se encarrega de uma resposta bem diferente...
Com uns sogros professores( reformados neste momento pela idade)conheço muitas históriascomo a tua.
Mas eu como Mãe digo somente isto, infelizmente existem muitos pais que acham que a educação deve ser dada nas escolas, esquecendo-se de educar as crianças em casa.
beijo
Olá! Somos colegase e sei bem do que falas. Só alguém que conheça o meio poderá julgar. E ainda assim... Pessoalmente, ainda não tive situações de grande gravidade no relacioamento com os alunos... ou tive? Pensando bem, falhava-me a lembrança de um menino que, quando contrariado respondeu " sempre a armar-se em parva, qualquer dia arrepende-se...». Por sorte, ao fim de uns meses, quem se arrependeu foi ele. Mas não precisamos chegar aqui. A situação que descreves do início de aula é preciso relembrar que acontece TODOS OS DIAS, a CADA HORA em que uma nova aula começa, MESES, ANOS A FIO, e o desgaste é tremendo. Principalmente com alguns meninos do terceiro ciclo, certo?
Se ajudar, pensemos nisto como uma missão terrena e o nosso quinhão no céu está, com certeza, garantido!
Um beijo solidário
Já li e tenho vergonha que colegas sejam capazes de dizer, sentir e falar assim da escola. Aliás, o relato do que se passou na aula ilustra bem o que uma professora que não gosta do que faz e não sabe bem fazer o que faz, tem como consequência. Colega(s), melhor mesmo era mudar de profissão.
Francamente!...
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