Feitas de verão as verdades cruas e as cidades arruinadas onde o negro das crateras e das casas que já não existem deixa à mostra os efeitos concretos da carne em chamas e da outra já calcinada que o tempo há-se gastar.
Feito de verão este efeito de sentimento áspero, verdade crua a despir as roupas coloridas gastando-se o sentir no tédio dos fios de seda inventados para dar cor à estação feita passagem, quase paragem.
Feitas de ódios eternos as verdades de ambas as partes do mundo sem que seja possível ou desejável tomar partido ou apenas dizer do bem e do mal.
Feito de calma peganhenta este pensamento veloz e repetido de um verão que nada traz de novo a não ser um efeito cíclico de insatisfação crua, estéril, negra sobre as cores que o sol deposita na superfície das águas de um mar ausente.
Feitas de gelo as imagens certeiras das ruínas onde nem tão pouco se podem achar culpas para ao menos lhes dar o efeito de razões imaculadas que libertem a alma das tragédias.
Feito de imagens este pesadelo mediatizado em reportagens cruas onde tudo é tão concreto como a descrença que sobrevive às telas construídas sobre o efeito das abstracções.
Feitas de horas arrastadas as guerras que travo comigo e os acordos de paz que vou permitindo para sentir apenas que a vida é um esforço laborioso.
Feito de gritos, depois da seiva dos risos, o vazio da descoberta de uma invenção entrançada em desejo e memória, que o tempo vai desfazendo por falta de consistência.
Post -9
5 months ago
6 comments:
Fantástico texto onde abordas duas guerras. A do médio oriente e a tua.
Quanto à 1ª há culpas sim!
Não as vou discutir aqui contigo, mas sei qual o meu lado.
Quanto à tua guerra interior, continua que lá chegarás:))))
beijos
Em qualquer guerra bélica há culpas de ambas as partes.
O nosso "eu" por vezes ou quase sempre está num labirinto procurando a melhor saída! Força!
Imagens como a da foto continuam no meu cérebro para as quais nunca encontrei a saida/delete!
Parabéns por este texto e um bom fim de semana!
Á guerra não ligues meia
Porque os senhores grandes da terra
Vendo a guerra em terra alheia
Não querem que acabe a guerra
(António Aleixo)
You´re wellcome!
são de água
as tuas
palavras em linha...
A viscosidade peganhenta da visão unilateral que nos querem à força transmitir, como se fossemos todos iletrados em matéria de História!
Não permitas a libanização semítica... continua a gritar a revolta comum: a exterior e a interior.
"...o efeito de razões imaculadas que libertem a alma das tragédias."
já não acreditamos em razões imaculadas, pois não?
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