Sunday, August 13, 2006

efeitos do verão 1.


O verão deixa cair, uma a uma, palavras abstractas
deixando seca a corola que as sustinha
Não direi que secaram. As palavras não secam.
Mas de tanto as inventarmos elas cansam
ou cansam-se do uso repetido com que inventamos
todos os desejos depositados em flores
imaginárias, que a primavera vai emprestando
à nossa carne em chamas.

O verão devia permitir gritos concretos
e lançar no espaço os restos da invenção
seca. Culpa nossa que deixamos escorrer no riso
a seiva dos desejos renovados; e as palavras.
Culpa deste sol que desce em fios de seda
macios contra uma carne que toca a nossa carne por dentro
sobrando desse toque, apenas, os sinais das vísceras
queimadas e gastas de tanto as imaginarmos perfeitas.

10 comments:

peciscas said...

Em ti as palavras não secam.
Porque as regas com a imaginação, a sensibilidade, a inteligência.
E elas agradecem a quem assim delas cuida.

xeremias said...

O verão seca o imaginário e evapora a consciência, mas as tuas palavras permanecem húmidas e a perfeição acolhe-se nelas.

Anonymous said...

e em ti o resultado é esta obra prima.

Rosario Andrade said...

Bom dia Elipse!
Brilhante, absolutamente encantador!
Bjico

wind said...

Em ti as palavras são sempre belíssimas, sensíveis, elaboradas, inteligentes, perfeitas :))))
beijos

rui-son said...

As tuas palavras nunca se cansam, tal como nós (e acho que falo em nome de todos) nunca nos cansamos de as ler.

mixtu said...

o verão... seca e renova...
o verão (...)

molts petons

Claudia Sousa Dias said...

Em ti, querida Elipse as palavras vivem. Só conheço uma pessao que ecreve tão bem como tu e que injustamente ainda não se ouviu falr dela nos media como sendo uma das melhores escritoras da actualidade, apesar de as suas obras já serem debatidas em teses em universidade como as do Minho e do Algarve: Luísa monteiro. Se tiveres oportunidade recomendo-te "O Evangelho das Rãs" publicado pelas Quasi Edições.

Um beijo muito grande.

CSD

Luna said...

sem palavras...

ivamarle said...

o calor pode não secar as palavras, mas seca-nos a garganta e por vezes também a imaginação.Como escreveu o meu marido, já há quase 20 anos:"...as palavras aninham-se dentro da cabeça das pessoas; não digo que as palavras sejam más, porque não são más nem boas
mas as palavras ocupam espaço
e acabam por ocupar espaço
na vida das pessoas..."