Juntou os copos que tinham ficado no lava-loiça. Não podia perder o hábito da arrumação da casa, ao menos esse. Da última vez nem deu conta, mas as garrafas amontoaram-se durante muitos dias e quando tomou consciência assustou-se.
No início dava-lhe jeito a sensação de estar anestesiado mas agora enfastiava-se, culpava-se, flagelava-se e depois compensava-se. A boca sabia-lhe cada vez pior, o último copo deixava de ser o último porque a vontade pedia outro, só mais outro e o acordar era já tão penoso que mais valia permanecer. O corpo não reagia depois de ter estado enrolado no sofá da sala. Abria os olhos apetecendo-lhe voltar ao princípio mas tinha de ir trabalhar, era assim todos os dias. Os fins-de-semana, porém, estavam a deixar marcas; não havendo horários nem obrigações era mais difícil parar.
Encontrava cada vez mais dificuldades nas respostas às perguntas que fazia antes de abrir a primeira garrafa, a cabeça começava a ficar confusa no emaranhado de caminhos possíveis. E o medo agigantava-se porque o exercício já não era novo e a maneira de lhe escapar repetia-se, sem fim à vista.
Se tivesse vontade própria não tinha deixado as coisas chegarem tão longe; se ainda existisse amor talvez tivesse conseguido evitar a degradação. Mas gostava tanto dela, ainda a via como a menina por quem se apaixonou na escola. Gostava? Então se gostava por que não lhe conseguia ouvir a voz avisada? E ela porque teimava em recriminá-lo se a ajuda não podia ser essa? Ela estava ausente da sua vida, isso ele adivinhara havia muito tempo, mas qual o momento em que isso acontecera? Se o descortinasse era capaz de perceber e poderia tentar voltar atrás, emendar o erro, restaurar a vida.
Hoje não iria trabalhar. Tinha de continuar a tentar perceber.
No início dava-lhe jeito a sensação de estar anestesiado mas agora enfastiava-se, culpava-se, flagelava-se e depois compensava-se. A boca sabia-lhe cada vez pior, o último copo deixava de ser o último porque a vontade pedia outro, só mais outro e o acordar era já tão penoso que mais valia permanecer. O corpo não reagia depois de ter estado enrolado no sofá da sala. Abria os olhos apetecendo-lhe voltar ao princípio mas tinha de ir trabalhar, era assim todos os dias. Os fins-de-semana, porém, estavam a deixar marcas; não havendo horários nem obrigações era mais difícil parar.
Encontrava cada vez mais dificuldades nas respostas às perguntas que fazia antes de abrir a primeira garrafa, a cabeça começava a ficar confusa no emaranhado de caminhos possíveis. E o medo agigantava-se porque o exercício já não era novo e a maneira de lhe escapar repetia-se, sem fim à vista.
Se tivesse vontade própria não tinha deixado as coisas chegarem tão longe; se ainda existisse amor talvez tivesse conseguido evitar a degradação. Mas gostava tanto dela, ainda a via como a menina por quem se apaixonou na escola. Gostava? Então se gostava por que não lhe conseguia ouvir a voz avisada? E ela porque teimava em recriminá-lo se a ajuda não podia ser essa? Ela estava ausente da sua vida, isso ele adivinhara havia muito tempo, mas qual o momento em que isso acontecera? Se o descortinasse era capaz de perceber e poderia tentar voltar atrás, emendar o erro, restaurar a vida.
Hoje não iria trabalhar. Tinha de continuar a tentar perceber.
5 comments:
É um dos maiores problemas tanto em homens como em mulheres, o ál coolismo, que é uma doença.
É necessário que fique isto bem claro.
Muita gente julga, sem saber que o álcoolismo é uma grave doença.
o teu texto está muito bom e descreves tal e qual o que muitos sentem.
beijos
tudo começa mum "tá-se bem de curtir" e...concordo Wind!
Elipse estiveste na pele de...que não é nada fácil e parabéns como sempre!
a vida nunca se chega a entender. tanto faz beber, como não; os coices da vida atingem-nos sempre onde permitimos.
A dureza da vida embota-nos o poder de compreender. Mas é indispensável fazer esse esforço.
O que é preciso é arranjar sempre uma desculpa - boa ou mais ou menos - a dar a si próprio.
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