Thursday, June 29, 2006

Diálogo emprestado à razão


Dá-me uma razão para continuar a contar os passos sobre a espuma das ondas em vinte minutos de reflexões antecipadas enquanto aguardo o momento de te olhar de frente para uma conversa de palavras escolhidas.

Não sei a razão por que vieste…

Dá-me uma razão para me manteres refém do verbo no pretérito imperfeito ignorando o meu desconforto ou estimulando-o ante a perspectiva da revelação que pode não ser surpresa.

Não tranquei a porta, foi tudo uma coincidência.

Dá-me uma razão para a descrença, nem que tenhas de me analisar os genes para descobrir neles a raiz das minhas construções sem alicerces ou das escadas de onde me sinto cair lentamente quando tento subir.

Não te fiz crescer nem posso sem que tu queiras. Mas não fiques aí em baixo. Sobe.




12 comments:

Anonymous said...

A razão...que a razão desconhece! Nada mais direi porque não consigo!
Beijos

wind said...

Espectacular!
Só consigo escrever:sobe com força!:)
Beijos

stela said...

Quando "te" li arrepei-me... Penso saber muito bem do que falas... espero que subam com força!
beijos grandes

Politikus said...

Um convite ao amor. Gostei...

K. said...

Outro excelente post. Também eu subiria essa escada, sem dúvida.

peciscas said...

Quantas vezes os encontros ficam separados por uma escada.
De um lado, alguém que espera. Do outro, alguém que não se aventura a subir.

mfc said...

Um texto labirinticamente interior que acaba com um estender de mão lindíssimo!

Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

este texto é muito bonito, tão sensivel, tão à flor da pela, mesmo se emprestado à razão...,

e levei-o emprestado ;)

aibieme said...
This comment has been removed by a blog administrator.
aibieme said...

"Dá-me um razão para a descrença..." Nada mais paradoxal do que querer justificar com a razão o não abandono da mesma razão em favor crença irracional. "Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus." Não é impunemente que se transporta a arte de ver e se recusa a leveza de seguir com o vento. É provável que a razão sejam os próprios genes embora a minha razão o conteste. Mas o que é relevante, o que vale bem mais que o amorfo Reino dos Céus, é esta erupção de beleza que nenhuma razão contém.

Anonymous said...

Não tenho palavras para comentar um texto como este, só te posso dizer que adorei. E como sempre espanta-me, que algo que aparentemente representa uma realidade tão pessoal, possa chegar tão dentro de outra pessoa (de mim).

ivamarle said...

sem querer, não há poder.De nada serve a nossa inquietação, quando os quereres não são nossos...