Sunday, June 25, 2006

Começa a falar-se daquilo que me preocupa, a mim e a outros profissionais do ensino, há muito tempo

Não são as minhas palavras e ainda bem, para que não se pense que defendo irracionalmente a classe.
Também sou Encarregada de Educação, para além de ser professora. Estou, pois, dos dois lados.

(...) Porque entre nós, em Portugal, se verifica a maior das confusões neste domínio, presumindo-se, erradamente, que o aumento do número de anos de escolaridade acarreta, necessariamente, uma melhor preparação dos alunos, o que é estatisticamente falso porque um aluno "aprovado", em 1955, no exame da quarta classe, tinha grande probabilidade de saber: ler, compreender o que tinha lido, escrever sem erros de ortografia, contar, executar as quatro operações aritméticas básicas quer com inteiros, quer com quebrados, resolver problemas, de alguma complexidade, envolvendo o uso dessas mesmas operações e também das diversas unidades de medida de comprimento, área, volume, peso, tempo e ângulo, e, ainda, de saber uma série de coisas, úteis ou inúteis, sobre Geografia e História. Um aluno "transitado", em 2005, do nono para o décimo ano de escolaridade tinha grande probabilidade de não possuir nenhuma destas competências. (...).
Público, 23 de Junho de 2006, Avaliação de docentes, discentes e parentes, por Álvaro Pereira Athayde


(...) Anos e anos - décadas ! - de pedagogia romântica, assente no pressuposto de que as crianças são vítimas inocentes de uma sociedade repressiva e de que albergam na pureza dos seus espíritos imaculados tesouros de intuição e até de sabedoria ainda não contaminada pelo cinismo do mundo, mergulharam a escola numa anarquia. As pedagogias libertárias de finais da década de 60 - "é proibido proibir" - pegaram de estaca num país dominado por uma cultura cívica e política esquerdista, que prega a irresponsabilidade individual e só aponta o dedo à responsabilidade social. Ao longo dos anos e das décadas, o Ministério da Educação encarregou-se de esvaziar as escolas e os professores das suas competências disciplinares, na crença idiota de que os meninos e as meninas se poderiam corrigir com doçura, através de bons conselhos e benignas acções de recuperação. As punições foram praticamente abolidas. Alunos com 20 e mais participações disciplinares não são expulsos. Quando se abrem inquéritos, os alunos são ouvidos em pé de igualdade com os professores; ao cabo de vários meses redundam, na melhor das hipóteses, numa suspensão - que não conta para as faltas dadas: os prevaricadores são presenteados com alguns dias ou uma semana de férias. Em suma, a indisciplina na escola tem medrado a coberto da mais completa impunidade.(...)
Público, 23 de Junho de 2006, Vamos aumentar o descalabro?, por Maria de Fátima Bonifácio


A avaliação é imperativa. Avaliação dos professores, da escola, do sistema. Mas o projecto de avaliação dos professores implicando os pais seria a medida mais insensata de que alguém se poderia lembrar se não fosse, como é, um expediente demagógico para desviar a atenção do país da questão central da educação – a ideologia igualitarista e, ramos da mesma genealogia, as teorias pedagógicas delirantes impostas totalitariamente que transformaram a escola numa escola do faz de conta. Seria mais uma acha na fogueira da desvalorização do ensino, do descrédito e da humilhação dos professores, ferindo também aqueles que fazendo o impossível em condições tão adversas continual a salvar muitos alunos (...).
É claro que os professores têm responsabilidade na tragédia dos resultados, mas não são uma ilha.(...)
Repito: sem varrer o eduquês, sem varrer os especialistas sem emenda do ministério, não haverá sucesso educativo.
Público de 25 de Junho de 2006, O Inimigo Externo, por Guilherme Valente

3 comments:

wind said...

Li os 3 artigos e como já estou tão saturada desta situação, vais-me desculpar, mas nem comento:)
beijos

Anonymous said...

elipse...li os três artigos e vou estando atenta à (r)evolução no ensino e sinceramente é pior a emenda que o soneto.
Não há métodos que prevaleçam quando a trilogia - pais/alunos/professores - remam em sentidos opostos num salve-se quem puder e estou a chegar ao que a wind disse!

beijos

ivamarle said...

mas ao menos terás a lucidez e o conhecimento mínimo, para avaliares a progressão da tua filha; o que me assusta é que a maioria dos pais se demarca quase, da educação dos filhos e não tem a mínima capacidade de raciocínio técnico, para avaliar o trabalho de um professor...