Era uma vez um grupo de pessoas que tiveram necessidade de construír casas para habitar. Já lá vão muitos anos. Tantos, que as casitas acabaram por ficar em ruínas e depois as ruínas arruinaram-se a tal ponto que hoje quando lá vamos encontramos tudo espalhado pelo chão e só com muita imaginação conseguimos perceber que eram romanos, que tinham tanques de água a que chamavam termas, que forravam o chão com azulejos, etc. Das paredes não se sabe muita coisa, porque já não existem. Da altura das colunas, só por analogia com outras paragens, pensando-se que quem faz um cesto faz um cento e que aquilo estava tabelado para que a arquitectura não fugisse do padrão mais económico. Longe da metrópole tinha de se poupar algum e o que interessava era seguir as normas imperiais mas à distância. Isto dizemos nós, que nem sabemos o que diziam e o que pensavam, ou a que hora do dia acordavam e com que disposição ali faziam a guerra, ou o amor...
Porém as pedras estão dispersas num local em que se abrasa no Verão. Vá lá saber-se como é que os romanos resistiam ao sol. Os visitantes ainda vá que não vá, só lá vão uma vez na vida e chega, mas quem lá morava devia ter de se proteger e refrescar.
É então que nos surge um criativo nacional ou um conjunto deles, porque o trabalho em equipa sempre pode chamar-se projecto, engendrando maneira de embelezar a zona para maior atracção turística ou porque assim imaginou a coisa e mandou colocar protecção solar ao estilo Calatrava mas mais de trazer por casa, que aquilo é campo e p’ra quem é bacalhau basta; mandou também refrescar o ambiente com repuxos, não se sabendo muito bem se os autarcas se inspiraram nas ruínas ou as ruínas nas rotundas e muito menos se os romanos já tinham rotundas, podendo bem ser que sim. A verdade é que repuxos e plantas decoram o cenário e qualquer criancinha pode perguntar à mãe, sem que ninguém lhe possa levar a mal, se era ali naquela água que os romanos se lavavam.
Ora não seria melhor tapar tudo e deixar umas pedrinhas para ficarem expostas numa das montras de um shoping que ali seria uma mais valia económica com um nível de visitas por hora de longe superior a qualquer amontoado de pedras?
9 comments:
Divido-me, pois, entre a conservação e o "progresso"... ou antes, entre o deixar tudo como está e o andar para a frente porque os testemunhos não têm de estar à vista e no local, ou então qualquer dia vivemos no encurralados no passado. Havendo, no entanto, limites para uma atitude e para outra.
Não sei muito bem...
Do que gosto é de imaginar como pensavam e como sentiam e nisso a História só nos dá silêncios.
Georges Duby defendeu que se podem preencher os vazios com a imaginação. Concordo, mas para quem sabe do ofício, não para curiosos ou simples ficcionistas (ai a ficção... pronto, já estou a contradizer-me)
Que estupidez. Deviam deixar estar como estava. É algo histórico. Os portugueses infelizmente não sabem manter o seu património cultural.bjs
Sobreviveram ao calor,como os alentejanos ainda sobrevivem. Com muita paciencia e sapiencia minha querida.
Coisa que já pouco abunda, convenhamos
;-)
bem, a cobertura entendo, já os naperons, não
pirata vermelho: e em toda a europa há arquinhos de triunfo e palacinhos de versailles, roupas benetton e pós modernismos, é a moda e o poder de compra!
antes da naomi e da twiggy já havia disso
Naaaa o processo de megastorizar a sociedade tem os seus limites. Fizeste bem em alertar para esse problema da incompatibilidade da análise e estudo históticos com a massificação dos mirones que só atrapalham.
só muito a correr, para te desejar Feliz Páscoa, coisa fofa!! beijinhos!!!
.....obrigado por me trazeres imagens da minha região, que já não vejo à algum tempo.....
Beijo com carinho.
Boa Páscoa
Em tempos que já lá vão, disse o sentia em relação a certas coisas da história. Levei na carola, aceitei como é óbvio o que opinaram. Eu gostava muito de ver os restos mortais de cidades e de artes, mas num mundo onde...mudam-se as pessoas, mudam-se as vontades...que resta? Em Angola havia estátuas, monumentos lindissimos e desde que vi a pobre da Maria da Fonte, enormissima, ser reduzida a pó e no seu lugar porem um tanque de guerra...daqui a 500 anos os que andarem nas escavações ao descobrirem um pedacinho de um dedo, mão ou pé da dita ainda dizem que é meu.
Há muitos anos fui a Conimbriga, sei a sua história, mas naquelas pedras n consigo visualizar o relato histórico, nenhuma beleza e nem dar asas à imaginação. Não consigo gostar embora seja totalmente a favor da sua conservação ou permanência como encontraram para quem goste e aprecie.
Errada ou estúpida, sou assim, ou melhor a vida azedou-me nessa faceta e gosto muito mais de outras coisas.
Tenham um boa noite e parabéns elipse por mais este post!
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