Thursday, April 13, 2006

Sobre a conservação

Conímbriga

Era uma vez um grupo de pessoas que tiveram necessidade de construír casas para habitar. Já lá vão muitos anos. Tantos, que as casitas acabaram por ficar em ruínas e depois as ruínas arruinaram-se a tal ponto que hoje quando lá vamos encontramos tudo espalhado pelo chão e só com muita imaginação conseguimos perceber que eram romanos, que tinham tanques de água a que chamavam termas, que forravam o chão com azulejos, etc. Das paredes não se sabe muita coisa, porque já não existem. Da altura das colunas, só por analogia com outras paragens, pensando-se que quem faz um cesto faz um cento e que aquilo estava tabelado para que a arquitectura não fugisse do padrão mais económico. Longe da metrópole tinha de se poupar algum e o que interessava era seguir as normas imperiais mas à distância. Isto dizemos nós, que nem sabemos o que diziam e o que pensavam, ou a que hora do dia acordavam e com que disposição ali faziam a guerra, ou o amor...
Porém as pedras estão dispersas num local em que se abrasa no Verão. Vá lá saber-se como é que os romanos resistiam ao sol. Os visitantes ainda vá que não vá, só lá vão uma vez na vida e chega, mas quem lá morava devia ter de se proteger e refrescar.
É então que nos surge um criativo nacional ou um conjunto deles, porque o trabalho em equipa sempre pode chamar-se projecto, engendrando maneira de embelezar a zona para maior atracção turística ou porque assim imaginou a coisa e mandou colocar protecção solar ao estilo Calatrava mas mais de trazer por casa, que aquilo é campo e p’ra quem é bacalhau basta; mandou também refrescar o ambiente com repuxos, não se sabendo muito bem se os autarcas se inspiraram nas ruínas ou as ruínas nas rotundas e muito menos se os romanos já tinham rotundas, podendo bem ser que sim. A verdade é que repuxos e plantas decoram o cenário e qualquer criancinha pode perguntar à mãe, sem que ninguém lhe possa levar a mal, se era ali naquela água que os romanos se lavavam.
Ora não seria melhor tapar tudo e deixar umas pedrinhas para ficarem expostas numa das montras de um shoping que ali seria uma mais valia económica com um nível de visitas por hora de longe superior a qualquer amontoado de pedras?

9 comments:

Elipse said...

Divido-me, pois, entre a conservação e o "progresso"... ou antes, entre o deixar tudo como está e o andar para a frente porque os testemunhos não têm de estar à vista e no local, ou então qualquer dia vivemos no encurralados no passado. Havendo, no entanto, limites para uma atitude e para outra.
Não sei muito bem...
Do que gosto é de imaginar como pensavam e como sentiam e nisso a História só nos dá silêncios.
Georges Duby defendeu que se podem preencher os vazios com a imaginação. Concordo, mas para quem sabe do ofício, não para curiosos ou simples ficcionistas (ai a ficção... pronto, já estou a contradizer-me)

wind said...

Que estupidez. Deviam deixar estar como estava. É algo histórico. Os portugueses infelizmente não sabem manter o seu património cultural.bjs

jp(JoanaPestana) said...

Sobreviveram ao calor,como os alentejanos ainda sobrevivem. Com muita paciencia e sapiencia minha querida.
Coisa que já pouco abunda, convenhamos
;-)

Mónica said...

bem, a cobertura entendo, já os naperons, não

Mónica said...

pirata vermelho: e em toda a europa há arquinhos de triunfo e palacinhos de versailles, roupas benetton e pós modernismos, é a moda e o poder de compra!

antes da naomi e da twiggy já havia disso

mfc said...

Naaaa o processo de megastorizar a sociedade tem os seus limites. Fizeste bem em alertar para esse problema da incompatibilidade da análise e estudo históticos com a massificação dos mirones que só atrapalham.

ivamarle said...

só muito a correr, para te desejar Feliz Páscoa, coisa fofa!! beijinhos!!!

antónio paiva said...

.....obrigado por me trazeres imagens da minha região, que já não vejo à algum tempo.....

Beijo com carinho.

Boa Páscoa

Anonymous said...

Em tempos que já lá vão, disse o sentia em relação a certas coisas da história. Levei na carola, aceitei como é óbvio o que opinaram. Eu gostava muito de ver os restos mortais de cidades e de artes, mas num mundo onde...mudam-se as pessoas, mudam-se as vontades...que resta? Em Angola havia estátuas, monumentos lindissimos e desde que vi a pobre da Maria da Fonte, enormissima, ser reduzida a pó e no seu lugar porem um tanque de guerra...daqui a 500 anos os que andarem nas escavações ao descobrirem um pedacinho de um dedo, mão ou pé da dita ainda dizem que é meu.
Há muitos anos fui a Conimbriga, sei a sua história, mas naquelas pedras n consigo visualizar o relato histórico, nenhuma beleza e nem dar asas à imaginação. Não consigo gostar embora seja totalmente a favor da sua conservação ou permanência como encontraram para quem goste e aprecie.
Errada ou estúpida, sou assim, ou melhor a vida azedou-me nessa faceta e gosto muito mais de outras coisas.
Tenham um boa noite e parabéns elipse por mais este post!