Wednesday, April 12, 2006

Abrir o verbo


Às vezes é o tédio que se instala de tanto os afazeres deixarem de ser gratos; como se a repetição dos gestos agastasse e o cansaço do fim do dia nascesse com o sol.

Outras vezes é a metamorfose que tarda. Assisto, espectadora, à permanência da forma e não me apetece contrariar o desagrado. Custa amainar a vontade ou fazer dela a vela de um navio torcendo-se contra o vento.

Também acontece que o verbo se fecha quando devia arredondar-se sobre os vértices das pedras, fluindo nem que fosse por teimosia.

Ponham vinho na mesa. Já oiço o tinir dos copos; acompanhem-me mortais, que me fartei de solidão.

Aguardemos o efeito da mudança e o reforço dos vidros ao cair da tarde. Manhã serôdia mas ainda a tempo de captar os ângulos das marés donde emergem relvados em pleno viço.

9 comments:

wind said...

A tua escrita é tão rica que me é difícil escrever algo, a não ser que me identifico muito e sinto o que escreves. beijos

Anonymous said...

Também me acontece o mesmo, às vezes gostava de escrever um comentário a demonstrar o meu apreço pela tua escrita, mas parece sempre difícil saber o que escrever e encontrar as palavras certas para o fazer.
Por isso digo só que também sinto muito o que escreves.

Fábula said...

abre o verbo, verbaliza em animada verborreia e ñ deixes q o tédio se instale, faz da vontade a vela de um navio!!!

K. said...

Acompanho-te nesse brinde!

mfc said...

Bebamos pois... à vida, à novidade, ao espanto, à capacidade de nos encantarmos!

addiragram said...

Eles estão aí,mesmo à espera que tu os colhas...! Obrigada por mais esta escrita.

Mónica said...

percebo-te

que ganda porra

Anonymous said...

sem palavras...porque não as tenho! Beijos

ivamarle said...

continua a pintar os teus quadros de palavras, para que a minha sede seja aplacada com as tuas cores...