Thursday, March 02, 2006

Os irmãos dos irmãos

Carina – Vou passar o fim-de-semana com a minha irmã mais nova, em casa do meu pai.
Professora – E dás-te bem com ela?
Carina – Sim, a minha mãe é que não se dá, mas eu gosto de ir lá!
Catarina – Ai eu também costumo ir, mas eu tenho um irmão do lado da minha mãe e uma irmã do lado do pai. Já viu, professora, que grande família.
Rita – Eu então é assim: somos duas irmãs dos mesmos pais, mas cada uma vive com uma avó; a minha mãe não mora cá e a mulher do meu pai teve bebé a semana passada. Agora somos três raparigas e dois Fábios.
Diana – Dois?
Rita – Sim, um Fábio que é filho da minha mãe e outro Fábio que é filho da Beta.
Professora – E quem é a Beta?
Rita – É a namorada do meu pai, a que teve a menina.



A Rita é a recordista das negativas na turma – teve 12. Já conseguiu subir a duas. Está proposta para aulas de apoio, ela e os outros 13 alunos que têm negativas em número aproximado. Mas não vai. Já chega de secas, diz ela!
Provavelmente passa para o 9º ano porque o 3º ciclo é constituído por 3 anos e reter um aluno exige planos de recuperação, justificações do insucesso, declarações de autorização da parte dos pais e outras coisas relativamente burocráticas. Além disso o Encarregado de Educação devia tomar conhecimento de que a Rita, que tem 15 anos e está fora da escolaridade obrigatória, já excedeu o número limite de faltas que pode dar. Mas como a avó nunca veio à escola e nunca levantou a correspondência registada, não se pode dar sequência ao processo.

22 comments:

peciscas said...

Estás enganada colega. Não é nada disso. Não vês que o Sócrates já disse que, com as aulas de substituição , o sucesso aumenta?
Isso são hisórias que os profes inventam só para atacarem o ministério.

Anonymous said...

Ora aqui está um problema actual e que vós professores conhecem e bem: familias destruturadas.
É dose mas não desistam , façam o que o vosso coração manda e até onde a vossa mão alcança.
Não são invenções vossas, Sócrates &Compª sabem disso, mas há que arranjar bodes espiatórios.

pirata...a parte finaldo teu comentário...vou alterar um cadinho, posso?
a portugal cabe, em geral, trabalhar lutando sempre por uma qualificação melhor, nem que a vaca tussa.

Pessoal actualmente estou um pouco fora desse mundo, mas tento estar atenta para n perder o kimboiooooo

Beijocas


Enfim

Anonymous said...

palavras em linha, as m desculpas, os posts estão magníficos e obrigado por este momento de leitura e reflexão.

Carlos Estroia said...

Eu vejo a educação como um bem.
Não consigo compreender o facto de as aulas de substituição não serem boas para o sucesso.
É claro que os problemas não se resolvem apenas com essas aulas.

A desustruteração das fámilias é de facto um grande problema, de uma sociedade que cada vez mais se torna insensível aos verdadeiros problemas... é o stess... é não ter tempo...

Abraços

jakim said...

Óh pá eu tinha purmetido que não me vinha práqui cumentar estas coizas açim cãoplicadas mas axo que tão a ser muinto péçimistas. O fato do paiz não ter agora açim jente muinto cólificada isso não hé um purblema. E iço das famílas desturturadas tamãe não hé razão pra temer. Douvuz perizemplo o izemplo do Áinxtáin e o meu própio. O Áinstáin hera um purblema nascola mas cuando chagou a altura mustrou como hera entelejente. Eu não vou dezer caminha famíla foçe destruturada. Héramus setirmões mas só héramus dois purque a minha mãe dezia que o meu pai hera filho da mãe mas alguns dos meus hirmãos que não erão filhos da mãe, a mãe diziam que eram filhos da ... bom não era bãe assim elezérão filhos do pai e pur isso erão meuzirmões mas a jente só se via hás vezes. Mas o que eu cria dezer hera capezar destas cãopelicassões eu hivuluí e oije sou iconemista e aceçor. Pur iço não tãeãe que ficar priocupados porque hás vezes no melhor pãno cai a nódua. E vale mais um páçaro na mão do que três com gueripe. Cuanto hás háulas de sustituissão inssinãelhes purtuguêz que hé o queles percizão purque o engalês elezaprendãe na perimária.

Elipse said...

haja alguém que venha mostrar como a qualificação é importante entre os portugueses.

Façam-me rir, sim, que eu já perdi o jeito!

eu já estou treinada jakim, corrijo muitos testes escritos assim (eles depois põem a correcção no lixo, mas eu lá vou tentando).
Vou só acrescentar que dou aulas há 23 anos, entre secundário e terceiro ciclo (mas também sei fazer outras coisas, garanto-vos), e nunca tinha visto as coisas neste estado, nunca terminei um ano lectivo sem ter resolvido as coisas mais ásperas... e a bem...
Posso localizar a mudança, não obstante ter sido progressiva, de há cinco anos para cá... mais ou menos... e há dias em que me sinto perante eles como se fosse uma coisa insignificante a quem eles se dignam ouvir durante uns escassos 10 minutos, por grande favor. E não falo só de má educação, que isso resolve-se. Falo de uma coisa que ninguém percebe se não lidar com eles neste contexto - é como se dissessem (e dizem, às vezes) a todo o momento "não me venhas chatear com essa conversa que eu 'tou bem assim".
não falo aqui de ensino secundário porque é o básico que me está a preocupar. Claro que há alunos interessantes e interessados a lutar para entrar no superior, mas desses já não tenho há uns anos, infelizmente... este país não valoriza os estudos humanísticos, por isso eles escolhem áreas técnicas e científicas, honra seja feita aos Jakins, que de humanidade estamos todos bem servidos e vivam os economistas que hão-de salvar o mundo!

mfc said...

Sei do que falas e sei o tipo de alunos que tenho na formação. O retrato que fazes peca por defeito e ainda está melhor explanado no comentário que fizeste.

jakim said...

Oije não tanho tempo mazum dia destes vou exquerver lá no meu bló um têsto sobre o surralismo. Hé hividente que minscrevo queláramente neçaxcola. Mais não saja purque, prajudar o paíz nesta querize de falta dauga, só tomo banho uma vez pur ano. De cualquer manaira pressebi que devo ivitar entervirme nestes blós entelquetuais dexquerda. Tãeãe hé henveja de não fazer par-te do estáfe de um jénio como o Purfeçor caté cãosseguiu ler "as costas voltadas prá montanha májica" do Tumás Morre.

Elipse said...

Pirata, aceito... mas não posso dedicar a minha vida a isto... tem de ser devagar.
De qualquer forma não era com intenções ensaísticas nem de debate aberto que este blog se ia mantendo. Admito intervalar, especialmente em alturas em que o registo estiver mais acinzentado.
Por isso, menina do vento, eu sou a mesma. E quem for meu visitante faça o favor de apreciar o (a) vento suão e não se arrependerá.
Jakim, sabes que sou tua admiradora incondiciional. Quanto mais não seja para não perder o treino da leitura codificada.

ivamarle said...

infelizmente existem muitos casos assim...

Anonymous said...

elipse, admiro o que aqui colocas porque tocas em assuntos muito sérios, intervalando com outros mais leves.
Nem a prepósito ontem ouvi um debate na Sic noticias onde Henrique Medina Carreira(ministro das finanças em 1976, licenciado em direito e pedagodia, se n estou errada) que disse isto, por outras palavras:
falando do ensino: na forma como foi estruturado de 1995 a 2005, os alunos chegam às Faculdades sem saberem rigorosamente nada, sobretudo português, matemática para n falar de outras. Procuram cursos onde o essencial que perderam no básico e secundário, não lhes dê problemas no futuro.
Compete aos prof, sempre os maus da fita, nas suas próprias escolas, debaterem-se contra o que está errado no sistema, com aulas ou não de substituição, que no seu ver resultará sim se houver empenhamento de toda a máquina do ensino. Segundo ele há muitos prof que conseguem o interesse dos alunos sobre a matéria e outros que não...a razão? não a disse.
Há crianças e jovens dificeis, mas não é dificil dar-lhes a volta e sobretudo o tal respeito que deverá ser exigido aos alunos por parte dos prof!

Não quero com isto dizer que ele seja o dono da razão, mas pelos comentários,vejo o desânimo de alguns que a juntar a muitos caminhamos para um bêco sem saída.

Por exemplo, e com todo o devido respeito pr'a pessoa que representa o nick jakim, quando começo a ler o que escreve, sinto uma tristeza enorme, porque infelizmente há quem escreva com tantos erros. Codificada? Gozação? aceito e respeito, mas não consigo nem sequer sorrir, porque nem com as m filhas e hoje com as netas entrei na conversa do tátebitate.
Como é óbvio também dou erros e por vezes misturo o gerundio, mas tento manter a nossa língua.
professores...ohhhh prof...mesmo que sejam apelidados de "secas" derrubem os muros aparvalhados do Ministério da Educação, em prol das nossas crianças. Dificil, mas não impossível...porque até o muro de Berlim foi abaixo.
Um beijo sincero e desculpem se disse alguma asneira ou ofendi alguém.
Bom fim de semana

lampejo said...

Pobre criança...

Claudia Sousa Dias said...

Elipse e mfc, junto-vos a minha solidariedade!

Subscrevo o Pirata e o Jakim (principalmente pelo seu sentido de humor, os meus formandos não escrevem assim mas quase!

A maior parte deles está no 10º ano e não sabe quem foi Nero.

Um Beijo

CSD

Elipse said...

A culpa é dos professores, Cláudia.

Anonymous said...

não elipse...a culpa é de todos nós e eu não sou professora e acredita que, desde que aqui ando tenho aprendido muito. Obrigado:)

Mónica said...

há relação directa entre ter meios-irmãos e ser mau aluno? ou é apenas uma questão de um todo? e viver com a avó é mau? a avó não liga à escola e depois, a criança passa fome? é infeliz?

os critérios de "viver bem" são subjectivos, para certos pais o filho ter média de 18 à custa de explicações é optimo pra outros pais que a filha não xateie nem engravide é muito bom!

e o professor que tem a ver com isso? para muitos alunos a sala de aula é um descanço, importa é saber aproveitá-lo: ó stora n me xateie! e como era antigamente: esses meninos levavam porrada de meia-noite e aprendiam pra caraças provavelmente são os ministros e directores dos dias de hoje! são???

tava com vontade de contar aqui umas coisas mas pra n cair na mesma correlação... eu queria era que os meus professores me ensinassem muitas coisas e não me fizessem perguntas pessoais, mesmo tendo negativas a português e a fisica!!!!!!!!

LOL

e o estado de conservação da carteiras e cadeiras e o giz que nunca há e a chuva que cai dentro da sala e a lenha que não há pra salamandra e e e e

e dar aulas no liceu francês? meninos ricos que nunca vêem os pais, têm brinquedos e satisfação de desejos imediatos, andam bem vestidos, vão de taxi pra escola, têm bábás que simulam ser mães, chucham no dedo até tarde, gaguejam, enfim...

tou mesmo desambientada, completamente alienada, viva a anarquia!

Leonor C.. said...

Que raio de família mais complicada! Mas para que é que se hão-de ralar? Haja descontração, depois logo se vê! Além disso as aulas de substituição servem para aumentar o sucesso e pode ser que sejam mais divertidas!

Elipse said...

Sem cantigas, vamos alargar as vistas e falar em desestruturação familiar e social. Tinha vontade de continuar a dar exemplos, todos os dias mostrava uma realidade diferente, como a do pai que me disse, a choramingar "nós damos-lhe tudo, senhora professora; não falta nada à minha filha, nem telemóvel de 40 contos, nem MP3, nem máquina digital, nem internet nem dinheiro... mas veja lá se consegue fazer alguma coisa dela que nós já não sabemos o que fazer"
A Ana é uma menina que não tem positivas (e nem imaginas como é inteligente), que falta às aulas estando na escola, que é apática dentro das aulas ou mal educada o suficiente para mandar calar uma professora ou mandar outra para o caralho. Ah, e diz sempre que o livro de História ainda está dentro do plástico, etc.etc.

Elipse said...

Ah, e não compares nunca o teu tempo com o tempo presente, já é a segunda vez que o fazes como se fossem comparáveis. Acredita! Eu tenho acompanhado o processo, tenho estado sempre no ensino desde 82. Nem o ano de 1998 é comparável, nem sequer o ano 2000 é comparável aos últimos anos. Há certamente mil explicações (inclusivé a incompetência profissional, claro)e este espaço é pequeno para isso tudo.

Vamos pois mudar de assunto para ser um DESCANSO para todos.

Mónica said...

elipse: não concordo! cada tempo tem o seu nó! os meus profs tb se queixavam q no tempo deles havia mais respeito...etc etc

todos os tempos são de generation gap, nós é que ficamos velhos, cansados e de tanto ver o mesmo filme e saber o final de cór vamos sendo menos condescendentes e adiantamo-nos em conclusões e destinos traçados!

os novos tempos são sempre melhores que os anteriores ou não há aprendizagem, experiência??
melhor mesmo com detalhes piores.

acredito nos novos, acredito nos meus filhos, acredito no piercing na lingua da m filha acredito nos desenhos e colagens do m filho espalhados pelo chão... epá já n acredito em sim pai sim mãe (ou prof ou ministro ou patrão ou ou) é uma ordem cega!

o desafio é a possibilidade de cada individuo e não o determinismo da envolvente

"é tão revoltante como fascinante" voilá pirata eu plagio-te!

revoltante porque estou pra trás, desconheço os códigos, esperam de mim, tou fora careta cota, queria era ser sempre do meu tempo

claro que tenho o nariz arrebitado e muito pêlo na venta

ri-te que o que eu digo não se escreve

Elipse said...

estamos todos fodidos, pirata, estamos!
que crise de autoridade, que cedência ao pós-modernismo, que ausência de espírito crítico, que lassidão, que necessidade de discursar na esfera do politicamente correcto... não há sustentabilidade para uma situação destas.
Não falo mais. Continuarão a dizer que estou do outro lado do conflito geracional, mas não é disso que se trata, não é!!!!

Mónica said...

a menina a dizer as asneiras... o caso é grave!