Friday, March 31, 2006

Corrosão do Tempo

Amei-te com paixão de menina; e depois com a calma de quem sabia todos os segredos.
Era de partilhas o primeiro sonho e por isso emergiam flores do nosso chão conjunto.
Foi contigo que desenhei as paredes e o forro de um abrigo à sombra, com varandas suspensas na solidez de duas ou três traves.
E assim ficámos, vendo passar as manhãs sobre as noites alongadas; talvez com frio ou com metáforas a gastarem-se nos gestos. Ou nos abraços.
Pousávamos carinhos sobre o corpo, cada vez mais à beira do silêncio ou do gelo que sobrava de cada noite.
Não sei se foi o vento ou a maldade que desenhou um barco sobre as águas a caminho da margem mais atenta.

No cais havia um palco e muitas mãos exibindo o fulgor de outros segredos plantados nos degraus. E tu seguiste.
Subitamente quebrou-se o meu perfil e as águas agitaram-se.

9 comments:

antónio paiva said...

......o tempo constrói e destrói muita coisa, a paixão é uma delas.....

Beijinho e bom fim-de-semana

Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

que sentidos se escondem por detrás destas palavras, pressentimo-los apenas.

Anonymous said...

dá gosto ler e dar asas à imaginação. Parabéns!
Beijos e um Bom Fim de Semana

jp(JoanaPestana) said...

os desconcertos concertados
gosto tanto de te ler palavrinhas elipsada
:-)**

mfc said...

Por vezes voltamos a abraçar o vazio!

Fábula said...

mas q segredos seriam esses, os q fizeram as águas agitar-se? hum?

ivamarle said...

adoro a imagem das "metáforas a gastarem-se nos gestos". Mais um texto magnífico!!Parabéns e muitos beijinhos e abraços apertados (à la Mushu;LOL)

K. said...

Inquietante.

addiragram said...

A permanente inquietação de quem busca reter o efémero. Poderemos transformar cada dia uma luta contra o silêncio?
Uma escrita com sabor a Eugénio, uma música que sempre nos sabes trazer.