Monday, December 12, 2005

Sobre o ser português

Diz quem sabe que tudo pode ter começado com a rivalidade entre a aristocracia portucalense e a galega, sobretudo no plano religioso, com igual rivalidade entre Braga e Santiago de Compostela. Ao mesmo tempo autonomizavam-se outros espaços cristãos na Península, sem que possamos ter como assente o crescimento de uma nacionalidade face a um reino de Leão homogéneo. Diversidades regionais sempre as houve e há por todo o espaço peninsular e não é da geografia que vem a individualidade. Depois há ainda a considerar o carácter guerreiro dos primeiros reis em época de cruzada e as consequências que isso trouxe para o alargamento do território.
Enfim, de tudo isto terá nascido um país, com muito mais explicações à mistura, que a história não se escreve em meia dúzia de linhas. Quanto à vassalagem e ao espírito de independência daí nascente, o que me parece é que ela era praticada na época como instituição, logo, não há conceitos modernos que expliquem o passado, Nem há uma visão única sobre os acontecimentos, sendo que todas as explicações decorrem do olhar de quem as encontra nos documentos.

Ser português?
É complexa a explicação, porque o passar dos tempos traz ligações à terra, à língua, aos hábitos, a pormenores da maneira de estar e de se comportar; ligações que não fazem parte das nossas reflexões diárias mas que nos ocorrem por comparação, no confronto.

Pode ser essa a palavra: foi o confronto que nos deu alma (porque nos animou para a autonomia) e é do confronto com o outro que passamos a reflectir sobre o que é a alma portuguesa.
Sem que o fado ou o futebol nos expliquem ou nos justifiquem. E muito menos a saudade, que é coisa que se diz única mas que tem a ver com este assumir de uma pequenez evidente, dadas as dimensões do território.

Talvez me veja a reflectir um pouco mais, noutro dia…

10 comments:

Elipse said...

Uma discussão da especialidade que não cabe aqui. O lugar da dissertação/monografia é outro e quanto a obras de referência eu também tenho as minhas. Não esquecer que estamos sempre no domínio da ficção (controlada), quando entramos nas explicações dos factos. Não esqueço, com certeza, os francos mas integro-os na instituição cavalaria que também é instituição igreja e tudo dava pelo nome de Cruzada.
Muito mais a dizer mas não em lugar de blogalização.
Obrigada, contudo, pelas sugestões. Assim o tempo me permitisse abarcar toda a História mas o meu período é outro.

J25 said...

Não esquecer a colonização a cargo dos pterodáctilus no período pré-histórico. Seus ovos forma fulcrais para que os povos ibéricos fizessem boas omeletes... :)

J25 said...

Agora a sério,

penso que toda e qualquer nação nasce do confronto/antagonismo com outrém. Neste sentido prevalece o Etnocentrismo, xenofobismo ou qualquer outra forma de elevação Racial/cultural em relação a outra.
Foi a nossa ideia de se superioridade em relação aos Espanhois que nos fez caminhar para a independencia. Foi a nossa ideia de superioridade face aos Muçulmanos que nos fez expulsar os mesmo da peninsula ibérica, assim como tinha acontecido com os Muçulmanos quando se julgaram superiores aos povos europeus/ibéricos quando primeiramente entraram na PI... e assim tem acontecido ao longo dos tempos. São poucos os casos em que uma nação tenha nascido da união entre povos de forma consentida e com concordância entre ambos e sem que uma arma fosse levantada.

Ser português? Não sei o que isso é. Viver em Portugal sei o que é.

Rosario Andrade said...

Querida Palavras,
Por vias desses gajos, os reis e as suas tricas, anda o pessoal de tanguinha. Diz-me lá, nao estariamos melhor hoje se fossemos espanhois com autonomia? Senao vejamos: os espanhois tem melhor salario minimo, melhor economia, melhores estradas, melhores caminhos de ferro, melhor sitema se saude,etc, etc, ec, ate melhor primeiro ministro!
Espanha, volta, estas perdoada!

Abracicos!

Elipse said...

Se retirares Portugal, no desenho, à Península, hás-de rir-te com o resultado. É uma coisa incompleta. Só teria pena se se perdesse a língua. De resto, porque não?

J25 said...

Espanhol? Porra!!

mfc said...

O confronto é o impulso definitivo, mas subjacente a ele há que existir uma certa identidade, para que o que dele resulte não seja efémero.

armando s. sousa said...

A consciencialização de ter uma identidade diferente nos povos que viviam entre, Douro e Minho, é anterior à criação da nacionalidade portuguesa, e na sua essência a causa da criação dessa nacionalidade.
Agora gostaria imenso de ler toda monografia.
Um abraço.

Lúcia said...

não sei porquê, lembrei-me do Saramago e a Jangada de Pedra.
Se todos os confrontos e rivalidades fossem como os nossos, o mundo não seria como é. Apesar de tudo, somos um povo pacífico.
E eu gosto desta nossa pequenez territorial.

Mónica said...

pirata vermelho pai natal quiçá gato maltês: tocaste no ponto fraco, ólhó discurso!