Wednesday, August 31, 2005

Máscaras sobre os medos

No princípio era o medo.
Por isso criei a máscara, ainda sem jeito para a criação. Resultou do acto uma imitação grosseira (todas as imitações são grosseiras se não achamos a palavra certa), sem original que lhe servisse de modelo.
Pode sempre dizer-se que se obteve uma peça única, mas a composição que sai da roda do oleiro deve ser harmoniosa.

Gosto da palavra harmonia, disposta em linha sobre a palavra horizonte. E, pensando bem, talvez a imitação pudesse ser indecisa e não grosseira; ou talvez apenas imitação, sem qualificação que a mascarasse.

Não posso, pois, confiar às mãos, grosseiras e incertas (qualificações excessivas no texto) a tarefa do recorte.

Gosto de imaginar o efeito das mãos unidas na contra luz, abertos os dedos em leque, sombra de asas em movimento harmonioso.

Resta a mente, definida em padrão arrevesado, de matriz inquieta. Mente confusa ou a confundir-se em regressos sucessivos depois de cada esconderijo. Mente apinhada de palavras moldadas em pedra. Nela a máscara nunca encaixou, em resultado de tão desajeitada carpintaria. Confiar-lhe a criação é apontar-lhe sempre caminhos de palavras desalinhadas.
Mas não é já o medo. É sempre a inquietação.

2 comments:

Elipse said...

Retribuo o beijo e as palavras bonitas. Visitar-te-ei na tua "casa".

Anonymous said...

Aprendi muito