Vesti um agasalho quando os dias eram frios.
Não, não mo deram a vestir; era meu da raiz ao topo porque o fiz nascer de dentro da terra e nele me envolvi, preparando-me para ver passar as estações.
Agasalhada, ergui-me robusta, na vertical; depois lancei braços e disse ao céu que o azul era pouco.
Lá onde chegavam ao fim
as minhas folhas era como se um sorriso se soltasse de cada dedo; e cada dedo
agarrasse o infinito.
Entretanto o chão floriu à minha volta e era ao verde que me rendia todas as manhãs, depois do canto das aves ter cessado na placidez de cada entardecer.
E assim foi passando o tempo; digo-o agora, à distância; antes não o disse ou não dei por ele, de tão aconchegada na justeza da roupa; agora tenho frio.
Que sucedeu à capa com que me cobri?
Que frio é este, tão súbito, tão devasso, tão intenso?
São farrapos, estes restos de roupa velha.
Mas é estranho que tudo esteja ainda verde e eu gelada.
Dizem que, por baixo, há pele nova e que eu serei outra vez senhora do meu corpo.
Tenho frio.
1 comment:
Conheço bem esse frio...!
É um frio que nos deixa a sós.
Beijinhos pelas lindas palavras.
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