Faz parte do meu dia-a-dia falar das personagens da História aos mais jovens, fazendo também parte da profissão de fé não emitir juízos de valor.
Não é muito fácil evitá-los quando se trata de acontecimentos ainda recentes. Chamar carniceiro a um qualquer chefe militar persa ou louco a um imperador romano não ofende ninguém.
Pior é ter de ouvir aos mais jovens hinos de louvor a ditadores como se o discurso dos seus avós passasse ao presente sem pagar portagem.
O que lhes digo é que se Salazar voltasse eles não poderiam entrar na escola com as calças a cair pelo rabo. Depois falo-lhes do ditador e do enquadramento de massas que o regime determinou de forma a ter cidadãos moldados para o cumprimento dos deveres pátrios.

O meu problema é apenas um, neste momento: como vou poder ainda raciocinar em função dos meus valores?
Que dizer agora, quando comparo o período da primeira república com os últimos trinta anos… e as medidas do Estado Novo com as do actual governo?
Bem sei que a Europa é que comanda mas também o salazarismo teve o seu contexto europeu, nos seus inícios.
Assustei-me com o cheiro a militares nesta história da Grécia e disse para comigo: “a confusão vai engrossar!”
5 comments:
Essas tuas preocupações são bem reais e as comparações não tão boas quanto desejaríamos!
Estamos numa encruzilhada perigosa... e tenho pouca confiança no que aí vem!
Beijinhos
Também tenho a forte sensação que sim.
csd
A história pula e avança. Neste momento não são os militares que metem medo, mas sim a economia galopante controlada por meia duzia de sujeitos no mundo. E já era tempo de começarmos a falar no que os últimos 36 anos a democracia fez ao País e não tanto nos 40 e tal que o ditador dominou. Porquê ? , porque a geração que agora faz esta borrada toda, é produto das ultimas tres decadas e não tanto do tempo do outro senhor. Vamos lá passar a bola.....,
Não podia estar mais de acordo...
Os teus alunos não provaram o sabor da ditadura. Falam dela como dos gregos ou romanos da antiguidade. E no entanto falamos de algo que aconteceu há tão pouco tempo!
A memória é extemporânea.
Naturalmente reescrevemos a nossa propria história para a moldarmos ao que sentimos e escolhemos. Qto mais a de um país...
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