
E o futuro faz-nos reféns.
Sobra o passar dos dias, a sucessão das noites e a curva elíptica da translação da terra.
"(...) não é ofício do poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer; quer dizer: o que é possível segundo a verosimilhança e a necessidade" (Aristóteles,Poética)
Faz parte do meu dia-a-dia falar das personagens da História aos mais jovens, fazendo também parte da profissão de fé não emitir juízos de valor.
Não é muito fácil evitá-los quando se trata de acontecimentos ainda recentes. Chamar carniceiro a um qualquer chefe militar persa ou louco a um imperador romano não ofende ninguém.
Pior é ter de ouvir aos mais jovens hinos de louvor a ditadores como se o discurso dos seus avós passasse ao presente sem pagar portagem.
O que lhes digo é que se Salazar voltasse eles não poderiam entrar na escola com as calças a cair pelo rabo. Depois falo-lhes do ditador e do enquadramento de massas que o regime determinou de forma a ter cidadãos moldados para o cumprimento dos deveres pátrios.
O meu problema é apenas um, neste momento: como vou poder ainda raciocinar em função dos meus valores?
Que dizer agora, quando comparo o período da primeira república com os últimos trinta anos… e as medidas do Estado Novo com as do actual governo?
Bem sei que a Europa é que comanda mas também o salazarismo teve o seu contexto europeu, nos seus inícios.
Assustei-me com o cheiro a militares nesta história da Grécia e disse para comigo: “a confusão vai engrossar!”