Wednesday, February 18, 2009

Ainda a ficcionar 11. (nunca há fim)



Quando te pedi que escrevesses imaginei que trarias ao conhecimento a história da permanência de um verão. Uma história contra o tempo.
Fizeste mal em não continuar; nem sempre se tem a sorte ao alcance das mãos.
Como vês o inverno humedece as folhas de papel e, ao contrário da natureza que desabrocha em viço mal as chuvas recolhem, nas folhas húmidas as letras perdem-se.
O que te peço agora é que retomes a história onde a deixei; não te preocupes em voltar atrás, que isso não altera em nada o desenrolar dos factos.
Lembras-te? Eu dizia-te que ela regressava a casa mais inteira e foi exactamente aí que a narrativa perdeu a sequência. Ou fomos nós, tu e eu que não quisemos prosseguir o devaneio: eu porque a deixei retomar a rotina sem lhe pedir que voltasse, ao fim do dia, para me falar dos sentimentos; e tu porque te desviaste do essencial.
Por isso volta. Coloca-a agora a caminho de um lugar mais próximo, mais familiar, mesmo que isso te retire a possibilidade de relatar outras cores e outros aromas. A escrita não tem de viver do exótico; a vida passa-se aqui e agora; para quê teimar em voar para lugares tão distantes.
A vida, capta a vida!
Encontrei-a há dias e achei-a diferente, mas deve ser o efeito das roupas de inverno, sempre mais austeras, sempre mais escuras. Surpreendeu-me a dizer que se desejar muito o verão o tempo passa mais depressa e já não tem tempo para isso. Respondi-lhe que deve dar atenção à permanência. Concordou mas estava impaciente, tenho a certeza.
Ou não fôssemos nós, mulheres, a contradição.
Vamos trazê-la de novo?

7 comments:

Boop said...

"foi aí que a narrativa perdeu a sequência"
Fizeste-me pensar numa história da minha história (não consigo usar "estória"). Eo.m que perdi a sequência, e sem as raizes, tudo se tornou solto, disperso, e perdeu parte do encant

CNS said...

E somos mesmo. A contradição.

Um beijo

Fatyly said...

e na contradição encontramos o equilibrio e no equilibrio damos o belo e no belo...nunca há fim!

mfc said...

Há sempre essa contradição entre o ser e o devir.
Há o estar e há a aspiração.
Somos seres inquietos e não há um pacote de soluções à venda nos hipers...
Temos que continuar a viver tacteando.

Mar Arável said...

As contradições não são problema

problema é resolvê-las

Marta said...

sei como é. quando a narrativa perde a sequência e as contradições sobram, como um caminho a direito.

bjo, linda

addiragram said...

Vamos! Encontra-te com ela ao fim da tarde...És capaz de descobrir algumas surpresas...