Saturday, January 31, 2009

histórias


Chega sempre a casa desgastado e sem ânimo. Vale-lhe a imitação de um salário, no final do mês, embora não saiba por quanto tempo mais.
Ela diz-lhe que se aguente, que “andar ao papel” não desqualifica ninguém. A expressão é dele, que antes se tinha por trabalhador qualificado, quando a empresa tinha centenas de pessoas, bem pagas e com perspectivas seguras. Nunca se pensa que o mal nos pode atingir. Na verdade é bem melhor não pensar em nada para não se sofrer por antecipação.
Agora também a reciclagem pode vir a sofrer de falta de “matéria-prima”, a julgar pelo decréscimo das vendas, queixa-se. Até quando os míseros euros estipulados pelo salário mínimo?
Os filhos, em idade escolar, habituaram-se ao conforto e ao gasto fácil. Tudo é possível neste modelo consumista que as últimas décadas incentivaram. Além disso se os outros têm, por que é que nós não podemos ter em igual qualidade e quantidade? Não foi a igualdade proclamada há muitos anos e legitimada pelos modelos democráticos ocidentais?
Hoje chegou a casa ainda mais desolado. O desconsolo dos outros não é razão que anime, mas à porta de um estabelecimento onde acabara de fazer a recolha das embalagens, dois homens abordaram-no e perguntaram se sabia, se a empresa admitiria mais gente. Que tinham filhos pequenos e as mulheres desempregadas.

Depois chegou ela e disse que a fábrica tinha fechado.

19 comments:

PreDatado said...

Infelizmente é o que está a acontecer todos os dias e não é ficção.

mfc said...

Vejo-o curvado, a arrastar os pés, com o olhar vago... ainda novo, mas já velho de descrer.
A recolha do papel!... e um dia até ele acaba!
Uma fotografia bem real.

Mar Arável said...

O que mais me preocupa neste

Inverno não é a chuva nem o frio

é o tempo que faz

Toze said...

Que mais dizer!
É um retrato real.

Anonymous said...

deprimente mais deprimente não há

Anonymous said...

talvez a crise seja uma boa ocasião para avaliarmos os nossos valores, prioridades e importâncias, um bom pretexto para nos livrarmos do supérfluo e parar com o consumismo absurdo, acabou-se o hedonismo, as orgias de nero, grandezas à francesa, há q voltar a esparta :DDDDD

Anonymous said...

peço desculpa mas esta história irritou-me, por absurdo, os portugueses têm-se portado como autênticas crianças tolas e imaturas, gasto dinheiro e endividado a torto e a direito, como se a promessa de boa vida (25 de abril) significasse fim da vida regrada (q antes foi demasiado) e principio da tirania egocentrica(quero, posso e mando)

acabou-se a festa, toca a trabalhar e a libertar dos extras para o qual nunca tivemos capacidade de sustentar, mas q achavamos q mereciamos q eram inatos

não creio q haja crise, há é prudência e encarar a riqueza vinda da produção como o sustento da sociedade em vez de acções, dinheiro facil, negocios de feira, malabarismos finaceiros, empréstimos, enfim, os elixires do capitalismo q embaciaram os portugueses :D

Elipse said...

Tens de ver todos os lados da questão, mónica. Tens razão, claro que precisamos de alterar o nosso padrão de vida, mas estamos inseridos numa sociedade de cariz capitalista: se desistes de comprar as fábricas fecham.
É claro que se consome demais; as pessoas há 50 anos atrás não eram obesas, não se recorria às bandas gástricas...
Muita coisa tem de mudar mas são precisas mudanças estruturais; é toda uma filosofia económica que precisa de ser revista, e não creio que seja para esta geração.

Esta geração presumivelmente vai revoltar-se; não tardam as insurreições urbanas, já vistas em França e na Grécia. Vai vir mais fogo!

Elipse said...

e o "toca a trabalhar" é fácil de dizer, mas... tem de haver trabalho!
Sim podemos sempre pensar que a solução passa pelo retorno à agricultura, por exemplo, mas aposto que não querias isso para o teu filho (eu não queria para os meus).
Eu também não sei qual é a solução, olho para os vários exemplos, na História, tento saber o que foi feito e aceito que os Estados tenham de ter um papel mais dirigista de novo: mas depois olho para os Estados (que são pessoas) e... e... é o que se sabe e o que se vê!!!

Anonymous said...

acho que me entendeste. é isso tudo q dizes.
n me importava q o meu filho vivesse da agricultura, por acaso ele tem a sorte de ainda poder herdar um vinhito do porto, nada mau, se souber da arte senão estará dependente de outros e voltamos ao mm circulo vicioso, ganhar dinheiro da produção alheia, vulgo parasitismo. pois q se agarre a isso e cultive umas couves para a sopa. o problema é q os pais sonham sempre com filhos doutores, dão-lhes porta-lapis nike, carta+carro aos 18 anos, etc etc.

parece q estou a moralisar mas isto é sincero: n entendo como as pessoas se endividam, as pessas começaram a viver com valores negativos por futilidades. se um dia adoecem como é q fazem? n podendo ir trabalhar..não se deve amealhar para os tempos de crise?

antonio ganhão said...

As fábricas são como a vida, fecham sem aviso prévio. Desavergonhada é a morte que nos rouba. A morte é um patrão português.

CNS said...

Gostei muito deste teu retrato crú.

Um beijo

antonio ganhão said...

Pastor de palavras à espera de leitores que mas roubem. Os leitores são como lobos insaciáveis (espero eu).

addiragram said...

A história do nosso des-tempo, pouco mais que des-feito.

Claudia Sousa Dias said...

A tragédia dos nossos dias.

de todos os nossod dias.


csd

Fatyly said...

Histórias infelizes que farão história e ficarão na história.

Não quero viver outra guerra!!!!

K. said...

Um beijo.

Anonymous said...

Acaba-se o trabalho e com ele o dinheiro gasto em inutilidades.

Não se poupa aos elogios. Obrigada :))

Bom fim-de-semana
Beijo

Marta said...

Eu vim deixar-te um beijo revelado
maria heli igual a marta
que saudades.
volta.
eu já voltei ás tuas palavras em linha