Tuesday, August 12, 2008

Roteiro de uma viagem por outros mundos



Chega-se a um outro mundo.

Tem-se a consciência de estar verdadeiramente noutro continente, embora a pobreza não nos seja estranha e muito menos a ostentação dos privilegiados. Tem de tudo a Tunísia. Mas chega-se a um mundo diferente onde o calor é uma onda que nos bafeja e nos envolve: umas vezes deixa-nos o corpo sem acção; outras vezes atiça.
Tunis é um caos mas na avenida Bourguiba anda-se à vontade na azáfama do dia; melhor ainda na luminosidade da noite.
Cartago prende pelo azul do mar: um azul que nunca tinha visto, mesmo conhecendo já o Mediterrâneo. Encanto à chegada. Local de cruzamento de civilizações, com marcas de vários passados.
Sidi Bou Said é uma encosta cheia de azul nas janelas e nas portas. E de novo o mar e o cheiro a encanto. Chá de menta para refrescar, numa esplanada. E o assédio dos vendedores, o regateio até à exaustão. Os dinares tilintam no meio das pulseiras e dos brincos. Vem ver, vem ver!
As águas são transparentes em Hammamet e daqui para a frente toda a costa está pejada de turistas, de Sousse a Monastir. Divertem-se os europeus nas águas quentes e na movimentação estival.

Prosseguimos e entramos de novo no passado, em El Djem, onde um coliseu quase intacto nos confronta com mais algumas marcas da presença romana.
Ilha das sereias – Djerba – onde dois mundos convivem: o mundo árabe e o mundo judeu, a sinagoga e a mesquita. E a sedução da joalharia. E a paisagem.
Depois Gabes, a linha costeira, as indústrias, raras neste país de contrastes. E estamos a entrar na paisagem lunar de Matmata, povoação berbere com habitações trogloditas, escavadas na montanha, buracos frescos na secura árida da envolvência. E depois Kebili, a porta do deserto, a caminho de Tozeur, a região dos palmeirais. Deliciosa a frescura dos oásis, nas três alturas dos seus cultivos, das ervas de cheiro às palmeiras imponentes. Pelo meio os figos, as romãs…
Tozeur… onde deixei o coração.
De regresso à capital ainda se visitam as ruínas de Sbeltla onde se fotografam os capitéis, quase intactos, que envolvem o teatro romano; e depois Kairouan, a quarta cidade santa do Islão.
Cheira a especiarias e a couros e a perfumes no regresso à Medina de Tunis. Tudo brilha. O colorido enche os olhos. Regateiam-se os preços naquele ritual próprio e os vendedores insinuam-se com as mulheres ocidentais. É um jogo de sedução que se alimenta. Negócio à vista.
Trouxe uma mala de encantos. Meia dúzia de bugigangas e um torvelinho de emoções.
Tenho de voltar.





7 comments:

peciscas said...

Seja, então, muito bem regressada, com essa mala cheia de encantos e esse torvelinho de emoções que aqui nos vais desvendando, com a habitual qualidade narrativa.

E ficas muito bem com esses trajes.

mfc said...

Apetece lá ir!
A descrição é ... empolgante!
... e então escrita por ti!!

joaninha said...

Que azul tão bonito!
... senti-me a caminhar por lá... como se eu já estivera preparada para caminhadas...
Mas está tão bem descrita a tua visita que até o cheiro das especiarias pareceu envolver a minha leitura. Que estejas bem e reconstituida de todos os cansaços, é que é importante.
Um beijo amigo da isabel

Fatyly said...

Uma descrição fantástica...obrigado!

addiragram said...

O Norte de África "canta" assim! Quando visitei Marrocos, também pelo mês de Agosto, senti odores muito semelhantes. E vim também a "jurar" voltar lá. Até agora ainda não aconteceu.Uma bonita reportagem!

Anonymous said...

Sou Tunisino e fico contente por meu país poder "enfeitiçar" .
Se regressar tente visitar :Mednine , Tatouine (para ver os Ksars)e Ksar-ghilane.

Cecília said...

Fantástica descrição...É realmente um destino que parece estar na moda, depois da explosão turística de Marrocos.
Mas esperemos que não estrague o seu encanto natural. Eu também quero voltar...e vou em Setembro!!!